Este ano, as provas do Enem serão aplicas em dois fins de semana seguidos: 5 e 12 de novembro. Foto: ijeab/Freepik

Na edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a prova de redação será realizada no primeiro dia (5 de novembro). O candidato vai encontrar três textos motivadores sobre um problema de âmbito social, cultural ou político presente na atualidade.

Até a edição do ano passado, a prova poderia apresentar também um problema ambiental, contudo, de acordo com o edital de 2017, não existe mais essa possibilidade. Já quanto à estrutura do texto, nada mudou. É importante que a dissertação ocupe, no máximo, 30 linhas e apresente coesão, coerência, além de pontuação, ortografia e concordância utilizadas de maneira correta.

Com base numa análise técnica a respeito das informações que o Enem oferece, a coordenadora de redação do Stoodi (plataforma de educação a distância com foco em Enem e pré-vestibular), Marina Sestito, listou dez palpites para o tema deste ano. Confira:

1) Intolerância à população LGBT brasileira

O que você precisa saber:
Neste aspecto, o Brasil é o país mais violento do mundo. No ano passado, 127 travestis e transexuais foram assassinados, o que corresponde a uma morte a cada três dias. Enquanto a expectativa de vida geral da população é de 75 anos, a dessa população é de 35 anos.

Dicas de estudo:
Pesquise quais são os gêneros existentes, além de dados, estudos e reportagens que retratem os desafios diários enfrentados pela população LGBT. Troque de sapato com essa comunidade e imagine: “Como você se sentiria sendo discriminado por ser quem você é?”.

Como estruturar o texto:
Disserte sobre os eventuais motivos, mesmo que eles não sejam justificáveis, que sustentam a intolerância. Proponha medidas que poderiam ser tomadas para impedir tal violência.

2) Mobilidade urbana

O que você precisa saber:
Estima-se que 65 milhões de brasileiros enfrentam, diariamente, dificuldade para se locomover. Esse é o reflexo de políticas de urbanização deficitárias. Podemos considerar essa questão cultural (porque envolve um hábito), social (porque dificulta o acesso à cidade) e política (resolvê-la depende de medidas do poder público).

Dicas de estudo:
Pesquise números relacionados à quantidade de carros per capita, entenda quais políticas públicas poderiam ser implementadas, busque cases de sucesso relacionados ao tema.

Como estruturar o texto:
Proponha medidas que poderiam ser tomadas para aliviar este problema. Explique como o Estado, a iniciativa privada e as pessoas podem contribuir para resolvê-lo.

3) Acessibilidade no Brasil

O que você precisa saber:
Segundo um levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 650 milhões de pessoas, em todo o planeta, possuem algum tipo de deficiência. Ainda assim, a acessibilidade do Brasil é escassa nos mais diversos âmbitos.

Dicas de estudo:
Analise qual o nível de acessibilidade na sua cidade. Pesquise dados e leis sobre o assunto, reflita a respeito das dificuldades vividas pelas pessoas que possuem algum tipo de deficiência no Brasil.

Como estruturar o texto:
Exponha medidas, tanto em esfera pública, quanto na privada: transportes adaptados – com rampas e sinais sonoros para deficientes visuais; calçadas regulares – com largura suficiente para passar uma cadeira de rodas; escolas com aulas em Libras, provas em braile; rampas de acesso a andares, banheiros públicos com cabine adaptada, bebedouros, geladeiras, lousas/quadros ou outros objetos.

4) Analfabetismo funcional no Brasil

O que você precisa saber:
O analfabeto funcional é uma pessoa que tem a habilidade para ler e escrever, porém ela não consegue extrair significado e interpretar os textos ou realizar operações matemáticas. Estudo divulgado em 2016 pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa indica que apenas 8% dos brasileiros apresentam condições de compreender e se expressar com clareza.

Dicas de estudo:
Busque números sobre o tema, reflita se o analfabeto funcional está incluído socialmente ou não e analise o quanto uma pessoa que não sabe ler fica à margem da sociedade.

