Traçar um planejamento no começo do ano não quer dizer necessariamente seguir com ele até o fim. Vale para o futebol e qualquer outra área. A diretoria do Ceará, ao contratar Gilmar Dal Pozzo, apostou em um bom trabalho que, como escrevi quando da contratação aqui neste espaço, não ocorria faz tempo. Mas era legítimo acreditar, tanto que ele foi contratado.

Apesar de considerar que a demissão foi precoce – apenas nove partidas depois – a chegada de Givanildo Oliveira deixa o elenco do Ceará sob o comando de um técnico que tem capacidade de melhorar o patamar do time atual e, sim, com os mesmos jogadores. Givanildo conhece futebol, tem uma estante cheia de títulos e está em boa fase, com recentes bons trabalhos.

O caso da saída de Dal Pozzo, entretanto, ainda está coberto de lacunas. O clube silenciou nas primeiras horas e não ia se manifestar. Os apelos dos próprios torcedores alvinegros, indignados e querendo explicações, não foram suficientes. Só com a repercussão nacional muito ruim das ameaças sofridas pelo então treinador, a decisão foi revertida e uma nota protocolar – de repúdio – foi divulgada.

O Ceará, entretanto, não explica a razão de não ter preparado o esquema de segurança adequado na chegada ao aeroporto. Não duvido que possa ter sido apenas um descuido sem má intenção, mas seria excelente explicar exatamente o que ocorreu. O clube também não deixa claro qual o tamanho do papel da ameaça da torcida na saída de Dal Pozzo, já que o treinador se manifestou com um longo e correto texto – onde citava até a tristeza que passou após o acidente com o avião da Chapecoense – garantindo seguir trabalhando no alvinegro. Esclarecer é relevante para o próprio clube e um gerenciamento de crise necessário, como a boa comunicação sugere.

Não por acaso, sabendo da enorme pressão que vai encontrar por resultados e bom futebol, Givanildo já tratou, logo na sua primeira declaração, de avisar que seu objetivo é caminhar junto com a torcida. Passado na casca do alho, quer ser o elo positivo entre a diretoria do clube e a arquibancada.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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