"...Sin perder la ternura...": de Hélio Rôla

"...Sin perder la ternura...": de Hélio Rôla

Em sua coluna Política o jornalista Fábio Campos questiona o nome de Che Guevara para o primeiro Cuca [Centro Urbano de Cultura e Arte] que a prefeitura de Fortaleza vai inaugurar na Barra do Ceará.

Fábio pergunta se o nome do revolucionário argentino/cubano seria adequado como “exemplo” para os jovens, o público do Cuca. Pelo tom de suas palavras, ele parece achar que não.

O colunista sugere o nome de João Nogueira Jucá, um rapaz de 17 anos que morreu enfrentando um incêndio na Maternidade Dr. César Cals [na Praça da Lagoinha] para salvar vidas de crianças e mulheres.  O caso aconteceu em agosto de 1959; seu feito completa 50 anos este mês.

Relatos da época dão conta que, mesmo ferido, ele continuava entrando e saindo do prédio em chamas, sempre trazendo mais uma pessoa. Ele morreira alguns dias depois, hospitalizado, em decorrência das queimaduras que sofreu.

Hoje ele é um herói do Corpo de Bombeiros, que instituiu a Medalha de Bravura Herói João Nogueira Jucá. Quem quiser ler um relato sobre a vida de Jucá pode ver o texto Tributo a um herói, escrito pelo tenente-bombeiro José Erivan do Nascimento.

Outro cearense que morreu jovem, lutando por uma causa, foi Frei Tito de Alencar [morto aos 29 anos]. Ou os cearenses no Araguaia, como é o caso de Bergson Gurjão [executado aos 25 anos], cujas ossadas foram agora identificadas.

Muitos outros brasileiros morreram combatendo a  ditadura, poder-se-ia citar Carlos Marighela e Carlos Lamarca, o capitão da guerrilha, que são refências para a esquerda, pelo menos para uma boa parte dela.

Voltemos a Che Guevara, tentando entender as razões que levaram seu nome ao Cuca.

A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, é petista; no PT, ela integra a corrente Democracia Socialista, de corte trotskysta, isto é, seguidora de um dos mais destacados líderes da Revolução Russa, Leon Trotsky.

Trotsky era contra a guerrilha como método revolucionário, que ele considerava deseducativo. Se Trotsky tivesse olhado para Che, talvez o considerasse, no máximo, um pequeno-burguês bem intencionado.

Para Trotsky, o único método revolucionário válido era a mobilização das – desculpem a palavra – massas. Esse caminho era mais difícil, trabalhoso, mas os atalhos, inclusive o da guerrilha conduziriam ao desastre. Diferentemente de “os fins justificam os meios”, Trotsky dizia que os meios estão vinculados aos fins.  Em outras palavras: um “meio” equivocado leva a um “fim” errado. Não se trata, portanto, de uma questão moral.

Então, só me ocorre que a Prefeitura tenha escolhido o nome de Che Guevara por um ato de, digamos assim, de provocação juvenil.

Mas, pensemos bem: nem isso. Che Guevara hoje não é mais símbolo de “revolução” de esquerda. Ele foi apropriado pelo capitalismo, que o incorporou na moda, em relógios, em bebidas, em roupas: a publicidade faz dele gato e sapato. Enfim, a figura de Che Guevara não assusta mais ninguém.

Portanto, se a Prefeitura quisesse levantar o debate sobre se os “heróis” da esquerda merecem ser homenageados sob um regime capitalista; se tivesse escolhido algum dos guerrilheiros que combateram a ditadura de 1964, como os citados acima, teria provocado, com certeza, discussão maior.

Che Guevara obteve reações mornas. Ele é apenas um pôster na parede.