Há quem ache que fazer futebol de forma responsável e sem gerar dívidas é algo simples. O caso do Ceará nesta temporada é um exemplo evidente. Se de um lado a torcida (e boa parte da imprensa) pede reforços e exige investimentos caros pelo acesso para a Série A, o clube enfrenta o desafio de manter a responsabilidade econômica com a certeza da perda de receita em relação aos dois anos anteriores.

O faturamento do Ceará na temporada 2015 foi de R$ 29 milhões. Em 2016 chegou aos R$ 28 milhões. Foram os dois melhores anos da história do clube no quesito financeiro, situação que há poucos anos atrás era impensável, já que a desorganização e falta de planejamento eram regras.

A projeção da receita para 2017 é bem menor, tanto que se o clube conseguir chegar perto dos R$ 20 milhões de faturamento total já será considerado um número positivo. Neste ano em relação ao ano passado a perda será relevante nas cotas e bilheteria de Copa do Nordeste (o time não disputou por ter ficado em quinto lugar no estadual 2016) e Copa do Brasil (foi eliminado na primeira fase); venda de direitos federativos de jogadores e aporte de luvas do Esporte Interativo pelos direitos de TV fechada a partir de 2019. Esses quatro itens somados representaram cerca de R$ 10 milhões de receita em 2016 (basta observas no balanço oficial do clube, divulgado anualmente).

Diante deste cenário e com despesas que não diminuíram consideravelmente de um ano para o outro (giram em torno de R$ 21 milhões por ano e, obviamente, não são apenas com folha de pagamento de jogadores e demais impostos) o Ceará tem trabalhado com déficit, mesmo com a chegada do patrocínio da Caixa. Salários não estão atrasando, mas o exercício financeiro tem sido enorme, inclusive porque as receitas com arrecadação de jogos (bilheteria) e com sócio-torcedor também estão em queda.

A atual diretoria, ainda que pressionada, sabe que não pode fazer loucura financeira. E nem deve. A história que “a torcida paga” ou que o “céu é o limite” não cola mais. Para quem não lembra de como era o clube em meados dos anos 2000 para trás, vale a reflexão. Foi muito difícil para o Ceará pagar dívidas de todo tipo (inclusive as trabalhistas), comprar Centro de Treinamento, fazer contratos longos com atletas, ter departamento médico e fisiológico competente e virar referência no Nordeste como bom pagador. Não faz sentido, friamente, colocar tudo a perder.

Toda essa conjuntura, entretanto, não exime o clube de tentar fazer um time melhor para a disputa da Série B. É preciso criatividade e, sobretudo, conhecimento para contratar atletas que não sejam caros mas tenham custo benefício importante. Fácil não é, mas é o caminho. E a torcida certamente vai – e deve – cobrar.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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