Por Lílian Martins*
Alcancei, por primeira vez, o músico e poeta Henrique Beltrão num palco universitário, a dedilhar um poema escarlate em melodiosa voz de depois saltar, radiofônica e sem fronteiras, entre os que compõem poesias em tom maior perfilados na minha estante. Eu tinha 17 anos e também fazia greve.
O tempo passou e eis que o acinzentado destes dias temerosos apanhou o mais reamado artista e ativista plural pela paz e, assim, Beltrão anoiteceu. O verso carmim escorreu por entre as madrugadas insones e fez brotar do avesso de si, o duplo que nos fala em seu mais novo livro “AVESSO: O livro da Insônia”.

A obra reúne crônicas, contos e poemas trazendo, desta forma, não mais somente a voz poética do autor, mas também a sua voz escritural prosística. E essa é, sem dúvida, a grande novidade do livro que nasce desse encontro doloroso sob o céu noir, porém – felizmente – cheio de estrelas. E essa luz cintilante resplandece na obra, embora repleta de fantasmas, suicidas, espíritos obssessores, fascistas, depressivos, todos preparados para se me vier demência: amor, arte, fé e paciência, alerta o poeta.

Apesar da obscuridade, a obra tem sim sua luz própria e ela é evocada desde a sua epígrafe com Sócrates, o filósofo que nos convida a olhar para dentro de si e nos conhecermos. Essa luz íntima, e muito particular do repertório de vida de cada sujeito, é quem reascende a chama divina do artista cearense e o coloca diante de cada um de seus leitores com esperança no porvir e postura fraternal diante das dores e angústias que assolam os escaninhos de nossas almas neste século.

Participam do novo livro o poeta Carlos Nóbrega que é quem assina o prefácio da publicação e o Poeta de Meia-Tigela, agora, também Alves de Aquino para seguir em dose dupla com a poesia de (des)tino.

Sobre Henrique Beltrão

Poeta, compositor, radialista, pesquisador e professor universitário brasileiro, nascido em Fortaleza. Atua na Universidade Federal do Ceará – UFC, Produtor e apresentador dos programas Sem Fronteiras: Plural pela Paz (desde 1998) e Todos os Sentidos (desde 2003), programas da Rádio Universitária FM 107,9 e em espetáculos poético-musicais.

Graduado em Letras: Português-Francês pela UFC (1988). Mestre em Linguística Aplicada: Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela Universidade Estadual do Ceará (2002). Doutor em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação da UFC (8/2008 – 12/2011), com doutorado sanduíche na Université de Nantes (UN), França (03/2010-02/2011). Tese: No ar, um poeta: do singular ao plural – experiências afetivas (trans)formadoras em um percurso autobiográfico poético-radiofônico (2011). Orientadores: Luiz Botelho Albuquerque, Ph. D. (UFC) e Martine Lani-Bayle, professeur des universités (UN).
Autor do CD Plural – Henrique Beltrão e Amigos (2015), e dos livros; No Ar, um Poeta (2014), Vermelho (2006) e Simples (2009), livros de poemas e canções, diversas delas gravadas como esta que – certamente – você já deve ter ouvido na rádio interpretada pelo cantor Pingo de Fortaleza:

E se você ainda desconfia do aguilhão das dores humanas, Henrique Beltrão – o escritor corpalma – nos prova que é possível romper com a dor que nos oprime o peito e transformá-la em arte, solidariedade e beleza! Uma década após aquele primeiro nosso encontro, hoje, – felizmente – o tenho como amigo e ainda cremos na militância de dias melhores e mais rubros!

Aumenta o som e boas leituras!

*Lílian Martins é jornalista, tradutora, professora, pesquisadora e militante em Literatura Cearense. Mestre em Literatura Comparada pela UFC com a dissertação: “Com saudades do verde marinho: O Ceará como território de pertencimento e infância em Ana Miranda”, vencedora do Prêmio Bolsa de Fomento à Literatura da Fundação Biblioteca Nacional e Ministério da Cultura (2015) e do Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) em 2016. É uma apaixonada por rádio, sebos, pelos filmes do Fellini, os poemas de Pablo Neruda e outras velharias…

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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