Por Sara Síntique*
A cearense Sara Síntique escreve poemas quinzenalmente para o Leituras da Bel. Poeta, atriz, performer, mediadora de leituras e educadora, Sara mora em Fortaleza e publicou seu primeiro livro em 2015, pela Editora Substânsia. Leia mais poemas!
não sei.
entretanto
quase estou certa
do mar: azul.
sempiterno
costumeiro
de teus olhos.
não sei.
e se me olham?
que vem a ser o mar?
a luz amarela da cidade
sobre as ondas?
as outras cores?
e se me olham?
seria
enfim
o Agrimel?
mas isso é vão
há dores a devastar
florestas inteiras
um menino que chora
enquanto há leite no chão
o rio inteiro que se desfaz
um menino morto na travessia
os desamparos
tanta tanta notícia
(dorme, meu filho)
escrever?
não sei.
talvez arriscar verdades
inúteis
inúteis
como para assegurar
o que não é seguro
o mar: azul.
momentâneo.
tudo fraqueja
tudo tudo empalidece
esse vento tardio
a demasiada poesia
os determinantes dos nomes
tudo tudo enfraquece.
mas há teus olhos.
e se me olham?
não sei.
arriscar um girassol?
ou nova escala
para medir os infinitos?
*Sara Síntique é poeta, atriz, performer, mediadora de leituras e educadora. Mestra em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também se graduou em Letras Português – Francês. Nasceu em Iguatu (CE), em 1990, e reside em Fortaleza desde 2001. Autora do livro de poesia Corpo Nulo (Editora Substânsia, 2015). Escreve poemas quinzenalmente para o blog Leituras da Bel.
Talentosa, linda e empoderada essa Morena.