O texto, publicado no Observatório da Imprensa, mostra como era o tratamento na prisão de Guantânamo, mantida pelos Estados Unidos.

Mesmo com a promessa do presidente Barak Obama de fechar a prisão no início do próximo ano, essa será uma mácula de permanecerá na democracia americana.

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AL-JAZIRA
Jornalista preso em Guantánamo volta à ativa

Larriza Thurler (seleção, tradução e edição) em 29/12/2009

Dos 779 presos – suspeitos de terrorismo, simpatizantes do al-Qaeda ou considerados inimigos do exército americano – no centro de detenção americano na Baía de Guantánamo, em Cuba, apenas um era jornalista. O sudanês Sami al-Haj trabalhava para a al-Jazira como cinegrafista quando foi parado por forças paquistanesas na fronteira com o Afeganistão, no final de 2001. O exército americano o acusou de, entre outras ações, falsificar documentos e entregar dinheiro para rebeldes chechenos, embora ele nunca tenha sido incriminado formalmente por nenhum crime durante os anos que ficou sob custódia.

Agora, mais de um ano após ter sido solto, Haj está de volta ao trabalho na rede de TV árabe, chefiando uma seção destinada a direitos humanos e políticas públicas. “Quis falar por sete anos, para compensar os sete anos de silêncio”, contou. Desde os ataques do 11/9, para os telespectadores da al-Jazira no mundo árabe nada prejudicou mais as percepções dos EUA que a prisão da Baía de Guantánamo. Por isso, Haj – que preparou uma série de seis episódios sobre ela após ter sido solto – é uma arma potente para a rede.

O ex-prisioneiro de Guantánamo, no entanto, não quer restringir seu trabalho apenas à prisão. Ele ampliou a cobertura da al-Jazira sobre temas como a liberdade de imprensa no Iraque, a situação dos palestinos que estão em prisões de Israel e as implicações do Ato Patriota dos EUA, que dá ao governo americano poderes de caçar suspeitos de terrorismo. Em agosto, por exemplo, ele forçou a al-Jazira a cobrir uma greve de fome de prisioneiros políticos na Jordânia.

Fé na democracia

Mesmo após sua experiência na prisão e vivendo e trabalhando em um país repressivo e violento, ele mantém a crença na democracia e nas leis. Ele chegou a ser torturado na prisão na base aérea do Afeganistão, antes de ser transferido para Cuba. “Vi muitas coisas que não deveria ter visto”, relembra. Haj acredita que foi enviado para Guantánamo por ser jornalista. “Certa vez, em um interrogatório, me perguntaram quanto bin Laden pagava à al-Jazira pela propaganda”, afirmou. “Você está fazendo a pergunta errada. Ele não é um anunciante da al-Jazira, ele é notícia”, respondeu na época.

Quando estava preso, tentou continuar exercendo jornalismo, escrevendo relatos para seus advogados e familiares, como abusos de prisioneiros. “Achei que tinha que documentar tudo para a história, para que a próxima geração saiba a profundidade dos crimes que estavam sendo cometidos”, revelou. Apesar de o presidente americano Barack Obama ter planos de fechar a prisão de Guantánamo até o mês que vem, ainda restam quase 200 presos no local, que serão transferidos para os países de origem ou julgados nos EUA. Informações de Brian Stelter [New York Times, 23/12/09].

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