Oi, mamães!

Hoje temos aqui uma entrevista com o médico Fábio Eugênio, ginecologista, especialista em Reprodução Humana e com mestrado em Tocoginecologia. Dr. Fábio é também diretor Clínico do Centro de Medicina Reprodutiva BIOS e trabalha há 15 anos na especialidade.

Ufa! Tanta coisa, heim? Pois é, o Dr. Fábio foi super acessível e me esclareceu umas coisinhas sobre a reprodução humana, seus vários métodos e explicou direitinho tudo sobre a ética e as regras que devem ser seguidas nesse procedimento, o que foi tema da novela Fina Estampa (TV Globo). A polêmica envolveu as personagens Esther (Julia Lemertz), Daniele (Renata Sorrah), Bia (Monique Alfradique).

Informações especiais para as mamães que estão tentando engravidar e querem saber tudo sobre esses métodos e tratamentos

1. O que é reprodução assistida?
É a área da medicina que estuda o sistema reprodutivo da mulher e do homem, avaliando todos os fatores de fertilidade e subfertilidade, e determinando o melhor tratamento para que o casal consiga a gravidez. Engloba desde tratamentos clínicos mais simples, como a indução de ovulação; tratamentos cirúrgicos, como a videolaparoscopia e cirurgias tubárias; até técnicas de maior especialização como a inseminação intra-uterina e a fertilização in-vitro (FIV).

2. O Sr. poderia explicar cada uma das técnicas e métodos de reprodução assistida? Para que as leitoras que querem engravidar possam se inteirar mais do assunto?

Os tratamentos mais utilizados:
A. VIDEOLAPAROSCOPIA: cirurgia pélvica que objetiva tratar endometriose, remover aderências, liberar obstruções tubárias, e, no caso de mulheres com laqueadura tubária prévia, fazer a reversão da laqueadura (recanalização tubária)

B. INDUÇÃO DE OVULAÇÃO: tratamento dos distúrbios ovulatórios da mulher, através de medicações, para promover a ovulação efetiva, orientando ao casal o melhor período das relações sexuais naquele ciclo para obter gravidez. Utilizado em casos de Síndrome dos Ovários Policísticos, ou como tratamento inicial em casos mais simples de subfertilidade.

C. INSEMINAÇÃO INTRA-UTERINA: consiste na estimulação ovariana controlada para amadurecimento de 2 a 4 óvulos. Quando estão maduros, induzimos sua liberação para as trompas. Neste mesmo dia coletamos uma amostra de sêmen, fazemos um preparo laboratorial para melhorar sua qualidade, e colocamos este sêmen preparado no interior do útero da mulher. Utilizado em casos de falha da indução de ovulação simples, fatores cervicais (colo do útero), endometriose leve a moderada, alterações de espermograma leve a moderada, ou subfertilidade sem causa aparente.

D. FERTILIZAÇÃO in-VITRO : estimulação ovariana controlada, com captura de óvulos maduros diretamente dos ovários. Estes óvulos são fertilizados no laboratório com espermatozóides do cônjuge. Acompanhamos a formação e desenvolvimento dos embriões durante, em média, 3 dias. Então fazemos a seleção dos melhores, e transferência dos embriões ao útero. É o método mais efetivo para conseguir a gravidez, podendo ser utilizado em qualquer situação de subfertilidade, e quando os métodos mais simples (citados acima) não tiveram sucesso.

3. Com quanto tempo tentando para engravidar e não conseguindo, o casal deve procurar tratamento?
Em casais sem história de alterações ginecológicas ou masculinas, em que a mulher tenha ciclos regulares e até 35 anos de idade, o casal pode aguardar até 1 ano antes de consultar um especialista.
Se a mulher está com ciclos menstruais regulares, porém tem mais de 35 anos, ou já existe história de doenças que possam comprometer a fertilidade feminina (endometriose, miomas, síndrome de ovário policístico) ou masculina (varicocele, traumas testiculares), aguardar no máximo 6 meses antes de fazer avaliação com o especialista.
Se a mulher tem ciclos muito irregulares, ou existe história de doença que tenham grande impacto na fertilidade, deve procurar imediatamente o especialista quando desejar engravidar.

