Meu artigo semanal publicado na edição desta quinta-feira (3/6/2010) no O POVO.
Coisas que eu não entendo
Plínio Bortolotti
Afirma-se que jornalista é um especialista em generalidades. (Eu prefiro dizer que jornalista é aquele cara que sabe quase nada de quase tudo.) Assim, como observador superficial, estou meio confuso com o que vem acontecendo na cena internacional.
Em março, um submarino da Coréia do Norte afundou um navio de guerra sul-coreano matando 46 marinheiros. O governo norte-coreano alegou que a corveta invadira suas águas territoriais. Os sul-coreanos dizem que o ataque foi em águas internacionais.
A belicosa secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, condenou, aprioristicamente, a ação, exigindo “resposta internacional” (sanções) contra os norte-coreanos.
Esta semana, um comando das forças armadas de Israel (que dispõe de um dos exércitos mais bem treinados e mais bem armados do mundo) atacou comboio de navios que ia levar ajuda humanitária aos palestinos da Faixa de Gaza. Mataram uma dezena de ativistas, acusando-os de estarem “armados” com bastões e baladeiras (também conhecidas como estilingues).
A Casa Branca não condenou o ataque. Limitou-se a dizer que estava procurando “entender” o que havia acontecido. Ainda assim, os EUA votaram contra resolução da ONU de enviar missão internacional para investigar a violação de leis internacionais.
Pergunto: se as duas situações são praticamente idênticas, sendo que o confronto coreano foi entre duas naves de guerra, por que o governo americano lhes dá tratamento tão diferenciado?
O Irã vem sendo pressionado, Estados Unidos à frente, pelo uso de energia atômica – segundo alega Teerã, para fins pacíficos. Mas, recentemente se “descobriu” que Israel não só possui, como tentou vender armas nucleares para a África do Sul (durante o regime do apartheid): nenhuma censura americana. Pergunto: por quê?
Uma possível resposta seria dizer que o Irã é país “irresponsável”. E quem tenta vender armas atômicas é o quê? Mas o Irã é uma ditadura. Sim, e a China – com a qual os Estados Unidos têm ótimos negócios –, também não é?
Alguém pode me ajudar a entender?
Plínio, apesar de saber que você (isto, com certeza: “tudo”) sabe, darei uma dica para responder a sua pergunta: A FÁBULA DO LOBO E DO CORDEIRO.
Caro Danúzio,
Boa pista, mas vamos esperar que o fim não seja igual ao da fábula.
Plínio
Caro Plínio,
você bem sabe as respostas para suas perguntas. Só não responde por uma questão de postura profissional.
Longe de uma posicionamento revanchista e até irresponsável daquela esquerda adolescente, você bem sabe que a relação entre os EUA e Israel é uma questão estratégica pelo fato deste ser o único aliado dos norte-americanos em toda a região. Além, é claro, das questões comerciais, posturas políticas (democracia demagógica), ideológicas (no caso de Israel reivindicar sempre a questão do Holocausto para se fazer de vítima) e até questões religiosas…
Mas admiro a forma como você conduz o leitor. Acompanho seu trabalho desde ombudsman. Um grande abraço
Caro Platini,
Recentemente o artista plástico Vik Muniz deu entrevista para as Páginas Azuis do O POVO e disse o seguinte, a respeito de sua obra – algo que serve muito bem para os jornalistas:
“Mostrar uma coisa da maneira que você está vendo, sem querer convencer ninguém, é a melhor maneira de contribuir para uma consciência política”.
Agradeço a sua leitura e seu comentário.
Abraço,
Plínio
Plínio, os ativistas estavam realmente armados de paus, barras de ferro e mesmo de estilingues como bem mostram os filmes divulgados amplamente sobre o incidente.
Nesses filmes é mostrado também que os soldados não desceram atirando e que foram atacados pelos ativistas com paus, barras de ferro e outros tipos de armas, somente depois de ser atacados os militares reagiram.
O evento não guarda semelhança com o ataque norte coreano, fora o fato de ambos terem se dado em águas internacionais. Um submarino da Coréia do Norte torpedeou um navio sul coreano. A regra, para o caso do barco sulista ter invadido as águas territoriais do país ao norte seria primeiro advertência, com pedido de afastamento de suas águas territoriais e só então afundamento. A Coréia do Norte pulou a primeira parte…
A diferença entre o Irã ter ou Israel ter armas atômicas se prende justamente ao fato de nunca se ter ouvido algum político ou militar israelense ameaçando outras nações de aniquilação nuclear como o Irã tem feito seguidamente.
Acorda Saulo,
á imparcialidade americana é historicamente irretocavel. Não bastasse a interferencia politica e estrategica a favor de todas ditaduras liberais e cruentas na America Latina. O apoio irrestrito ao Aparthaid, regime pós nazista, sul-africano, as guerras separatistas da Coreia e do Vietnã, a ocupação do Afeganistão, e do Iraque, apenas pelo fato de possuirem petroleo. O apoio a Sadam Russeim no confronto com o Irã. Se concordas com tudo isto, fazer o quê?
Maurílio
Onde eu falei que concordava com alguma coisa do que você fala no seu comentário???
Eu apenas me ative a Israel e aos demais países. Eu falei em Direito Internacional, Leis Navais e Leis de Guerra. Em todas elas e sob todos os aspectos Israel agiu corretamente. A propósito, Iara Lee, a doidinha idiota útil usada pelo tirano que governa o Irã, pelo tirano que governa a Turquia e pelos chefes da quadrilha hamas para criar um incidente internacional confessou que seus tão trombeteados filmes não continham nada que incriminasse Israel (se bobear tem justamente o contrário).
Você fala em imparcialidade americana (na verdade deveria ter dito estadunidense, nós todos somos americanos…), mas lembre-se que nações não tem amizades tem interesses.
Partindo daí os EUA foram em socorro da Coréia do Sul quando aquele país foi atacado pela Coréia do Norte em 1950, a mesma coisa com o Vietnã. Em ambos os casos os países comunistas atacaram e não o contrário. OS EUA tinham um acordo de defesa e tiveram que cumprí-lo.
O Afeganistão não foi privilégio estadunidense, ingleses e soviéticos também estiveram lá e apenas os ingleses lograram conseguir algum sucesso.
O apoio a Saddam na guerra do golfo se deu por causa da revolução iraniana, com a longa ocupação da embaixada norte americana. “Inimigo do meu inimigo é meu amigo” é um conceito muito usado por islâmicos e esquerdistas, veja a aliança Hugo Chavez-Ahmadinejad ou Lula-Ahmadinejad-Hugo Chavez-Evo Morales e por aí vai, tudo para ser contrário aos EUA.
Você deveria reler meu comentário, acho que não entendeu nada ou não leu bem lido…