Vencedor do Prêmio Jabuti em 2018, o escritor cearense Mailson Furtado Viana estará na próxima sexta-feira, 21 de junho, no Sesc Ceará para participar do evento Bazar das Letras. Com entrada gratuita, a iniciativa começa a partir das 19 horas. A mediação é de Isabel Costa, jornalista do O POVO e organizadora do Blog Leituras da Bel. Abaixo, uma entrevista com Mailson sobre produção, processo criativo e as dificuldades dos autores cearenses para ter suas obras disponíveis em livrarias.

Mailson Furtado Viana, escritor cearense

Leituras da Bel – Para você, escritor cearense residente no interior, qual as principais dificuldades ao tentar colocar seus livros em prateleiras de livrarias na capital?
Mailson Furtado Viana –
Sem dúvida a primeira dificuldade encontrada está na distância, já que sou um autor residente no interior, o que gera um abismo para o primeiro contato com o setor de vendas das livrarias, sempre presente na capital. No entanto, há outras tantas questões que são comuns a qualquer autor ou obra independente, difíceis mesmo para aqueles residentes num grande centro, das quais cito: a burocracia fiscal comum ao mercado; o percentual no processo de venda, que geralmente não compensa ao autor; e a principal, no meu entender, que seria a falta de espaço para exposição de forma adequada para que as obras (de autores locais e/ou independentes) possam chegar de forma mais fluida aos leitores. Este é um item complexo e passa pela questão da aquisição de uma legitimação do nome, enquanto autor, dentro do campo literário, pra muitos, a primeira grande corrida (e às vezes, única) dentro desse campo/mercado, tão difícil de atingir.

Leituras da Bel – Mesmo com a crise no mercado editorial, as livrarias ainda são pontes importantes entre escritores e leitores?
Mailson Furtado Viana – Vejo a necessidade das livrarias, a cada dia, fomentarem-se como espaços de convivência cultural, e não apenas como locais de compra-e-venda de infindos produtos. A cumprir-se isso, acredito fortemente no ampliar desse poder de ponte entre livros-leitores, que apesar de todos os pesares, sempre foi e será.

Leituras da Bel – O processo de colocar um livro em uma grande livraria, a exemplo de Cultura e Saraiva, é muito burocrático?
Mailson Furtado Viana – Não conheço o processo pela Saraiva, mas pela Cultura torna-se inviável pra quem é autor cearense e independente, visto que o departamento de compra e venda da livraria é locado em São Paulo e há a necessidade de envio inicial para lá, para só assim acontecer a distribuição para outras regiões do país. Somente por esse processo inicial torna-se inconveniente, além dos altos percentuais cobrados pela loja, em vendas somente por consignação, que inviabiliza ainda mais para o autor, visto este campo de incerteza no processo de vendas.

Leituras da Bel – Antes de ganhar o Prêmio Jabuti, você conseguia colocar seus livros em grandes livrarias? Tinha interesse por esse eixo?
Mailson Furtado Viana – Tentei logo no início de minhas primeiras publicações esse eixo, porém foram experiências totalmente sem sucesso por todas as questões que apresentei, muito também por na época ser um anônimo dentro desse campo, o que inviabilizava ainda mais a exposição da obra dentro das lojas, sempre escondidas na última ‘esquina’ da última prateleira, o que só rendeu custos, para sequer um espaço de exposição. Daí somente agora retornei, junto de todo o impacto gerado pelo Jabuti, e estão sendo experiências positivas.

Leituras da Bel – Hoje, em quais livrarias, do Ceará e de outros Estados, é possível encontrar as suas obras?
Mailson Furtado Viana – Hoje, minhas obras podem ser encontradas nas livrarias da Travessa, na rede de Livrarias Leitura, nas livrarias da Vila, esta última através do intermeio de uma distribuidora, e as primeiras por contato direto feito por mim. Mas talvez a principal ponte de distribuição seja a internet, onde o livro está disponível em várias lojas virtuais, inclusive em formato eletrônico, em plataformas como a KDP, além do envio por pedido direto através das redes sociais, o que põe em contato, de forma ímpar, autor-leitor.

Leituras da Bel – O processo de distribuição é desgastante?
Mailson Furtado Viana – Vejo como a fase mais desgastante do processo de produção do livro. Como citei, trabalho com duas formas de distribuição, uma de forma direta (onde eu mesmo vendo), e outra, terceirizada, ambas possuem prós e contras, sempre a variar questões de maior retorno financeiro pro autor e quantidade de trabalho. No entanto, apesar dessas duas formas, a que hoje está mais próxima pra mim é a venda direta em eventos e internet, que possibilitam uma questão única, o contato entre autor-leitor, sempre muito positivo.

Leituras da Bel – Mesmo com tantas facilidades para vender livros virtualmente e também em eventos, por qual razão os autores ainda desejam colocar suas obras em livrarias?
Mailson Furtado Viana – Acredito muito nas livrarias como espaços artísticos sociais para convivência, visto elas serem o local ‘certeiro’ que todos procuram para o encontro do produto livro, sendo assim, a livraria encontra-se como o espaço fundamental para divulgação de qualquer trabalho escrito e extremamente valioso o seu fortalecimento para o crescimento de todo esse campo, que é o mercado editorial.

Serviço
Bazar das Letras
Convidado: Mailson Furtado Viana
Mediação: Isabel Costa
Quando: 21 de junho, sexta-feira
Horário: 19 horas
Onde: Sesc (Rua Clarindo de Queiroz, 1740)
Entrada gratuita

 

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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