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Por Alessandra Jarreta*

Na primeira vez que trabalhei num grupo um livro da Toni Morrison, fiquei impressionada ao perceber que ninguém ali nunca houvesse ouvido falar da autora. O número reduzido de pessoas presentes (em um encontro que costuma lotar) também mostrou que muita gente não se interessava em conhecê-la, apesar de Voltar pra casa ser um livro curto, barato e delicioso de ler.    

Tive uma pequena alegria recentemente, quando terminei de ler Na Minha Pele, do Lázaro Ramos, um livro em que fala de sua experiência como ator e sua visão do racismo no Brasil, e vi que ele dedicou um trecho inteiro para homenagear o trabalho dessa grande escritora. Toni Morrison foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio Nobel de literatura, em 1993,  “por seus romances fortes e pungentes, que relatam as experiências de mulheres negras nos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX”.

Foi curioso constatar também que, nos encontros em que a discussão sobre racismo vem à tona, as pessoas, em sua maioria, brancas, não encontrando com o que se identificar, dão um jeito de reverter a discussão para si mesmas, apagando a experiência do outro. Eu queria que as pessoas lessem mais Toni Morrison.

Chloe Anthony Wofford, Toni Morrison, nasceu em 1931, em uma família pouco favorecida. Quando tinha apenas dois anos, o senhorio de sua família ateou fogo na casa em que ela morava, enquanto todos estavam lá dentro, porque seus pais não podiam pagar o aluguel. Em resposta, a família se reuniu na porta do senhorio e riu – riu por muito tempo. Morrison diz que a maneira com a família lidou com aquela situação de desespero lhe mostrou como manter a integridade e o controle de si diante da crueldade humana.

A escritora

Segunda dos quatro filhos do casal Ramah e Goerge Wofford, cresceu ouvindo seu pai, soldador de navios, contar histórias da comunidade negra americana, o que influenciou muito sua forma de escrever. Leitora ávida, entrou na Howard University (fundada em 1865 para promover a educação de afrodescendentes), porque queria estar perto de intelectuais negros. Situada em Washington D.C., foi a primeira vez que Morrison se deparou com a segregação racial em restaurantes e meios de transporte.

Conheça Toni Morrison

Graduou-se em inglês em 1953 e recebeu o título de mestra com sua tese Virginia Woolf’s and William Faulkner’s Treatment of the Alienated. Lecionou inglês em Howard por sete anos, até mudar-se para Nova York, onde trabalhou como editora da Random House, uma das principais editoras de livros em língua inglesa do mundo. Como editora, Morrison preocupou-se em divulgar e popularizar a literatura e autores negros, publicando grandes nomes como Angela Davis e Henry Dumas.

Morrison começou a se dedicar a ficção na época em que frequentava um grupo de discussão de literatura, formado por poetas e escritores. Em um desses encontros, apresentou uma história sobre uma garota negra que queria ter olhos azuis, que seria a base para o seu primeiro romance, O Olho Mais Azul”, escrito enquanto criava os dois filhos pequenos e dava aulas. Seu livro mais recente, Voltar Pra Casa”, conta a trajetória de dois irmãos logo após a guerra da Coreia e mostra, de forma ao mesmo tempo dura e sensível, a realidade nas vidas de um homem e uma mulher, negros e sozinhos na intolerante sociedade americana da década de 1950.

Toni Morrison em toda sua obra artística e trabalhos procurou mostrar ao mundo a realidade em que viveu e vive a comunidade negra, deixando gritar vozes que não eram ouvidas. A leitura de seus livros são como socos no estômago em uma sociedade que, parafraseando Lázaro Ramos, não tem vergonha de ser racista, apenas de dizerem que ela é racista. Precisamos abrir os olhos, precisamos ler mais Toni Morrison.

*Alessandra Jarreta é estudante de Letras da UFC, mediadora dos clubes de Leitura Nordestina, Leia Mulheres, Leituras Feministas, Clube do quadrinho e Lendo Clássicos. Escreve quinzenalmente para o Leituras da Bel sobre Mulher e Literatura.

 

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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