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Quando o autor Rodrigo Maceira procurou o blog para divulgar o livro Até de repente, ele deixou um aviso bem claro: “y suerte entre os personagens”. E são eles que fazem a leitura dos oito contos que compõem a publicação ficar interessante. Rodrigo estrutura seres densos – com olhares fragmentados e questões pessoais próximas dos nossos tempos. Há saudade não reprimida nas histórias contadas pelo autor. 

É um livro para ser terminado em um único dia. Existe urgência nas palavras. Começando por Bia, personagem do primeiro texto. Em três páginas, Rodrigo traça o perfil de uma mulher forte, encantadora e de um gosto musical ímpar. “A Bia tinha tomate plantado no quintal. A Bia era de família rica. A Bia teve um verme no rosto. A Bia ficou sem dinheiro. A Bia foi internada em uma clínica de reabilitação, no interior de São Paulo, para tratar o alcoolismo”. O leitor se encanta com os personagens como se eles fossem velhos conhecidos. Um tio, um amigo, um namorado, uma amante ou uma madrinha.

Mas não é apenas o desfecho das histórias ou o caminho traçado pelos seres idealizados pelo autor. É a forma como Rodrigo estrutura os textos. As narrativas se passam em diversas cidades, mas, sempre, os olhos são voltados para a capital paulista. Talvez pelo próprio horizonte de expectativas do autor, esta se torna uma das decisões mais acertadas dos contos. Quem não conhece São Paulo vai encontrar a cidade através de seus tipos, suas pessoas, seus hábitos ao fim da tarde, suas cervejas ao fim do expediente.

O autor quebra uma premissa que, há muito tempo, é contestada: contistas estão ensaiando romances. Os textos de Até de repente cabem neles mesmos. São suas próprias revelações. Deixando claro, dessa forma, que uma leitura não precisa de extensão para ser boa. Ela precisa, sim, das palavras corretas empregadas na ordem certa, dos fins que surpreendem e também encantam, da empatia ao segurar as páginas.

Rodrigo é graduado em Comunicação Social, tem mestrado em Comunicação e Práticas e Consumo e é doutorando em Estética e História da Arte. Já publicou o livro Um céu diferente daquele lá (2015) – também pela Editora Oito e Meio. Editou I will be hey (2014) e Abertas&Fechadas: versos homográficos (2016). É um dos idealizadores da rede Si no puedo bailar, no es mi revolución.

ate-de-repente-livroServiço
Até de repente
208 páginas
Rodrigo Maceira
Outras informações: www.rodrigomaceira.com

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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