ava-dellaira

Ava Dellaira, a autora

Cartas de Amor aos Mortos, como fica óbvio pelo título, é um livro epistolar. Laurel, adolescente que acaba de entrar no ensino médio, recebe como tarefa de casa produzir uma mensagem para alguém que já morreu. Parece uma questão simples, mas a protagonista está vivendo o luto pela irmã, May, morta em circunstâncias ainda não explicadas. Com caneta e um caderno, ela desenvolve dezenas de textos endereçados aos mais diversos destinatários: Amy Winehouse, Kurt Cobain, Elizabeth Bishop, Janis Joplin.

O encantador em Cartas de Amor aos Mortos é a maneira simples como a história é narrada. Ava Dellaira, natural do Novo México, tem uma linguagem tão simples quanto brutal. Faz das palavras uma forma de extensão do corpo de Laurel. Carta após carta, acompanhamos o processo de autodescoberta pelo qual a protagonista precisa passar. E não é fácil. O passado e o futuro da jovem escondem mais do que um leitor comum está pronto para acompanhar.

A narrativa é tão simples que, quando o desfecho acontece, nos perguntamos como não vislumbramos o óbvio. Laurel se apresenta como uma personagem divertida, aventureira pelas razões erradas e cheia de questões pessoais. É no relacionamento com os amigos que encontramos os episódios mais engraçados. Pois, durante a maior parte da leitura, há uma tensão desconfortável. Nos textos, a adolescente conversa verdadeiramente com os mortos – levantando dados pessoais e atrelando fatos ao seu próprio cotidiano.

Laurel utiliza as cartas como um refúgio. E, talvez por isso, o leitor não sinta que há um filtro entre a ótica narrativa e os fatos tratados no livro. Ao entrar na nova escola, logo após a morte da irmã, a protagonista conhece um grupo de “desajustados”. Um clichê tão óbvio quanto o que vem a seguir: Laurel começa a namorar um rapaz, Sky, considerado problemático. Na companhia dos amigos, ela descobre um novo e emocionante mundo, cheio de festas, álcool, aventuras, decepções e perigos. É nesse caminho – e atravessando o luto mais do que nunca – que ela precisa se “redescobrir” enquanto indivíduo. Nesse percurso, destinatários como Amy e Kurt são as melhores companhias (e os melhores ouvidos) que a adolescente poderia querer.

O enredo, entretanto, tem uma proximidade assustadora com outra obra que é sucesso entre os adolescentes: As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky. O autor, não por acaso, é um mentor e incentivador da produção de Ava Dellaira.  O quanto ela bebe nessa fonte criativa, entretanto, é difícil definir. A produção de Stephen, de fato, tem marcas peculiares. E a produção de Ava já conseguiu encontrar seu próprio espaço, suas implicações, seus caminhos e, principalmente, uma conexão com os leitores.

Serviço
Cartas de amor aos mortos
Ava Dellaira
Tradução Alyne Azuma
337 páginas, Editora Seguinte
Preço médio: R$ 25,90

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

View All Articles