Ceará tem a terceira maior frota policial do Brasil, considerando todos os tipos de aeronave, e a maior em aeronaves biturbina. (Foto: Divulgação Governo do Ceará)

Fortaleza – No Ceará, o Governo comemora a redução em índices de homicídios: 54,8% em mortes violentas no mês de fevereiro. O melhor resultado desde 2009. Mas olhemos para o número absoluto: 163 pessoas assassinadas. Em fevereiro de 2018, foram 361 cadáveres. Um dos eixos do discurso oficial é o investimento em tecnologia. Reparou como policiamento comunitário virou uma abstração? Ronda do Quarteirão foi para as calendas.
Pois bem, no Japão, berço de boa parte da inteligência do mundo em alta tecnologia, a resposta não vem das câmeras. Somente em Fortaleza, a Secretaria da Segurança instalou mais de 2.500 câmeras. São muito bem-vindas. Mas e daí?
Reportagem da BBC, assinada por Fátima Kamata, de Tóquio, conta: “os japoneses hoje conseguem dormir tranquilos graças à segurança proporcionada pela política de tolerância zero às armas e ao centenário sistema de policiamento comunitário, com mais de 6.600 postos espalhados pelo país – os chamados Koban, nome dado aos pequenos postos onde residem e trabalham de dois a três policiais treinados para servir a comunidade e dar informações de segurança, inclusive sobre objetos perdidos”.

Mais um trecho; “O Japão tem uma das menores taxas do mundo de crimes cometidos com armas de fogo. Segundo a Agência Nacional de Polícia, houve, em 2017, apenas 22 crimes cometidos com armas de fogo – deixando 3 mortos e 5 feridos A título de comparação, no mesmo período houve 15.612 mortes por armas de fogo nos Estados Unidos, segundo a organização Gun Violence Archive. Isso dá uma média de 42 mortes por armas de fogo por dia nos EUA, contra um total de 44 mortes do tipo no Japão nos últimos oito anos até abril de 2018”.

O Japão também tem crime organizado. A Yakuza é a principal organização criminosa nipônica. Contudo, as facções não chegam a ser problema grave por conta da tolerância zero a armas, conta a BBC. Cita dados da Agência Nacional de Polícia: em 2017, o crime organizado contava com 34.500 membros em 22 grupos. No auge, em 1963, o crime organizado chegou a contabilizar 184 mil membros, mas esse número despencou graças à Lei Anti-Yakuza, de 1991.

Voltando ao Ceará, no acumulado dos dois primeiros meses do ano de 2019, a queda nas estatísticas de mortes violentas no Ceará foi de 57,9%. No ano passado, em janeiro e fevereiro foram mortas 843 pessoas. Este ano 355.

Uma super frota de aeronaves

A propósito de investimento em tecnologia, a Polícia cearense se orgulha de operar a terceira maior frota policial do Brasil, considerando todos os tipos de aeronave, e a maior em aeronaves biturbina e em voo por instrumentos. Dispõe de 10 aeronaves em operação, nas bases de Fortaleza, Sobral, Juazeiro do Norte e Quixadá. São nove helicópteros e um avião.

Em outubro do ano passado, chegaram dois novos helicópteros. Ambos do modelo Airbus Helicopters Deutschland H135 Helionix. Cada um custou R$ 40 milhões. Ademais, na época foi anunciado que o Governo do Ceará deve adquirir futuramente mais um helicóptero dentro dos padrões. No final deste ano ou início de 2020. Tudo via Projeto de Modernização Tecnológica (Promotec), da Secretaria da Ciência, Tecnologia, e Educação Superior (Secitece). Sim, dinheiro da rubrica Ciência & Tecnologia.

No discurso oficial, destaque para o ganho de autonomia de sobrevoo a qualquer hora e em qualquer ponto do Estado, diminuindo o tempo médio de resposta para ocorrências a 30 minutos. As duas novas foram batizadas como Fênix 08 e Fênix 09. Um fica na base de Quixadá, o outro na base de Fortaleza. Nada mal. Mas e daí?

Daí que o custo operacional é mais alto. Não é difícil encontrar alguém do ramo a olhar para o alto e considerar que um Esquilo resolveria, como a maioria da frota é. Aeronaves caras implicam hora de voo mais caras também. Mal comparando, caso haja uma motocicleta roubada em Maracanaú, melhor pagar a moto da vítima. A operação pode custar R$ 12 mil e a moto nem a metade. Aliás, o H135 não pousa em qualquer terreno.

As duas aeronaves

compradas pelo contribuinte cearense são as primeiras no mundo em configuração policial. Sim, as primeiras do mundo. Caso a criminalidade tivesse baixado de maneira expressiva, vá lá.

Mas nem tanto, né?

BNB – Para grampear no balanço

Foi muito importante para o Banco do Nordeste o resultado do balanço anunciado na quinta-feira. Lucro líquido de R$ 725,5 milhões, com alta de 6,4% ante os R$ 681,7 milhões de 2017. Somente no Ceará, R$ 8 bilhões negociados e R$ 43,6 bilhões aplicados em toda a área de atuação. Mas uma provocação feita pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) em artigo no O POVO de sexta-feira merece ser grampeada no balanço: “O Nordeste industrial da Sudene, da simples construção de açudes e dos financiamentos de grandes projetos industriais do BNB ficou obsoleto. O Nordeste exportador de jovens talentos é um absurdo”.

A propósito, seria muito pertinente que o BNB mirasse no ecossistema das startups financiando planos de negócios para elas. Com R$ 20 milhões que fosse, causaria imenso efeito. Coisa pequena frente aos volumes operados pelo FNE. Os jovens empreendedores, no mais das vezes, têm talento, sonhos e disposição, mas carecem de planejamento.

 

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Jocélio Leal

Editor-chefe dos núcleos de Negócios e Economia do O POVO- POPVeículos/ POP Imóveis e Construção/Empregos& Carreiras/ Editoria de Economia/ Colunista de Economia e Política no O POVO/ editor-executivo do Anuário do Ceará desde 2001/ Apresenta flashes do Blog nas rádios O POVO-CBN e Nova Brasil FM/ Apresentador da TV O POVO (Canal Futura)

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