Dicas para estruturar o texto:
Elenque medidas públicas que podem ser tomadas, tanto para melhorar a educação básica quanto para diminuir o analfabetismo funcional.

5) Desafios da inclusão digital no Brasil

O que você precisa saber:
O Brasil possui locais que não contam com o acesso à internet. A última edição da pesquisa TIC Domicílios, divulgada no final do ano passado com dados de 2015, mostra que apenas 58% dos brasileiros, um pouco mais do que a metade da população, usa a internet. O número corresponde a 102 milhões de internautas, 5% superior ao levantamento anterior, de 2014.

Isso significa que 42% da população não conta com a internet. Os dados são do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC).

Dicas de estudo:
Procure dados estatísticos que retratem este cenário, pense sobre as oportunidades que o acesso à internet possibilita e os prejuízos que sua falta provoca.

Como estruturar o texto:
Procure saber por que precisamos da inclusão digital e pergunte-se por que ainda não há inclusão digital no Brasil. Proponha soluções: se não é possível possibilitar o acesso a todos, precisam existir medidas paliativas.

6) Desafios da saúde pública no Brasil

O que você precisa saber:
Um dos grandes problemas da saúde pública no Brasil é o baixo índice de acesso ainda planos assistenciais e a consequente sobrecarga provocada no SUS. Em cerca de 20 anos, 42 milhões de brasileiros terão mais de 60 anos, 90% deles sem plano de saúde.

De acordo com dados do Instituto Coalizão Saúde, os gastos públicos com saúde atingirão 25% do PIB nacional em 2035, praticamente inviabilizando a existência do SUS.

Dicas de estudo:
Procure estudos e reportagens que ilustrem essa situação. Além disso, confira como o direito à vida ou à saúde de qualidade estão previstos na Constituição Federal.

Como estruturar o texto:
Tenha em mente a premissa que este é um problema que existe no Brasil e que é necessário propor soluções viáveis, tanto oriundas da esfera pública quanto da privada.

Podemos considerar que o desinteresse dos governantes, a falta de investimento, a má gestão dos recursos e a ausência de uma cultura sanitarista mais desenvolvida são alguns fatores de causa para esse problema.

Como consequências deste cenário, podemos destacar: hospitais superlotados e com infraestrutura precária; filas enormes para transplantes e tratamentos complexos; e o aumento da mortalidade dos doentes.

7) Intolerância à diversidade de organização familiar no Brasil

O que você precisa saber:
De acordo com o IBGE, a formação clássica “casal com filhos” está presente em 49,9% das residências brasileiras. Isso significa que existem diversas outras formas de organização familiar, como família uniparental, casais homoafetivos com filhos ou família composta por parentes, como os avós.

Dicas para o estudo:
Procure saber quais são os tipos de organização familiar, pesquise sobre os direitos de cada tipo de família, acompanhe reportagens sobre o assunto e consulte a legislação brasileira para conferir como essa questão é descrita.

Como estruturar o texto:
Disserte sobre como pode ser possível modificar, culturalmente, este pensamento intolerante e tornar mais visíveis as diferentes formas de composição familiar.

8) Aumento no índice de sobrepeso no Brasil

O que você precisa saber:
Um levantamento do Ministério da Saúde aponta que, nos últimos dez anos, a obesidade cresceu 60% no Brasil. De cada cinco brasileiros, um está acima do peso.

A prevalência da doença saltou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, no ano passado. Vale lembrar que há uma distinção entre os conceitos de sobrepeso (aumento de peso corporal) e de obesidade (mais de 20% do peso total da pessoa ser constituído de gordura).

Dicas de estudo:
Assista a filmes que abordam o tema (sugestão: “Muito além do peso”). Observe seus hábitos alimentares, confira dados, pesquisas e notícias relacionadas.

Como estruturar o texto:
É preciso deixar claro que não há nada de errado em um indivíduo ter o corpo que quiser. O que configura um problema de saúde pública é o aumento da obesidade da população como um todo.

