O POVO publica hoje matéria mostrando que sem-teto, que trabalham coletando material para reciclagem, ocuparam uma calçada na rua Teresa Cristina, no Centro de Fortaleza.
O repórter foi até o local depois de postagem aqui publicada, em que uma leitora se queixava que eram as mesmas pessoas que foram retiradas da Praça Clóvis Beviláqua, por uma ação da Prefeitura de Fortaleza – Secretaria Extraordinária Regional Centro.
A própria desocupação da Praça Clóvis Beviláqua [em frente à Faculdade de Direito da UFC] deu-se após matéria publicada no O POVO, comentada neste blog.
Promessas
Quando se mostrou o estado deplorável da Praça Clóvis, Luiza Perdigão, titular da Secretaria do Centro, fez duas promessas, confrome registrou a matéria:
«Luiza Perdigão afirma que ainda neste mês de dezembro [2009] a Praça Clóvis Beviláqua (Praça da Bandeira) será desocupada. Os catadores de material reciclável que estão morando no local serão atendidos por políticas públicas existentes no município, através do Grupo de Trabalho (GT) de Moradores de Rua, que congrega diversos órgãos municipais.»
A primeira parte da promessa ela cumpriu; a segunda, ela resolveu transferindo o problema para outro ponto do Centro da cidade.
Discurso
Agora, vejam o que Luiza Perdigão declara na matéria da edição de hoje:
«O vizinho está incomodado? Deve estar. Mas vamos resolver. Não é somente jogar embaixo do tapete. Os catadores são pessoas que existem, merecem dignidade, e prestam um serviço fundamental, que é a coleta de lixo reciclável.»
1. Posso estar enganado, mas o comentário que ela faz sobre o “vizinho” carrega um tom de crítica ou uma leve ironia.
2. Quem é que pelos menos sugeriu “jogar embaixo do tapete” o problema? Quem é que está querendo tratar os sem-teto de modo indigno? Quem está querendo impedir o trabalho deles?
Quem fez a promessa de atendê-los com as “políticas públicas” da Prefeitura foi a própria secretária. Portanto, é ela que tem de se responsabilizar por cumpri-la, sem ironizar os moradores da rua Teresa Cristina e sem mania de jogar o problema para outros, com um discurso social moralista, revelador da inoperância de quem deveria tomar as providências para solucionar o problema – tanto dos catadores de material reciclável como dos moradores da rua, que tem sua razão na queixa.
Caro Plínio,
Num posto recente, você escreveu (ou transcreveu):
“Vejam o comentário de ‘Samélia’ deixado no post Fortaleza e Campinas e a terra de ninuguém, assunto também abordado na postagem Praça Clóvis Beviláqua vira banheiro a céu aberto”:
«Olá Plínio. Que bom saber que temos pessoas que se incomodam e se importam com esta Fortaleza, terra de ninguém! (…)
(…) pessoas que se dizem moradores de rua que ocupavam a Praça da Bandeira (…) e foram retiradas de lá, resolveram ocupar a calçada da rua onde moro (…) disseram que foram retirados de lá porque é espaço público e que foi prometido, não sei por quem, um lugar para eles, e como a rua em que moro não é espaço público, eles resolveram privatizá-la. Fecharam a calçada com carro de reciclagem, passam o dia com uma churraqueira funcionando (queimada urbana) e de forma repentina tiraram férias no ano Novo para curtirem e voltaram providecialmente no dia 1º à tarde.
É, Fortaleza, você é terra sem lei!!»
COMENTÁRIO: Se isso não é tratar os sem-teto de modo indigno, eu fico imaginando o que seria tratá-los de modo indigno.
Caro Nelson,
1. Você tem compreensão suficiente para saber que o texto NÃO foi por mim escrito; portanto, a sua suposta dúvida sobre a autoria busca apenas confundir algum incauto. Responsabilizo-me pela transcrição – o que não quer dizer que concorde com seus termos -; eu, certamente, redigiria de modo diferente, mas o cerne do problema seria o mesmo.
2. Quem trata de forma indigna os sem-teto são aqueles que lhes fazem promessas e depois não as cumprem.
Plínio
Caro Plínio,
Tanto sei que NÃO foi escrito por você que inicio dizendo: “Num post recente, você escreveu (ou transcreveu)…”.
Além disso, o texto da ‘Samélia’ está devidamente entre aspas da mesma forma do original que você reproduziu no post e se inicia com um “Olá Plínio” (transcrito por mim, para deixar claro a autoria). Também fiz questão de transcrever o início de seu comentário que inicia assim: “Vejam o comentário de ‘Samélia’ deixado no post Fortaleza e Campinas e a terra de ninuguém (sic)…”
Agora, expressões (da Samélia) como: “pessoas que se dizem moradores de rua…”.
Que se dizem?? Então a Samélia está duvidando da palavra deles, da condição deles?
Continua a Samélia (reproduzida por você em seu blog): “e como a RUA em que moro NÃO é espaço público, eles resolveram privatizá-la” (maiúsculas minhas).
Nesse particular, além da ironia em dizer (sugerir que os sem-teto acham isso) que “rua não é espaço público”, acusa os sem-teto de ter “privatizado” a rua.
E continua (a Samélia) com suas ironias (e acusações):
“Fecharam a calçada com carro de reciclagem.” (…) “passam o dia com uma churrasqueira funcionando (queimada urbana)” (…) “tiraram férias no ano Novo para curtirem e voltaram providecialmente (sic) no dia 1º à tarde”.
Passam o dia com churrasqueira funcionando??? Passam o dia??? Então eles não fazem mais nada? A matéria de O POVO de hoje (aliás, muito respeitosa com os sem-teto – registre-se isso), informa que apenas um deles (em revezamento) cozinha para os outros.
Queimada urbana??? Então preparação de almoço de sem teto é “queimada urbana? E o que dizer das churrascarias chics da cidade? São também “queimadas urbanas” – ou não?
Meu caro Plínio, para mim ficam evidentes duas coisas: 1) A questão de classe por detrás de tanta ironia e acusações (repercutidas); e 2) Uma enorme má vontade, antipatia mesmo, com a Prefeitura – e nesse segundo caso, tanto da parte da Samélia quanto da sua, que a repercute. Desculpe-me, mas é o que acho – por este e por outros posts.
Fico por aqui.
Um abraço,
Nelson Eulálio
Caro Nelson,
Eu não tenho nenhuma “antipatia” pela Prefeitura, o problema é que Fortaleza é um verdadeiro caos urbano: só não vê quem não quer.
Plínio
Caro Plínio,
Caos urbano mesmo, daqueles prá ninguém botar defeito, é (está) São Paulo. Naturalmente, você tem acompanhado o noticiário.
Claro que acompanho, Nelson,
mas eu moro em Fortaleza; se morasse em S. Paulo, o nome da seção poderia ser “São Paulo, terra de ninguém”. : )
Plínio
Não sei qual é o nível de racionalidade de alguns gestores da PMF quando tentam ludibriar-nos com certas respostas. E se alguém afirmar que quero prejudicar a PMF, vou logo dizendo, não sou filiado a nenhum partido, sou apenas cidadão.