Dicionário do NordesteComecei a me amostrar no Twitter, postando algumas frases e expressões do #cearensês. Fiz algum sucesso: ganhei alguns elogios e seguidores que gostaram da presepada.

O fato é que a linguagem popular – ou nem tanto –  que eu reproduzo no Twitter, nem mesmo tive o trabalho de recolhê-la. Valho-me do mestre Leonardo Mota [Pedra Branca, CE, 10/5/1891-Fortaleza, 2/1/1948] e o seu Adagiário brasileiro e No tempo de lampião. O seu Leota era uma figura: abriu mão de ficar rico alisando o banco de um cartório, que lhe fora destinado, para palmilhar o sertão, serras e tabuleiros do Ceará e Nordeste, recolhendo as expressões que nasciam da boca do povo. Uso também um e outro “dicionário” de cearensês, todos devedores de Leonardo Mota.

Mas o introdutório – que o bom jornalismo refuga – é para dizer que um dos meus “seguidores” no Twitter [a quem eu também sigo] é um cidadão pernambucano, que paga algumas de suas penas na poluição, no trânsito e no clima destrambelhado de São Paulo. Seu nome é Fred Navarro.

Pois não é que o Fred é autor do Dicionário do Nordeste, um livro com mais de 5.000 palavras e expressões da nossa bela região?

E não é que Fred, a quem eu só conheço virtualmente, me manda o livro, que chega ligeiro-bala, via Sedex? E ele escreveu na dedicatória: “Com um abraço amigo e twitteiro e pernambucano”.

É um livro, como diz, no prefácio o linguista [linguista é um sujeito que odeia o professor Pasquale] Marcos Bagno, no qual se encontra “o falar nordestino, recheado de metáforas que vão do mais lírico ao mais terra-a-terra”.

Para escrevê-lo, Fred pesquisou mais de 200 livros, ouviu cerca de 100 discos com a temática nordestina, viu alguns filmes e demorou-se oito anos.

O livro é um dicionário e você não quererá lê-lo como se romance fosse, mas dá gosto abri-lo aleatoriamente, rir-se de algumas expressões que se já conhece, surpreender-se com outras que não se conhecia, espantar-se com a criatividade com que a língua é usada, transformada, refundida.

É uma obra de consulta; ganhou um lugar nobre na minha modesta biblioteca, ao lado do mestre Leonardo Mota. Vou visitá-los sempre.

[A propósito: a Estação liberdade fez uma edição caprichada do livro, ilustrado com xilogravuras e a bico-de-pena.]