Juliana Diniz, contista (Foto: divulgação)

Juliana Diniz, contista (Foto: divulgação)

Por Jáder Santana (jader.santana@povo.com.br)

Subvertendo a opinião de que o contista é um escritor em fase de preparação para o romance, dois jovens autores cearenses se reúnem na Festa Literária de Aquiraz (Flaq), que acontece entre os dias 10 e 13 de novembro, para discutir a autonomia do conto em relação aos demais gêneros e sua posição de igualdade em uma suposta hierarquização de formatos. Além deles, o escritor Ronaldo Correia de Brito participa da mesa, compartilhando a experiência de quem, há mais de três décadas, se dedica à escrita de ficção.

Ronaldo, grande homenageado desta quarta edição da Flaq, participa da mesa “Três Contistas na Noite” ao lado dos escritores Marco Severo e Juliana Diniz, ambos estreantes na publicação de contos. A ideia do encontro é, segundo a curadora Socorro Acioli, “provocar uma conversa sem mediações, deixar que eles falem sobre a feitura do conto, a carreira do contista, o mercado editorial e as vendas”, explica.

Marco lançou recentemente pela editora Moinhos o livro Todo Naufrágio É Também um Lugar de Chegada, reunião de vinte histórias curtas que dão lugar ao conflito do homem com o mundo e consigo mesmo, em relatos de medo, infância, velhice, desesperança e morte. “Hoje em dia tenho algumas obsessões com minha literatura ficcional: os limites, a decrepitude, as perdas e as quase-perdas”, comenta ele, que começou a escrever seus contos em 2011 e em 2015 estreou na literatura com o volume de crônicas Os Escritores que Eu Matei (Substânsia).

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Para Juliana, professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), a estreia como escritora aconteceu há alguns meses, quando a editora 7 Letras publicou seu O Instante-Quase, doze histórias de mulheres contadas por meio de cartas, diálogos e confissões. “Comecei a escrever no ano passado e o livro saiu em julho deste ano. Alguns amigos em comum fizeram meu material chegar até a Socorro (Acioli), que gostou e até aceitou escrever o prefácio”, conta.

A conversa dos dois autores com Ronaldo Correia de Brito deve passar pelo processo de concepção e escrita das narrativas curtas e avançar até as dificuldades para a publicação e o cenário atual do mercado editorial. O último livro de Ronaldo, O Amor das Sombras, lançado no ano passado pela Alfaguara, traz doze contos que resgatam temas e cenários caros ao autor, como a memória e as tragédias do passado. O cearense também reuniu suas histórias em Retratos Imorais (2010), Livro dos Homens (2005), Faca (2003) e As Noites e os Dias (1997).

“O Ronaldo tem uma vertente para o conto que trata muito daquilo que nos humaniza e desumaniza. São histórias cruas, até pela aridez dos cenários que ele descreve. Vai ser uma troca boa: de um lado, a visão de uma pessoa que começou há 30 anos; do outro, duas pessoas que só agora estão publicando”, avalia Marco, que garante ser feliz como contista e não ter a pretensão imediata de escrever um romance.

Juliana, por outro lado, começou a trabalhar a ideia de uma narrativa mais longa que se passa no contexto da ditadura. Está na fase das pesquisas e da concepção do enredo. “As dificuldades são inúmeras. A primeira é você conseguir manter a disciplina e o foco de trabalhar no original mesmo sem ter perspectivas de publicação. Depois, é preciso conseguir espaço para publicar. Por fim, ainda tem a dificuldade de jogar o livro pro mundo”, enumera. Para a mesa, ela imagina um momento de troca: “Quero aprender com a experiência do Ronaldo e ter uma chance de abrir minhas angústias e dúvidas”.

Serviço
Mesa Três Contistas na Noite, na Festa Literária de Aquiraz
Quando: dia 12, às 18h30min
Onde: Vila Azul do Mar, no Beach Park (Porto das Dunas – Aquiraz)
Gratuito
Outras informações: https://goo.gl/XMjZ67
A Flaq acontece entre os dias 10 e 13 de novembro.

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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