Por Sofia Bedê – fonoaudióloga e colunista do iMãe.

O seu bebê não fala português? Ah, entendi. Ele aprende português e francês, certo. Não vai confundir a cabecinha dele? Pra que saber francês agora… nem vai usar. Eu escuto esse discurso de tempos em tempos. Assim como algumas pessoas me perguntam se expor seu filho a uma segunda língua pode prejudicar seu desenvolvimento verbal. Acredite, você irá escutar opiniões assim do seu vizinho, da atendente de loja, da sua sogra, de uma amiga e até de estranhos no meio da rua! E a melhor forma de lidar com essas situações é conhecer os fatos, derrubar os mitos e defender sua posição. Eis a minha: “é excelente para o desenvolvimento da criança a exposição permanente de uma outra língua, inclusive menores de 1 ano”.

Foto: Guia Infantil.com

Foto: Guia Infantil.com


Aqui seguem os mitos mais comuns que surgem sobre o bilinguismo:
1. “Aprender mais de uma língua ao mesmo tempo confundirá seu filho”.

Esse mito é mais comum em países monolíngues, e está mais ligado a questões políticas do que a científicas propriamente ditas. Parece tudo uma grande desculpa para não “abrirmos os horizontes” da população desde tenra idade, já que sabemos a liberdade linguística que dá ao irmos a outros países. Ao contrário do que se pode pensar, décadas de pesquisas já demonstram vantagens significantes em ser bilíngue. Ninguém sabe da experiência de milhões de famílias pelo mundo onde o bilinguismo (ou multi) é a regra, não a exceção? Só pra lembrar: Canadá, Bélgica e Suíça.

2. “Seu filho irá trocar os idiomas.”
É bem verdade que uma mistura de palavras poderá ocorrer. Temporariamente, acrescento. Enquanto a criança constrói seu vocabulário em cada idioma, as confusões automaticamente desaparecem. Quantas crianças monolíngues corrigem com o tempo seus “erros” de fala após aprender a forma correta? Um bom exemplo é o uso do “eu” cujo pronome é usado inicialmente com o nome própria da criança, como em “Bruna quer”, quando na verdade ela quer dizer “eu quero”. O processo funciona para os dois idiomas e as regras gramaticais irão ser estabelecidas conforme a exposição da língua e da maturação neuropsicológica.

3. Por que começar tão cedo? Mais tarde seu filho vai aprender outra língua no tempo certo.”
Bem, para aqueles que acham que aprender mais de uma língua é um fardo pesado demais para uma criança pequena, eu lhes digo que não é bem assim. Na verdade, o cérebro do bebê está ávido por aprendizagem, e seus neurônios anseiam por novas conexões! Estudos indicam que para a criança ser um bilíngue ativo é preciso uma exposição da outra língua durante as primeiras horas da manhã, logo após acordar. No começo, a criança terá que escutar mais e interagir menos, até que realmente consiga entender por completo. A não ser que seja um palavrão, basta que você diga apenas uma vez para ela nunca mais esquecer…

Acho que a maioria de nós concordará agora que falar mais de uma língua é uma coisa boa e que seu multilíngue-filho estará um passo a frente na escola. E junto com outra língua pode vir também o aprendizado de outra cultura e o respeito a outros povos.

Finalmente, se você continua achando que aprender mais de uma língua ao mesmo tempo não funciona, então eu pergunto: você acha que o cérebro de Alberto Einstein sofreu horrores com a exposição tanto da língua alemã quanto da italiana? E olha que ele só começou a falar com 3 anos de idade!

Não existem desvantagens nesse sistema, então? O bilinguismo causa um atraso no desenvolvimento da fala ou não? Bem, para responder com mais profundidade essas questões, nos encontraremos na parte 2 desse assunto tão interessante…

Aguardem!

Tchau tchau, bye bye, au revoir!

***

Sofia é fonoaudióloga, especialista em voz, e atende em seu escritório colaborativo MOBILE COWORKING
Mais informações: http://www.mobilecwk.com.br/home.html
Contato: (85) 9900 0042

CONTINUAÇÃO: Crianças bilíngues – Parte II

About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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