4. Quais problemas biológicos do homem ou da mulher, podem fazer com que não possam ter filhos?
Os mais comuns são:
Na mulher: distúrbios ovulatórios, doenças tubárias (aderências e obstruções), endometriose, laqueadura tubária prévia.
No homem: varicocele, orquite viral (infecção nos testículos), atrofia testicular, alterações inespecíficas da produção de espermatozóides, além da vasectomia prévia.
Devemos alertar que em 15 a 20% dos casos os exames, tanto femininos como masculinos, são absolutamente normais, e mesmo assim o casal não consegue gravidez. São os casos de subfertilidade sem causa aparente.

5. Qual a diferenças entre a fertilização in vitro e a inseminação artificial?
A inseminação artificial é um tratamento mais simples, que visa a sincronizar e facilitar o encontro dos óvulos maduros com os espermatozóides capacitados (preparados no laboratório). Neste caso, estimulamos os ovários e colocamos o sêmen preparado no útero, mas todo o processo de fertilização e formação dos embriões ocorre dentro do próprio organismo feminino (trompas). Objetiva repor ao casal a chance de gravidez que deveriam estar tendo, simulando a possibilidade natural de gravidez por ciclo. Portanto oferece chances de gravidez que variam de 10 a 25% por tentativa, a depender da idade da mulher, da resposta ovariana e da qualidade final do sêmen.
A fertilização in-vitro (FIV) é um método mais especializado. O processo de formação dos embriões é realizado no laboratório, sobre rígido controle de condições ambientais e qualidade, após a coleta dos óvulos maduros dos ovários e coleta do sêmen. Os embriões formados são cultivados, acompanhados e selecionados. Os melhores são transferidos ao útero. Os excedentes são congelados (vitrificados) para implantação posterior. É o método que oferece as melhores chances de gravidez. A depender da idade da mulher, e da qualidade dos embriões formados, as chances podem chegar a 60-70% por tentativa.

6. Por que nos casos das pessoas que fazem tratamento há uma maior probabilidade de nascerem bebês múltiplos?
Porque ocorre fertilização de mais de um óvulo, devido à estimulação ovariana com medicações. Assim muitas vezes há formação de mais de um embrião.
Por isso, em cerca de 20 a 25% dos casos de tratamentos de reprodução humana, a gravidez pode ser de mais de um bebê, quase sempre de gêmeos. Para efeito de comparação, em uma situação de gravidez natural espontânea, esta chance é de 1 a 1,5%.

7. Por que, em alguns casos, é comum a fecundação não ocorrer?
Isto se deve a fatores do próprio óvulo, dos espermatozóides, ou do trato reprodutivo, principalmente as trompas. A gravidez humana é um processo extremamente complexo.
Devemos lembrar que para que ocorra a gravidez natural, deve haver uma perfeita sequência de eventos, cada um fundamental e dependentes entre si, que precisam ocorrer com harmonia e exatidão.

Havendo ovulação efetiva, é necessário que o óvulo esteja maduro, de boa qualidade metabólica, e integridade genética. A relação sexual deve ocorrer no período fértil e prover espermatozóides suficientes para que alguns consigam nadar por todo o trato reprodutivo da mulher (colo do útero, endométrio e trompas) até chegar ao óvulo. Então, é necessário que um espermatozóide, também normal geneticamente, consiga penetrar o óvulo e fecundá-lo.

A partir daí começa o fantástico milagre da vida, que também é enormemente complexo. O conjunto de cromossomos do óvulo e do espermatozóide precisam se alinhar de maneira perfeita no centro da célula, para que haja a formação do zigoto (primeira célula), duplicação deste material genético, e início das divisões celulares (clivagem). Basta lembrar que se apenas um cromossomo (dos 46 que temos no total) migrar de maneira errada na formação do zigoto todo o processo fica comprometido e não ocorre a formação do embrião, ou forma-se um embrião geneticamente anormal que quase sempre é eliminado pela natureza.

