Por Mika Andrade*

Ilustração de Jéssica Gabrielle Lima

não cabe

Não cabem nesse poema
As mortes
Os estupros
A violência
A fome
Nesse poema não cabe
O desejo insaciável do presidente por um pãozinho com leite condensado
A miséria que consome a barriga de muitas crianças
Nesse poema não cabe
Os animais que foram engolidos pela lama da Vale
Nesse poema não cabe
A polícia que mata jovens negros e periféricos
Nesse poema não cabe
Todos os racistas passa pano

(A morte é ruído profundo e barulhento)

E o que você faria
Pela segurança de pessoas condenadas
Ao esquecimento
Negligenciadas e apagadas

Diante de nós apenas o horror
Sangue lama e fogo
Vazando escorrendo queimando
Atravessando céus e mares
Soterrados em terra
O grito
O grito
Forte & alto
Foi brutalmente silenciado
Cruelmente sufocado
O ranger de dentes das hienas
Se misturam ao barulho dos asnos

 

***

Mika Andrade é poeta. Publicou a zine alguns versos pervertidos e outros indecorosos (2016/2018) e organizou a antologia erótica de poetas cearenses O Olho de Lilith (Selo Ferina).

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Colaboradores LDB

Colaboradores do Blog Leituras da Bel. Grupo formado por professores, escritores, poetas e estudiosos da literatura.

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