Por Bruno Paulino*

Terminei de ler, tem poucos dias Jorge Amado – Uma Biografia, escrita pela jornalista Joselia Aguiar. Pesquisa e narrativas impecáveis. Gosto de ler biografias. Jorge Amado é uma figura deveras interessante, faz parte do rol de certas pessoas de quem gosto de saber, que aumentam o meu mundo. Era adolescente quando li Tieta do Agreste, e foi a primeira vez que me deparei com a palavra “xibiu” impressa num texto literário. Lembro que pensei: esse cara é doido. Escreve sem bijuterias. Daí, depois li tudo que ele escreveu. E fiquei, é claro, extasiado-encantado, sobretudo com suas personagens femininas, protagonistas em grande parte de seus romances.

Jorge Amado

Jorge Amado era antes de tudo um grande contador de histórias. Não foi um artesão da linguagem como Guimarães Rosa, mas ele escrevia uma história como só os grandes fabuladores são capazes, e aí talvez esteja o segredo de seu sucesso junto aos leitores. O próprio dizia ser o escritor menos literário do Brasil. É impossível, no entanto, desgrudar das aventuras dos Capitães de Areia ou de Gabriela, Cravo e Canela antes de terminar os livros. Jorge disse certa vez escrever porque, bem ou mal, era tudo quanto sabia fazer, e porque desejava comunicar-se e ser de alguma forma útil para seu povo. Acho que essa é a grande missão de qualquer escritor: transmitir vida ao seu povo. Poucos sabem, mas o escritor também foi deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB-SP), de 1946 a 1948. No seu breve período enquanto parlamentar deixou como parte do seu legado a emenda 3.218 à Constituição Brasileira promulgada em 1946. Lei que tratava do livre exercício de crença religiosa. Num país de intolerância religiosa como Brasil, a lei ainda hoje é uma segurança jurídica aos religiosos das mais diversas matizes culturais.

Jorge foi “um menino grapiúna”, nascido nas grandes fazendas produtoras de cacau no sul da Bahia no começo do século passado. Sua literatura é profundamente telúrica ao retratar Salvador, a Bahia de todos os Santos e sua gente. Nesse sentindo, o critico literário Alfredo Bosi, destaca no seu livro História Concisa da Literatura Brasileira, que Jorge Amado foi fecundo contador de histórias regionais, e definiu-se certa vez apenas como um baiano romântico sensual. Outra definição curiosa sobre Jorge Amado é a do poeta Vinicius de Moraes. Segundo o poetinha, o escritor baiano era o tipo de cara que entra na sua casa, quebra seus bibelôs e ainda “viola” suas irmãs cantarolando a internacional. Claro, que isso não passa de brincadeira do Vinicius de Morais… Melhor tipo de pessoa o Jorge Amado, né?

Lembro que quando estive em Salvador conheci a Fundação Casa de Jorge Amado no Pelourinho e também a Casa do Rio Vermelho. Inúmeros objetos, vídeos, fotografias, depoimentos, exposições ajudam a guardar a memória do escritor. Foi, sem dúvidas, dois dos locais que durante a minha vida inteira, mais me emocionei ao visitar.
Por fim, só posso é concordar com aquela frase, de quem não sei identificar a autoria, mas os leitores costumam compartilhar nas redes sociais e a usam nas estampas de camisetas: “O Machado era de Assis, a Rosa do Guimarães, a Bandeira do Manuel. Mas feliz mesmo era o Jorge, que era Amado.”

Vamos ler Jorge Amado?

 

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Bruno Paulino
É cronista e aprendiz de passarinho

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Colaboradores LDB

Colaboradores do Blog Leituras da Bel. Grupo formado por professores, escritores, poetas e estudiosos da literatura.

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