Em resposta ao artigo do secretário da Segurança Pública do Ceará, Roberto Monteiro, publiquei o artigo abaixo na edição de hoje [27/2/2010] do O POVO.
O que nos move
Plínio Bortolotti
No artigo Voyeurismo e o teratológico (edição de terça-feira, 23/2), o secretário da Segurança, Roberto Monteiro faz a defesa de sua correta resolução proibindo delegados de exibirem presos, que antes eram esculachados (para usar um termo próprio do meio) por “repórteres“ de programas
policiais inescrupulosos.
Em uma das passagens, faz esta citação: “Essa ânsia incontrolável (de tudo expor) tem levado até mesmo profissionais e órgãos de imprensa de reputações ilibadas a cair em tentações traiçoeiras como a de publicar, verbo ad verbum (literalmente), o laudo de exame cadavérico de uma infeliz criança violentada e morta por um facínora impiedoso. O que ganhou a sociedade cearense em saber como ficaram as partes íntimas daquela coitada, após os abusos que a que fora submetida pelo seu algoz? Provavelmente, o mesmo que ganhava, até bem recentemente, ao assistir a um misto de truão e repórter entrevistar presos nas delegacias de polícia para lhes indagar se as esposas iriam ou não os trair enquanto estivessem atrás das grades“.
O secretário não cita o nome do jornal que publicou o laudo mostrando o horror a que a menina Alanis Laurindo foi submetida. Revelo aqui: O POVO.
Se o secretário tivesse escrito o título deste jornal, o seu artigo teria sido publicado do mesmo jeito, pois este é o método do O POVO: abrir-se ao debate, aceitar a crítica, sustentar polêmicas de interesse da coletividade – como fez ao defender, em editorias, a política do secretário de preservar a imagem de suspeitos.
Esse debate não nos passou em branco. Havia os que achavam que o laudo deveria ser publicado da forma crua – como um grito de alerta e indignação -, e os que entendiam que o relato deveria ter sido feito de outra forma. Eu me alinho com o segundo grupo, mas garanto ao secretário que não passou pela cabeça de ninguém fazer sensacionalismo para vender jornal e, menos ainda, de tripudiar sobre a dor da família.
Reconheço que Roberto Monteiro fez a diferença entre os “truões“ e o jornalismo ético – que não está livre de cometer algum deslize – nos pondo no grupo dos que fazem bom jornalismo. Mesmo assim, creio que essas palavras precisavam ser ditas.
Plínio, não interessa se não passou pela cabeça de vocês ou não tripudiar sobre a dor da família. O que interessa é que a publicação de detalhes escatológicos do laudo foi um soco no estômago não só da família mas quase todos os leitores. Não há como deixar de comparar o comportamento do jornal nesse caso com o modo como se comportou quando da morte do Demócrito,quando, para poupar a família, nem a causa da morte foi noticiada.
Oi,
eu ia escrever um comentario elogiando o secretario, mas, ao ler o do Luciano, mudei de ideia. Na mosca. Eh isso mesmo.
Quanto ao O Povo, soh resta elogiar a postura nobre e correta de abrir espacos como este, onde se pode criticar o proprio jornal. Abracos,
Caro Plínio,
Essa atitude de O POVO foi e é indefensável. Não adianta tentar defender pois as “emendas sempre ficarão pior que os sonetos”. A única coisa que o jornal poderia ter feito seria um pedido desculpas aos leitores e, principalmente, à família da criança.
Plínio,
Intrepreto essa situação da seguinte forma. Há duas questões em aberto. Primeiro, qual a justificativa do jornal ter feito a matéria da forma que fez? Compreendi que houve dúvidas. Mas qual foi a razão que suportou a decisão de noticiar? Eu ainda não sei qual foi e não creio que tenha ficado claro ao leitor.
Segundo, depois de noticiado, o jornal considera que errou? Se sim, um pedido de desculpas seria muito bem vindo. Se não, nada a dizer a não ser compreender que as interpretações diversas são o pagamento por ter agido em favor da razão que balizou a decisão.
Vasco
Caro Vasco,
Manifestei uma opinião pessoal. No O POVO, mesmo no cargo que ocupo, temos liberdade para isso. Quanto às interpretações diversas, o jornal sempre abriu espaço para que elas se manifestassem. O próprio artigo do secretário atesta isso.
Agradeço seu comentário,
Plínio