Cena do filme que estreia em 22 de junho (Foto: divulgação)

Livro discute os limites entre o público e o privado a partir da ascensão da personagem Mae Holland na empresa chamada Círculo. Uso indiscriminado da tecnologia motiva a trama. Filme baseado na narrativa de Dave Eggers estreia no dia 22 de junho e tem Emma Watson como protagonista

Há um futuro distópico no qual todos nós ficaremos conectados a várias telas – comentando, curtindo, distribuindo sorrisos e carinhas raivosas. A tecnologia será tão presente e vigilante que não conseguiremos nos desvencilhar dela. É nesse mundo que já vive Mae Holland, personagem do livro O Círculo, de Dave Eggers. A narrativa conta a história da recém-graduada que consegue emprego na empresa mais disputada do mundo. Mas, para subir posições na companhia, ela precisa ser uma presença constante no mundo virtual, além de realizar suas dezenas de funções no trabalho.

A rotina de Mae não é tão diferente da maioria dos trabalhadores médios. Todos os dias, mesmo após o expediente, há pessoas sendo demandadas pelos empregadores em “conversas urgentes que podem ser resolvidas no dia seguinte”. A relação da protagonista com o lugar onde ela trabalha, também chamado O Círculo, é de uma subserviência sufocante. Mae e O Círculo são a síntese do caminho pelo qual as relações de trabalho estão caminhando. Dave Eggers constrói uma distopia que parece já ter chegado até nós. Para além disso, o autor incorpora outros personagens bem construídos: o ex-namorado, a amiga bem-sucedida, o pai afetado por esclerose múltipla.

O livro foi transformado em filme e chega aos cinemas brasileiros no dia 22 de junho. A celebrada atriz Emma Watson vive a protagonista. O elenco conta também com outros nomes de peso – como Tom Hanks, John Boyega e Karen Gillan.

Eggers consegue recriar a estafa de Mae diante de tantas telas. Ao longo da narrativa, a personagem incorpora mais função e novos monitores aparecem na mesa de trabalho. As descrições do autor sobre cada momento no qual Mae “sobe de posição” na empresa são entusiasmadas e, ao mesmo tempo, contém ressalvas sinalizadas discretamente no texto.

O drama da protagonista ganha novos contornos quando os dirigentes do Círculo – os chamados “sábios” – se atentam para o comportamento da jovem. O Círculo trabalha em múltiplos projetos que, separados, parecem úteis para os “clientes”. Mas, ao unir as plataformas, a empresa terá controle sobre os usuários – incluindo o direito de escolher os representantes públicos. Mae é ingênua de uma forma irritante. Ela tem ambição misturada ao medo de nunca ter um “bom emprego e crescer na carreira”. A protagonista, portanto, vive o drama de muitos jovens contemporâneos. É uma personagem controversa e bem construída por Eggers, autor que se tornou famoso pelas produções literárias críticas ao alcance indefinido das redes sociais e de outras tecnologias.

O autor dialoga sobre as fronteiras entre o público e o privado. Na segunda parte da narrativa, Mae é confrontada com os danos do uso indiscriminado da tecnologia. A partir do uso de câmeras, ela tem o cotidiano exposto para qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. A jovem vê sua a rotina ser vasculhada, os desejos ponderados e desconhecidos falam sobre sua alimentação, suas escolhas, seus amores.

Cena do filme que será lançado em 22 de junho

Mae vive sob constante vigilância. E não compartilhar informações – como a prática de um esporte ou uma visita aos pais – torna-se tão grave quanto cometer um crime. Três máximas regem a filosofia dos “sábios” e asseguram a livre circulação de dados: segredos são mentiras; compartilhar é cuidar; privacidade é roubo. O preço pago pela protagonista é alto e o fim é surpreendente.

Outros livros do autor:
O que é o quê (2008)
Os monstros (2009)
Zeitoun (2011)
Um holograma para o rei (2015)

Serviço
O Círculo
528 páginas
Autor: Dave Eggers
Tradução: Rubens Figueiredo
Companhia das Letras
Preço médio: R$ 62, 90

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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