Pensa que acabou! ? De maneira nenhuma! Este embrião formado deve caminhar por toda a trompa da mulher até (em média 3 dias após) chegar ao útero e se colocar sobre o endométrio (revestimento uterino). A partir daí começa um intenso processo de troca de informações químicas entre o embrião e o endométrio para que haja a implantação. Se o endométrio não estiver bem preparado, ou (em sentido figurado) o embrião não souber “negociar” sua implantação, então nada feito – não ocorre a gravidez, e o endométrio descama sob a forma de menstruação.
Havendo a implantação, se inicia uma nova “luta”. O embrião precisa ser bem aceito pelo organismo feminino e ludibriar seu sistema imunológico, para que os anticorpos e células de defesa maternos não o reconheçam como corpo estranho e tentem destruí-lo. Vejam como a vida de embrião não é nada fácil…

Com todas estas etapas vencidas, a gravidez está estabelecida, e agora, a futura mãe já sabendo do seu novo estado, deve fazer um pré-natal bem acompanhado para permitir que esta nova vida se desenvolva com saúde e em toda sua potencialidade.

8. A idade pode ser a maior culpada da infertilização de uma pessoa?
A idade é, isoladamente, um dos principais fatores no sucesso da reprodução humana. Principalmente em relação à idade da mulher. Isto ocorre porque a mulher nasce com um conjunto de óvulos em seus ovários, e, ao longo da vida, não produz mais nenhum óvulo novo.
Por isso, quanto mais nova a mulher, mais fértil ela é. Com o passar dos anos, diminuem a quantidade e qualidade dos óvulos. Isto leva tanto a uma dificuldade maior de obter gravidez, como a um maior risco de alterações genéticas nos embriões (a grande maioria destas alterações termina em abortos espontâneos).

A orientação geral é que a mulher tenha sua primeira gravidez até os 30 anos, e se não for possível, até no máximo 35 anos. Após esta idade, as chances vão caindo mais rapidamente.

Porém, hoje em dia vemos cada vez mais frequentemente a mulher adiar sua primeira gravidez por vários fatores. Elas querem concluir seus estudos, e, não raro, fazer cursos de especialização; conseguir uma boa posição no mercado de trabalho; construir um relacionamento amoroso estável; além de outras coisas. Quando percebem, o tempo passou, e o ovário não para, a perda de óvulos é contínua. É importante os casais estarem atentos para estes fatores.

9. Quais as regras a serem seguidas por médicos e doadores no processo de reprodução assistida?
A doação de material biológico reprodutivo é realizada há muito tempo, e sempre normatizada pelas resoluções do Conselho Federal de Medicina.

Esta doação pode ser de sêmen, óvulos ou embriões.
A doação de sêmen é muito antiga. Existem banco de sêmen heterólogos que armazenam as amostras congeladas, e distribuem para clínicas em todo o Brasil. É garantido o anonimato dos doadores. Os casais recorrem ao sêmen de doador quando não há qualquer possibilidade de encontrar sêmen no cônjuge (azoospermia completa, sem produção testicular)).

A doação de óvulos também é muito utilizada. As receptoras são pacientes cuja reserva de óvulos já se esgotou, seja por menopausa, seja por cirurgia de retirada dos ovários, ou seja por tratamentos quimioterápicos que destruiram sua população de óvulos. As doadoras são pacientes até 35 anos, que estão fazendo o tratamento de fertilização in-vitro e que, na sua estimulação ovariana, produzem um número elevado de óvulos, geralmente acima de 15. Voluntariamente, elas se propões a doar parte destes seus óvulos, que então são destinados a outras pacientes (receptoras) que tenham características físicas semelhantes às da doadora (a equipe médica realiza este pareamento). É FUNDAMENTAL e OBRIGATÓRIO que haja anonimato entre as partes do processo.

A doação de embriões que estejam congelados nas clínicas pode ser realizado quando o casal não deseja mais este embrião. Esta doação pode ser realizada para outro casal (também de forma anônima), ou para pesquisas com células-tronco em centros reconhecidos pelo governo federal e ANVISA.

Portanto, em qualquer modalidade de doação, seja de sêmen, óvulo ou embrião, o Conselho Federal de Medicina normatiza que haja o anonimato entre as partes. Além disso, os médicos e funcionários das clínicas não podem participar como doadores ou receptores naquela clínica. E, por fim, não pode haver qualquer forma de recompensa financeira pela doação, pois tal configuraria comercialização de órgãos ou tecidos.

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Dr. Fábio Eugênio

Para saber mais, olha o site do Dr. Fábio: www.medicinareprodutiva.com.br

E aí? Gostaram?

About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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