Tango, madrugada, leão
— Por Vitória Régia

Ilustração de Katrien De Blauwer

A mí, no el saber (que aún no sé),
solo el desear saber me ha costado gran trabajo.
Sóror Juana Inés de La Cruz

A pele calcinada, vento e suor, ainda inteira
O início, me reconheço nas paredes
Nenhuma sombra, nem os odores
Da pele ou os flashs do silêncio
A procura, nenhuma voz ou pudor
Mas as mãos se contorcem enamoradas
Do sol da garganta, do ventre, da boca
Da língua, repleta de nomes
Nenhum seria o seu, negro leão
A espera, a partilha
Onde canto os cardos, ou a asa celeste
Do desejo
Pés de pássaro neste eixo, e o olho da noite
Em uma curva qualquer
Mergulhando ilhas inteiras
Que pesaram em meu corpo
Qualquer vestígio se acende no dia
Em teu nome provei
Com os pés
Que ainda retornam
E a boca
Funda e clara
De amar e destruir
Força pura da gramática
Mãos que encerram uma ciência
Criam o que sobrevive
No corte da lua em vertigem
Mais breve e marulhoso
Onde a raiz que o olho vê
Toda a paisagem
Todo o oríficio que encerra
Em nuvens inteiras
Sem lágrimas
Sem deuses
Molhada, e já sei
O soar do arcanjo
Que não sabe esquecer
Chuvas e madrigais
Quando está
Dentro de mim.

***

Vitória Régia

é escritora e autora de Náutico (Editora Patuá)

***

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