1. Caetano Veloso é um provocador profissional; ao dizer que Lula “não sabe falar, é cafona, grosseiro e analfabeto” ele quer apenas gerar polêmica e ser pichado por petistas, o que ele vai adorar. [Aliás, que cafona as palavras “cafona” e “pichar”, não?] Caetano é como o Chacrinha, não quer explicar nada, só quer confundir.

1.1. A propósito, Lula não “fala errado”; como ensinam os linguistas, ele fala uma das variantes do português, adotada por milhões de brasileiros. Ainda que falasse “errado”, ele teria de ser julgado pelo seu governo e não pelos seus supostos erros gramaticais. E, a propósito, ele vem “errando” cada vez menos; sinal que, mesmo com escolaridade formal baixa, ele aprende muito mais ligeiro do que certos intelectuais e artistas.

2. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu um tiro no pé [não dele, especificamente], mas na candidatura de José Serra a presidente [isto é, se o governador de São Paulo resolver sê-lo, deixando de lado uma reeleição que parece fácil], ao escrever um artigo criticando o governo do presidente Lula. FHC –  para os candidatos do PSDB – transformou-se meio que naquele tio incoveniente que todo mundo quer esconder quando chega visita em casa.

2.1. Não se trata de saber se FHC tem ou não razão nas críticas que faz, mas a comparação entre os dois governos é tudo o que o PT pediu a Deus,  para fazer vingar a sua tese de eleição plebiscitária. Com a popularidade de Lula em torno de 80%, segundo as pesquisas, qualquer comparação será desfavorável ao PSDB. E, justa ou injustamente [em política o que vale é a versão], FHC e José Serra carregam o rótulo de pessoas frias, arrogantes, que não gostam de pobres nem de nordestinos.

3. Lula acertou na primeira parte da resposta a Caetano e FHC: “Tem muita gente que acha que inteligência está ligada à universidade”, não está, de fato, somente. Mas errou a mão na segunda, ao criticar o projeto do PSDB de dar “aulas” de formação para cabos eleitorais no Nordeste para treiná-los a combater [com palavras, ressalve-se] o governo Lula e fazer frente à esmagadora preferência que a região tem pelo presidente.

3.1. Lula, ao comparar a Escolinha do Professor Raimundo do PSDB, a uma atitude nazista ou hitlerista passou da conta e, aí sim, afrontou a inteligência alheia. “É um pouco o que Hitler dizia para os alemães; ou seja, vamos treinar gente para não deixar que eles sobrevivam”, disse. A comparação é injusta e um equívoco monstruoso do ponto de vista histórico – e Lula deve saber disso.

3.1.2. Então, vamos combinar o seguinte: a) o PSDB tem o direito de desenvolver o seu projeto; b) Lula tem o direito de criticá-lo; c) mas, exercer a Presidência reveste-se, também, de uma função educativa e pedagógica, e o presidente devia dar-se conta disso ao fazer seus discursos.

4. No mais, preparemo-nos, com o acirramento da campanha eleitoral, vamos ter de ouvir muitos absurdos… de todos os lados.

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