Alexandre Reis investe em versos simples e flerta com o lado mais infantil de suas obras (Foto: AURÉLIO ALVES/ESPECIAL PARA O POVO)

Por Renato Abê (renatoabe@opovo.com.br)

A cada nova pesquisa Retratos da Leitura, a poesia cai em números de leitores. Mas por que poesia não vende?

Em 2007, a poesia ocupava o quarto lugar entre os gêneros mais lidos do País, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que é realizada pelo Instituto Pró-livro. No último levantamento, divulgado ano passado, o gênero caiu para a oitava posição, o que implicaria numa perda de mais de 10 milhões de leitores. Os números escancaram algo que as letras já indicavam: verso nem sempre combina com cifra. Se cai o número de leitores, consequentemente mingua as possibilidades do gênero no mercado editorial.
“A poesia nunca foi um produto comercial naquela acepção do ‘quanto mais vender melhor’. Não é algo que se faça pela questão quantitativa, pois seria o caso de procurar outro gênero”, avalia o editor Jorge Viveiros de Castro, da editora carioca 7 Letras, umas das únicas do País a publicar regularmente textos poéticos. Segundo Jorge, as editoras comerciais não se interessam em publicar poesia e muitas livrarias “nem querem” o gênero em suas prateleiras. Para ele, essa dificuldade de publicação e venda é histórica, a prova disso é que um poeta best-seller não é tão comum na literatura nacional.

Pesquisadora do texto poético, a doutora em Literatura Brasileira Maria do Socorro Pinheiro explica que esse afastamento de leitores — e consequente esfriamento do mercado — tem relação direta com o estudo da poesia no ambiente educacional. “Eu vejo uma preferência dos alunos por outros gêneros, talvez por não estudar poesia como deveria. Esse gênero tem algumas especificidades, leva mais tempo para ser interpretado e demanda um conteúdo maior a ser dado pelos professores”, explica ela, que dá aula no município de Iguatu, onde mantém um grupo semanal de estudo da poesia.

Também professor, o poeta Henrique Beltrão de Castro não desanima diante dos números. “Fala-se que a poesia tem poucos leitores, mas eu penso que o essencial é a qualidade desses leitores. No passado, havia menos leitores ainda e grandes autores chegaram até nós por conta das pessoas que amam poesia”, aponta ele, que é professor do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará.

Outros mercados
“O grande problema quando se fala de literatura e mercado é que as pessoas entendem só uma dimensão. Existem muitas economias, existem muitas possibilidades”, contrapõe o poeta Talles Azigon, nome à frente da editora cearense Substânsia. Ele cita autores como Adélia Prado, Paulo Leminski e Manoel de Barros, que são sucesso de venda, e destaca ainda o potencial de escritores do Estado. “Se a gente ainda for pensar que está dentro do Brasil numa das capitais menos leitoras e com o poder público menos interessado em ações de incentivo à leitura, é muito importante continuar publicando poesia, porque nem tudo é só mercado”, arremata.

Jorge Viveiros de Castro, da editora 7 Letras, faz coro. “Vejo com bons olhos o momento atual. Cada vez mais a dinâmica de rede social e de vendas online tem ajudado as publicações a chegarem a seus nichos de público. As editoras alternativas têm sido o canal de circulação da poesia enquanto produto impresso”, explica. O editor classifica a poesia como eterna “vanguarda” na literatura e reafirma que, apesar das alternativas de venda, esse gênero pede um olhar menos monetarizado. “O fato é que a poesia tem um valor literário bem maior do que comercial”, finaliza.

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Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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