(Foto: divulgação)

Por Renato Abê (renatoabe@opovo.com.br)

O que a maioria de nós não sabe sobre o ofício de um modelo vivo? “O senso comum desconhece que ser modelo vivo é uma maneira experimentar ser você mesmo sob o olhar do outro com seu próprio jeito de ser, mesmo que a pessoa não se sinta confortável com alguns detalhes de seu corpo ou não tenha um corpo escultural”, defende a atriz Mariana Pinto. A artista paulistana desembarca em Fortaleza para apresentar seu livro Desenha-me na programação da Bienal do Livro do Ceará.

No próximo sábado, 15, às 18 horas, ela lança a obra e realiza ação que terá dois artistas cearenses convidados. “Haverá uma sessão de desenho livre com a participação da cantora Karine Alexandrino com o intuito de aproximar as pessoas desse universo do artista com a modelo. Tem também a participação do artista visual Régis Amora que fará de maneira super competente e criativa o registro dessa sessão, unindo assim tanto a linguagem de mídia quanto a de artes plásticas”, projeta a paulistana, que conduzirá uma vivência com o público que poderá ilustrar ou ser ilustrado.

Desenha-me é uma obra inédita no País por descolar o foco do artista que registra para o artista que é registrado. O livro aborda “as dificuldades e as recompensas” da profissão e reúne textos de Eduardo Muylaert, Gregório Gruber, Thelma Guedes, entre outros artistas plásticos, modelos e fotógrafos. “Existem alguns desafios nesse ofício que são tanto a experiência de permanecer durante muito tempo em poses que exigem mais força física do que você é capaz de aguentar com facilidade quanto em relação à má remuneração e à falta de reconhecimento da importância do modelo para a qualidade da obra”, detalha.

(Foto: divulgação)

O livro é também um manual para quem deseja iniciar na arte de modelo vivo e ganha fôlego ao dar protagonismo à experiência de Mariana, que tem mais de 15 anos de ofício. “Dentre os principais assuntos estão o relato da minha primeira sessão e uma breve história da arte de modelo vivo. Tem também as principais modelos e musas da história da arte, texto sobre a diferença entre o nu e o pelado, questões sobre direitos de imagem, dicas sobre o que é necessário saber para quem quiser se aventurar”, antecipa.

Mariana se debruça também a pesquisar os limites nas inter-relações pessoais em questões como intimidade e vulnerabilidade dos corpos. “Há uma fronteira clara entre artista e modelo sendo essa relação tratada com muito profissionalismo, inclusive com regras e protocolos exigidos por associações internacionais”, contrapõe. Ela explica, porém, que alguns estigmas ainda pairam sobre a profissão. “Obviamente pode haver uma exceção e essa barreira entre o artista e a modelo ser rompida, mas é bem mais raro do que o início do século XIX, por exemplo, em que era muito comum que as modelos fossem amantes dos artistas”, contrapõe.

(Foto: divulgação)

Durante a Bienal, o livro será pré-lançado. A intenção de Mariana é realizar outros lançamentos Brasil afora. Para a artista, se faz urgente pautar e fomentar mais discussões sobre a figura do modelo vivo. “Mesmo no meio artístico, se fala muito pouco desse trabalho, apesar de estar crescendo como interesse do movimento artístico com associações, grupos e escolas no mundo inteiro”, argumenta.

Serviço
Mariana Pinto na Bienal do Livro
Quando: sábado, 15, às 18 horas
Onde: XII Bienal Internacional do Livro do Ceará (avenida Washington Soares, 999)
Entrada gratuita
Veja a programação completa: bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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