Abordei pela primeira vez a possibilidade de se instalar um estaleiro para a construção de navios para a Petrobras na Praia do Titanzinho neste post [embaixo do qual há linques para outros em que falei do assunto]. Devido às características do bairro Serviluz, onde fica a Praia do Titanzinho, defendi que o equipamento fosse instalada em outro local, como o Porto do Pecém, por exemplo.
No retorno das férias pego de proa a ofensiva política do governador Cid Gomes para instalar o estaleiro no Titanzinho, entre a Beira Mar e a Praia do Futuro, dentro da cidade, um local que me parece inadequado para equipamento de tais proporções.
Vontade
A disposição do governador é tanta em defender o empreendimento no Titanzinho que ele saiu de uma posição de “não leio jornais” no início de seu governo para uma visita ao O POVO, munido de seu indefectível notebook, seus precisos gráficos e sua lógica de engenheiro.
Foi peremptório ao dizer que “não existe mais a alternativa Pecém”; ou se faz no Titanzinho ou o Ceará perde o estaleiro. Afirmou que, devido as características do porto do Pecém o projeto encareceria R$ 300 milhões. Que o estaleiro poderia conviver com as atividades de surfe desenvolvidas no Titanzinho e que não inviabilizaria o projeto da Prefeitura de transformar o o bairro Serviluz em área turística, com espaço para shows, etc.
Afirmou – um argumento recorrente – estar “imbuído […] da melhor das intenções”, pois o estaleiro geraria “oportunidade de trabalho” para os cearenses, especialmente aos moradores do Serviluz, um bairro habitado por população de baixa renda.
Das boas intenções de Cid Gomes não há motivo para duvidar, mas esse é um argumento irrelevante no debate, mesmo porque, quem defende a instalação do equipamento em outro local, deve ter os mesmos sentimentos do governador.
Com a mesma determinação de propósito, Cid já atropelara a, digamos assim, liturgia que deve reger a relação entre o poder estadual e o municipal e convidou vereadores representantes do Serviluz, junto com o presidente da Câmara, Salmito Filho [PT] para uma conversa. Isso antes de falar com a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, sua aliada política – e do mesmo partido do presidente da Câmara.
Batendo bumbo
Salmito saiu do encontro com o governador batendo bumbo a favor do projeto. Ele preferiu priorizar a disputa – por ora surda, por vezes aberta – que mantém com a prefeita e sua colega de partido a manter uma postura um pouco mais prudente que se esperava de quem dirige o poder legislativo municipal, por onde o debate forçosamente passsará.
Ressalvando ou para além das boas intenções que movem os que se envolvem neste debate, sobram os argumentos técnicos e sociais: incluindo a questão ambiental, geração de emprego, alternativa de renda para os moradores etc. Enfim, qual a alternativa melhor atende aos interesses da população fortalezense e, mais especificamente, dos moradores diretamente envolvidos na questão?
De qualquer modo, creio que o debate tem de avançar mais, sem ameaças do tipo “tudo ou nada” e sem preconceitos contra o “poder econômico”; pois somente grandes investidores é que podem fazer um estaleiro de tal porte. E, também, sem o preconceitos de classificar como “românticos” [se é que ser romântico é algo negativo] aqueles que defendem propostas alternativas para o Titanzinho.
Perguntas
1. A construção de um estaleiro é fator de degradação do meio ambiente?
2. É possível conciliar o projeto do estaleiro com a proposta que a Prefeitura tem para o local?
3. Será possível a continuidade de projetos sociais – ligados ao mar – hoje existentes no Serviluz?
4. Considerando toda a costa cearense somente na Praia do Titanzinho é possível construir um estaleiro?
5. Mesmo que o projeto encareça R$ 300 milhões não seria economicamente viável encaminhá-lo para o Pecém já que a Prefeitura também promete fazer um projeto turístico no Serviluz – ficando assim o Ceará com dois projetos geradores de emprego e renda?
Comentário
Ainda existe outra questão, a Prefeitura diz ter um projeto para o Serviluz e Titanzinho, mas até hoje ninguém o viu. Portanto, é preciso apresentá-lo para mostrar o que a administração municipal pretende fazer lá: os equipamentos que pretende construir, o benefícios que terão os moradores, quando custará projeto, quando ficará pronto, etc.
Caso contrário, será a disputa de um projeto com preço, prazo e objetivos determinados contra a vaga idéia de transformar o Serviluz em um lugar idílico, para não dizer “romântico”. : )
O problema é que ninguém acredita em qualquer projeto viável da atual gestão.É uma falta de credibilidade adquirida que sedimentou-se no consciente popular.É uma pena.
Caro Plínio,
Sou fã suspeito da sua sensatez e equilibrio!
Penso eu, que a população de Fortaleza, tem pela primeira vez o previlégio de poder participar da decisão de um empreendimento tão importante e impactante em vários aspectos.
Pelo que conheço do Gov Cid Gomes e da capacidade agregadora da Prefeita Luizianne Lins, acredito que ambos chegarão a um consenso sobre o que é melhor para o estado do Ceará e para a cidade de Fortaleza, em particular os mais pobres. Espero que nao desperdicem essa oportunidades, Do contrário todos perderemos, correndo o risco de tumultuarmos um processo de avanço das questões sociais, econômicas e das pautas populares que está em andamento no Ceará. Apelo para o pacto social, assim chegaremos ao que todos queremos um Ceará mais igual, justo e plural, é hora de ouvir e incorporar o que o povo tem a dizer!
Caro,
para mim é um assunto de alta complexidade, e por assim, difícil de termos um entendimento rápido e conciliatório. Minha impressão do assunto é que esse esta cercado de boas intenções de ambas esferas de governo, com a excessão do presindente da Câmara que usa o assunto como palanque. Na intenção de ter uma opinião, hoje sou contra o local. Os pontos positivos me parecem de curto prazo enquanto os negativos parecem de impacto mais longo. Acredito que a defesa de cada ponto deva ser levada a população de forma mais clara. Sugiro que os meios de comunicação abram esse espaço. Assim espero que as opiniões não sejam formadas em reuniões fechadas e para poucos convidados.
Stenio
Sem querer entrar no complexo mérito da questão, apenas relembro que algumas grandes e bonitas metrópoles de hoje romperam com seus equipamentos portuários para ressuscitar zonas mortas da cidade. Oslo, Sidney e Barcelona são exemplos disto. Revitalizaram tudo aquilo que era decadente e feio dos antigos portos para zonas iluminadas e cheias de vida. Aí vem sábios políticos de Fortaleza quererem fazer o contrário?