O campeão de futebol de botão
Por Bruno Paulino*

Vi dia desses, ilustrando uma reportagem da internet, uma foto do cantor Chico Buarque e do humorista Chico Anysio jogando futebol de botão – ou simplesmente jogo de botão – tendo como árbitro o poeta Vinicius de Moraes. E, é claro que tocado pela fotografia de meus ídolos, logo me lembrei do já distante e saudoso tempo em que eu também jogava futebol de botão.

Nunca tive boa coordenação motora, sempre fui meio atoleimado. Apesar disso, na infância joguei futebol com alguma desenvoltura com os outros meninos na rua, embora muitas vezes terminasse por arrancar a cabeça dos dedos nos paralelepípedos ou no chão de terra batida ao tentar chutar, por jogar descalço. Por esse motivo, cedo abandonei a ilusão de ser um jogador profissional do esporte mais popular do Brasil. Assim sendo fiquei bom em jogos de tabuleiro e videogames. Acabei me tornando um jogador mediano de xadrez, chegando a ser reconhecido por enxadristas mais velhos da região, o que sempre fez muito bem ao meu ego.

Não lembro quando comecei a jogar futebol de botão. Sei que de inicio não tinha o “estrelão”, e o meu Maracanã era o piso verde e liso da sala de casa. Passava horas e horas na rés do chão brincando sozinho e imaginando jogadas e tabelas entre os craques que via na televisão. Como logo perdia a bolinha que vinha nos kits do jogo, a bola que usava era realmente um botão de roupa. E os goleiros, para aumentar o nível de dificuldade de se fazer um gol, substituía por caixas de fósforos cheias de terra. Uma diferença entre meu time de botão e o dos meus colegas era que costumava recortava a cara dos jogadores que saíam na revista Placar – da qual meu irmão mais velho era assinante – e colava no botton com cola branca e fita adesiva transparente. Por exemplo: o camisa 10 do time, o argentino Diego Maradona, tinha um charuto na boca. Era o máximo.

No bairro, o jogo de botão nunca foi uma brincadeira constante como o futebol de travinha, pega-pega ou policia e bandido eram, embora sempre tivesse suas temporadas. No entanto, teve uma vez que a turma resolveu organizar um grande campeonato de futebol de botão, com a inscrição custando R$ 3 – um dinheirão aquela época – e tendo como premiação o sonhado “estrelão” e medalhas para os três primeiros colocados. O campeonato aconteceu na calçada de um amigo durante dois “longos” fins de semanas muito movimentados, com mais de 20 competidores, inclusive competidores de outros bairros. No fim, apesar de toda ansiedade e nervosismo, acabei sendo o campeão. O “estrelão” que ganhei como premiação logo vendi para comprar revistinhas em quadrinhos, e a medalha infelizmente perdi. Mas não tenho dúvidas de que esse seja até hoje o título que mais me orgulho de ter ganhado.

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Bruno Paulino
É cronista e aprendiz de passarinho

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About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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