O tema de hoje da coluna Mamãe é psicóloga, da Raisa Arruda, fala sobre a morte e como devemos conversar com as crianças sobre o assunto. O tema foi um pedido meu, afinal a gente sabe que nossos filhos já ouviram falar em morte. No meu caso a Laís tem contato, pois eu perdi minha mãe quando eu tinha 12 anos e ela sempre estranhou não conhecer aquela pessoa das fotos pela minha casa e sempre pergunta porque o pai dela tem mãe e a mamãe não tem. A morte está nos livros infantis, nos filmes O Rei Leão, Frozen etc), está naquele bichinho ou na florzinha que murchou. Enfim, eles têm contato desde cedo e é difícil, mas não há problema em falar sobre o assunto.

Então vamos lá!

Por que é tão difícil conversar com criança sobre a morte? 
Por Raisa Arruda

Falar sobre a morte, sobre perdas e luto nem sempre é coisa fácil, na nossa cultura isso é tão difícil de abordar que até pra escrever a respeito passei horas rodeando as palavras sem encontrar a maneira ideal de começar, até me dar o estalo de que o primeiro aspecto e mais importante é que fazer rodeios não levam a lugar nenhum; se é assim para um adulto, então quando se trata de falar disso para uma criança costumamos florear ainda mais.

Vilma, a mulher do cartunista Ziraldo e avó de Nina (que tinha 7 anos na época), morreu em 2000. Dois anos depois, a história dela com os netos se transformou em Menina Nina, Duas Razões para Não Chorar (Ed. Melhoramentos).

Vilma, a mulher do cartunista Ziraldo e avó de Nina (que tinha 7 anos na época), morreu em 2000. Dois anos depois, a história dela com os netos se transformou em Menina Nina, Duas Razões para Não Chorar (Ed. Melhoramentos). Ilustração: Ziraldo.

A morte está sempre presente, enquanto estivermos vivos, mas existe uma tendência de ocultar e negar que há um fim. Antes de falar sobre isso com as crianças precisamos avaliar nossa postura em relação às perdas, principalmente em relação à morte, para poder conversar com a criança de forma honesta, e de acordo com os valores religiosos e familiares. Permitir que haja uma lacuna sem explicação para a criança faz com que ela tenha que criar sua própria teoria em relação à esta perda ou à falta, e nem sempre a teoria que a criança cria para suprir a falta de explicação é saudável, pois ela não possuí atributos de realidade e experiência suficiente para dar conta da realidade que se mostra, por exemplo, para compreender que a morte é a falta para sempre de alguém, a criança (antes dos oito anos, mais ou menos) não consegue ter dimensão do que seria o para sempre.

Falar sobre a morte com a criança é importante que essa fala seja feita de maneira concreta, e objetiva, explicar o falecimento de um avô, por exemplo, pode-se falar que seu corpo já estava velhinho, e parou de funcionar; deixar claro que a pessoa não vai voltar é importante, pois a criança vai esperar, e pautar a conversa numa mentira para amenizar o sofrimento, vai alimentar o sofrimento da espera.

Quando a família possui alguma religião que tenha uma explicação para a morte, quem for dar a explicação para criança tem que ter em mente que ela vai levar para o plano da realidade, então dizer que algum ente querido foi para o céu, mas na verdade você está se referindo à alma, essência, e não ao corpo, fica confuso para ela, e pode levar à criação de planos de tentar chegar à este lugar em que o parente se encontra, ou questões de se ele está lá, porque ele não vem aqui? À medida em que ela amadurecer, e sua capacidade de abstração for aprimorada com as experiências que ela vai adquirir com o tempo, ela vai compreender as questões religiosas, mas enquanto ela está no processo de aquisição de linguagem, e ainda constrói seu raciocínio em cima do que é concreto, o ideal é falar de acordo com o que ela compreende.

É importante respeitar o tempo de assimilação dessa nova realidade, pois pouco a pouco a criança vai construir novas relação de afeto com a memória, já que a pessoa não estará mais presente. De acordo com Freud, já em 1915/1917, no artigo Luto e Melancolia, diz que pode ser inútil ou até “mesmo prejudicial qualquer interferência em relação e ele” (p. 249). O corte que a realidade da morte faz é abrupto, e a retirada do afeto àquele objeto que não se faz presente é tão intenso, que pode levar à um desvio de realidade, gerando apego ao objeto, até a negação da morte, por um período. Aos poucos os sentimentos que estavam relacionados ao objeto de amor irão se desligar do objeto em si, e se reconstrói uma nova relação de afeto com a memória. Durante este processo, o mundo se torna desinteressante e vazio, até que as ligações com o objeto encontrem novos objetos de amor.

A compreensão de como decorre o luto e as orientações de como abordar o tema são gerais, cada caso, cada família, tem seus limites e sua maneira particular de encarar a realidade da morte. Logo, as explicações não substituem a orientação de um profissional presente, e acompanhamento, quando isso for necessário.

Raisa Arruda
Psicóloga Clínica/Assessoria em Psicologia Escolar
CRP 11/07646
(85) 99221192
http://mamaepsicologa.com
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About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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