Lisca comandou o Ceará em reação histórica no Brasileirão. Foto: Júlio Caesar/O POVO.

O que parecia impossível aconteceu: com o empate em 2 a 2 contra o Atlético-PR e a combinação de outros resultados, o último deles o empate em 0 a 0 entre São Paulo e Sport, nesta segunda-feira, 26, o Ceará garantiu matematicamente sua permanência na Série A do Campeonato Brasileiro. E com uma rodada de antecedência. Algo que parecia impossível, mas se tornou realidade após a chegada de Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, o Lisca, inegavelmente o grande personagem dessa campanha, que o faz escrever de vez seu nome na história do Alvinegro e também alcançar novo patamar como treinador de futebol.

Quando Lisca chegou ao Ceará (em uma aposta pessoal do presidente Robinson de Castro, que bancou sua contratação mesmo sob desaprovação de parte dos torcedores) o time tinha somente 3 pontos em 27 disputados. 11,1% de aproveitamento, com seis derrotas, três empates e nenhuma vitória sequer em nove jogos. Hoje, são 43 pontos em 37 rodadas, sendo 10 vitórias e aproveitamento que subiu para 38,7%, bem próximo de assegurar vaga na Copa Sul-Americana 2019 (para isso, basta uma vitória sobre o Vasco, no domingo).

O novo ‘milagre’ feito pelo gaúcho de 46 anos, que em 2015 já havia salvado o Ceará do rebaixamento à Série C, eleva o patamar de Lisca como treinador de futebol. Agora não é visto mais pelo mercado só como um técnico de “tiro-curto”, que apaga incêndios. Lisca se mostrou capaz de entregar resultado em maior período, incluindo a realização de uma pré-temporada (durante a Copa o Mundo).

Conhecido pelo estilo extremamente motivador e por ser ótimo de vestiário, com diálogo vibrante e boa gestão de grupo, Lisca de fato teve papel decisivo para a recuperação da confiança do elenco alvinegro, que era terrível. Mas atribuir a incrível reação do time no Brasileirão ao “treinador motivador” não é suficiente. Seu trabalho, que tem muita dedicação e estudo, vai bem além disso.

Lisca trouxe organização e uma identidade a um time que era perdido. O Ceará das nove primeiras rodadas é bem diferente do que atuou na última partida, contra o Atlético-PR. Em tudo. Durante o período, mostrou solidez defensiva, organização tática, evolução física e inteligência emocional.

O crescimento veio junto de reforços importantes, como Juninho Quixadá, Leandro Carvalho, Samuel Xavier e Calyson, que foram personagens importantes nesta caminhada. Mas a maioria do elenco já estava em Porangabuçu no começo do campeonato, como os decisivos Everson, Luiz Otávio, Tiago Alves, Richardson e Arthur.

A aposta em jovens e implementação de um modelo de jogo consciente foram também decisivos. O Ceará de Lisca sempre soube de suas limitações técnicas, mas justamente por isso passou a ter grande entrega coletiva e intensidade física para enfrentar os oponentes de igual pra igual, se preocupando antes em marcar e não dar espaços aos adversários para depois atacar, sobretudo com transições rápidas e objetivas.

Alinhando isso à ideia tática do treinador, que se mostrou moderna e eficiente, atuando quase sempre em um 4-2-3-1, o Ceará virou um time competitivo.

O trabalho de Lisca com o Ceará em 2018 ficará marcado para sempre na história do clube. Assim como o que fez em 2015. Como canta a música, ele pode até ter saído do hospício, mas de doido não tem nada.

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André Almeida

É jornalista, repórter do Jornal O POVO e comentarista do Futebol do Povo. Análise baseada em fatos, estatísticas, scouts, números, esquemas e comportamentos táticos. Futebol é isso.

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