Umas das discussões que rolam hoje no meio jornalístico – e que preocupa a todos – é a seguinte: com a crise da “imprensa tradicional” quem vai financiar o jornalismo, principalmente aquele destinado a fiscalizar o poder [político, econômica  ou religioso] e o que produz “reportagens de fundo”?

Blogs e sites, que não estejam sob o guarda-chuva do de uma empresa “tradicional”, não dispõem de recurso para fazer uma  investigação, que demanda tempo e dinheiro – sem garantia que, ao fim, haverá algum tipo de resultado.

A crise atual tem uma diferença crucial com as anteriores, superadas pelo jornalismo impresso: pela primeira vez na história da humanidade é possível ter, em uma única mídia – a internet – texto, som imagem e imagem em movimento. Uma revolução equiparável à que ocorreu quando Gutenberg inventou os tipos móveis.

Principalmente nos Estados Unidos vêm surgindo uma alternativa ao e para o jornalismo comercial. São as entidades sem fins lucrativos destinadas à produção do jornalismo  jornalismo investigativo.

Mas elas também vem acompanhada de polêmica. Se estas entidades destinam dinheiro para que repórteres de jornais busquem notícias, a quem caberá a decisão editorial ou a escolha dos temas a serem cobertos? A quem paga ou aos jornais?, questionam algumas vozes.

Segundo informa o blog do Knight Center, um dos mais importantes jornais do mundo, o New York Times estuda receber apoio financeiro de fundações, prática utilizada há bastante tempo por radiodifusores públicos nos Estados Unidos.

O editor-público [ombudsman] do New York Times, Clark Hoyt, escreveu sobre o assunto [em resumo publicado pelo Observatório da Imprensa]: “O Times procura novas fontes financeiras e abre-se a parcerias e acordos bem distantes do antigo modelo em que os editores decidiam o que é notícia, pautavam os repórteres e pagavam suas despesas – tudo isso apoiado por centenas e centenas de anunciantes – mas nenhum suficientemente forte para influenciar o jornalismo”.

Hoyt conta como o NYT deixou um repórter usar o nome do jornal para levantar fundos para a produção de uma matéria sobre uma extensa área do oceano Pacífico coberta de lixo.

Diz também que o Times já publicou matérias em parceria com a ProPublica, “uma entidade investigativa sem fins lucrativos fundada por banqueiros bilionários”.

Essa parceria com a ProPublica  já produziu duas grandes reportagens no Times, mostra Hoyt: uma, de capa, examinando o fracasso dos esforços norte-americanos para a reconstrução no Iraque; a outra, sobre como a Siemens, uma empresa de engenharia alemã, pagou milhões de dólares em subornos pelo mundo afora. O Times e a ProPublica estão preparando um terceiro projeto que poderá vir a ocupar a totalidade da revista de domingo do próximo mês.

Hoyt diz que a ProPublica mantém parcerias com outras empresas jornalísticas importantes – para produzir jornalismo de qualidade “sem distorções políticas perceptíveis”.

Como acontece em toda crise [“A violência é a parteira da história”, dizia o velho Marx] alguma coisa nova vai nascer. O que se espera é que mantenha a direção do jornalismo independente, pois este é um dos sustentáculos da democracia.