As birras dos dois anos de idade – Por Raisa Arruda

É um tema que muitos pais procuram constantemente em todos os espaços que se fala sobre crianças, falar sobre as “birras”, ou como modernizaram o termo em “terrible twos”. É um assunto que realmente causa comoção, pois muitos pais ficam entre a dor no coração de ver o filho num “ataque de nervos”, o medo de criar um “pequeno tirano”, e a insegurança de como agir e não criar nenhum trauma.

Imagem: blogdakarlitcha.com.br

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Para conseguir pensar na melhor atitude em relação às birras, os pais precisam compreender sobre o que se trata, e assim, em dupla, articular a melhor maneira de conversar, acolher e apoiar, para educar, sem prejudicar a relação, ou a auto imagem que a criança constrói de si mesma.

As birras começam por volta dos dois anos, pode ser um pouco antes, ou um pouco depois, de alguma forma, a criança vai demonstrar um comportamento similiar ao da birra a partir dessa idade, pois ela está passando por um momento muito importante, e bastante confuso, do seu desenvolvimento. Ela anda, ela tem uma certa autonomia, ela passa a se ver como uma pessoa, e percebe que tem vontade, desejos, mas como seu tempo é o presente, é o agora (pois ela ainda não tem a percepção de tempo como os adultos têm – antes, depois, passado, presente, futuro), e ela ainda não adquiriu conceitos e nem se apropriou da linguagem a ponto de dar conta dos seus sentimentos, ao se deparar com um impedimento de realizar  um desejo, ela se desorganiza, e extravasa sua emoção frustrada da maneira como ela consegue, com choro, grito, auto-agressão, e afins.

Acredito ser importante lembrar que nós adultos também temos nossos momentos de birras, para entender melhor, imagina que você não consegue usar uma ferramenta da internet (usando esse exemplo por ser o mais comum), você tenta e não dá certo, não sabe usar, e se irrita com o computador, e aí chama alguém que entende melhor pra te ajudar, e essa pessoa não ajuda, ou não entende o que você está querendo dizer… Como você se sente, e como você reage? A diferença é que nós já passamos por situações no decorrer da nossa vida que nos deram conteúdo para lidar com isso, apesar de muitos ainda serem tomados por intensos sentimentos de raiva, frustração, tristeza, e auto-depreciação, não é verdade? Então, imagina a criança, que agora que está iniciando seu reconhecimento de si, agora que está entendendo que tem um lugar e um espaço no mundo, que começou a entender que tem desejos e vontades, mas que ainda não sabe lidar com nada disso…

Eu, particularmente, não gosto do termo “terrible twos”, porque a palavra terrível tem uma conotação péssima, e é uma denominação terrorista, que apavora os pais que estão próximos dessa fase, e deixa os que já estão vivendo esse momento mais desesperados ainda, por ser uma fase “terrível”. Quanto mais nos prendemos nos termos que depreciam, que dificultam mais do que apóiam, mais complicado fica de lidar com a situação, pois nos sentimentos impotentes, incapazes, inseguros, diante de algo “terrível”. Ter em mente que esse momento é precioso demais para o desenvolvimento do seu filho, com certeza, vai ajudar muito mais, pois é um momento muito importante! A maneira como iremos dar apoio para nossos filhos lidarem com as frustrações, vai aumentar o repertório de comportamentos, de respostas, de aceitação da criança para lidar com outras situações parecidas.

Então, como lidar com as benditas birras, que apavoram todos os pais “modernos”? Uma das principais e mais importantes atitudes que os pais devem ter diante disso é a empatia, que vai levar a posturas de compreensão, afeto e paciência. Empatia por quê? Porque nós também passamos por esses sentimentos, a diferença é que somos capazes de controlar nossos ímpetos, ou pelo menos deveríamos ser.

“Geralmente, os pais reagem com raiva neste momento, acabam agredindo e humilhando a criança, assim aprende que ela quem é a errada e não o comportamento que se quer modificar (o de birra).Com isso a criança não se sente em condições de se modificar, pode assimilar valores que é uma pessoa ruim, com menos valia, ao longo do tempo isto pode diminuir sua auto-estima e favorece a insegurança. Além de, também, favorecer que a criança mantenha este padrão agressivo no decorrer de sua vida”. (Silmary Bertolani – Psicóloga)

A birra não precisa estar relacionada à desejos não realizados, existem crianças que chegaram ao máximo do seu estresse, por falta de cuidado e atenção dos seus responsáveis, e a única maneira de se proteger é com a birra, pois assim ela sabe que os pais, de alguma forma, vão evitar mais estímulos, vão embora, vão para casa, até mesmo quando ela é ameaçada e em casa sofre alguma penalidade e punição. Para ela, naquele momento, a birra é a única salvação. E aí, entramos em um detalhe super comentado aqui, que tento bater nessa tecla sempre, se faz necessário e urgente OUVIR as crianças, para compreender seu sofrimento. Lembrar que o ritmo da criança é diferente, seu corpo ainda não agüenta tanto como o nosso, nem mesmo sua psiquê agüenta tanta informação, pois tudo é novidade, apesar de ela já ir ao shopping, por exemplo, não deixa de ser  novidade aqueles estímulos sonoros e luminosos, e isso causa estresse – que é bastante prejudicial – e para se livrar dessa energia que fica contida, apesar do cansaço, ela precisa extravasar isso de alguma maneira. Devemos também estar atentos às nossas necessidades, e até que ponto estamos sendo egoístas e negligenciando o cuidado e atenção ao equilibrio emocional da criança.

É um tema que não se esgota, pois existem vários desdobramentos da birra, dos motivos, e das reações, não é? Então, fica aberto aqui para dúvidas e sugestões para aprofundar esse tema.

Eu fiquei apaixonada por essa cartilha da USP sobre desenvolvimento infantil, e esse em especial sobre as birras e crianças de dois a três anos: http://www.ip.usp.br/portal/images/stories/lefam/11_Birras_e_choro_OK.pdf

 

Raisa Pinheiro Arruda
Psicóloga Clínica/Assessoria em Psicologia Escolar
(85)99221192

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About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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