Apresente medidas práticas para estruturar o combate à obesidade, como incentivos fiscais para uma alimentação saudável e acesso a centros esportivos ou academias abertas.

9) Desafios da população refugiada no Brasil

O que você precisa saber:
De acordo com o Ministério da Justiça, existem 9.552 refugiados reconhecidos no Brasil. Em 2016, as nacionalidades que mais demandaram solicitações de refúgio aprovadas pelo Brasil foram: Venezuela (4.434), Cuba (1.370 ), Angola (1.353), Haiti (646), Síria (391) e República Democrática do Congo (382).

Dicas de estudo:
Para discutir esse tema, precisamos entender o que é um refugiado, por que as pessoas estão vindo para o Brasil e por que existiria algum tipo de desafio nessa questão. Procure se informar a respeito do processo de se aceitar ou não um refugiado. Pesquise também sobre o conceito de xenofobia (desconfiança, temor ou antipatia de outros povos).

Como estruturar o texto:
Discorra sobre a necessidade de haver políticas públicas para dar aos refugiados estrutura, moradia, formação profissional e acesso ao mercado de trabalho, por exemplo.

10) Bullying na sociedade brasileira

O que você precisa saber:
O bullying é um ato agressivo praticado contra alguém, por um indivíduo ou um grupo de pessoas, com ameaça, intimidação e/ou violência física e verbal. Ele pode acontecer em diversos âmbitos, como o escolar, por exemplo.

De cada dez estudantes brasileiros, um é vítima frequente de bullying. Os números destacados foram obtidos em 2015, pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). O levantamento indica também que 17,5% dos estudantes relataram sofrer os abusos “uma vez por mês”.

Dicas de estudo:
Pesquise quais são os possíveis tipos de bullying, estude casos famosos retratados pela mídia, busque compreender a real dimensão e impactos sociais deste problema.

Dicas para estruturar o texto:
Apresente a questão como um problema que precisa ser encarado com seriedade e que necessita de medidas práticas. Mostre que o bullying pode gerar distúrbios emocionais progressivos, depressão e até suicídio.

Preparação
Desde 2015 participando do Enem, a estudante Gabriela Gabriel, 20, está em busca de uma vaga para o curso de Direito. Ela, que é cearense, mas vive em Salvador atualmente, acredita que o tema da redação será “um dos que já fiz durante o ano ou um que já ouvi falar ou debati durante as aulas de monitoria”, afirma.

A estudante conta que se prepara para a redação assistindo a telejornais e lendo notícias e dados na internet. “Geralmente faço de duas a três redações por semana e entrego para às minhas duas corretoras avaliarem. Assim, tenho sempre duas opiniões diferentes sobre o mesmo tema; se [houver] um erro muito grande, tento melhorar refazendo-a”, detalha Gabriela.

Além disso, ela revela que tem uma técnica: “sempre tentar colocar uma referência histórica sobre o assunto, já que é o meu ponto forte e ter algumas frases já prontas por mim e ir colocando em todas as redações que faço. Além de ser mais fácil, dá-me uma sensação de segurança para ir terminando-a da melhor forma possível”, explica.

Para ela, as principais dificuldades na hora de escrever a redação são o nervosismo e a ansiedade. “Por mais que você saiba articular tudo que quer botar na redação, manter a calma e controlar o nervosismo é o mais importante”, finaliza Gabriela.

Reta final
De acordo com Rúbia Queiroz, professora de português pelo Governo do Estado do Ceará, para quem vem se preparando para a prova agora “não há muito a se fazer, quem estudou durante todo o ano, consequentemente, se sairá bem. Agora é hora de tranquilizar a mente, dormir o suficiente e tentar segurar a ansiedade”, orienta.

Já para os que não puderam estudar, a professora diz que nessa reta final o ideal é “correr atrás do prejuízo, buscar guias com conteúdos e tentar revisar”, finaliza.

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Elves Rabelo

Jornalista, pós-graduado em Assessoria de Comunicação e, atualmente, atua em Comunicação Institucional. . Sugestões de pauta: elvesarabelo@gmail.com

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