Artigo semanal que publico no O POVO, na edição desta quinta-feira (6/5/21010):

Crianças no pau-de arara

Plínio Bortolotti

“Um menino de 10 anos de idade morreu no início da noite da última quarta-feira, no município de Alto Santo, na região do Baixo-Jaguaribe, a 247 quilômetros de Fortaleza, depois de cair de um veículo D-10, que era utilizado como transporte escolar para crianças da zona rural da cidade.”

São freqüentes notícias como essa reproduzida acima, publicada na edição de sexta-feira do O POVO. Infelizmente, não será a última vez que você lerá algo parecido, se as autoridades públicas, os tribunais e a Justiça não tomarem medidas duras contra os prefeitos do interior que continuam a utilizar caminhões e camionetes – veículos próprios para carregar animais – como transporte escolar no Ceará.

Conhecidos como pau-de-arara, tais veículos não reúnem condições mínimas de segurança para transportar crianças em idade escolar. Os caminhões são cobertos com uma lona e improvisam-se alguns bancos de madeiras, onde as crianças viajam sentadas – ou em pé – sujeitas a queda a qualquer solavanco ou a desequilíbrio em curva mais acentuada – expostas a todo tipo de acidente. Os caminhões, normalmente, são de parentes ou aderentes dos prefeitos.

Em junho do ano passado, em viagem com a equipe do O POVO para uma reportagem sobre educação, Alto Santo foi uma das cidades visitadas. Pelas palavras da secretária da Educação, o setor comandado por ela, ia de bem a melhor.

Ao sairmos da secretaria, deparamos com dois paus-de-arara carregados de estudantes. Voltamos – eu e o repórter Demitri Túlio – para confrontar a secretária com a realidade. A desculpa foi a mesma que ouvimos em outras cidades que se utilizam desse método degradante para transportar crianças: estradas intransitáveis; falta de verba.

Por que não consertam estradas?; por que não fazem projetos para conseguir verba? Descaso, incompetência ou os dois?