Meu artigo publicado na edição desta quinta-feira [1º/7/2010] no O POVO.

A seleção e a imprensa
Plínio Bortolotti

Volto ao técnico da seleção brasileira, depois de artigo no qual já abordara a questão em Eu simpatizo com Dunga (23/5). Torno ao assunto para falar da relação entre imprensa e treinador.

Acusa-se Dunga de ver a imprensa, de modo geral, como inimiga. O que é verdade. Mas assim a veem todos aqueles que detêm algum tipo de poder, seja ele político, econômico, religioso ou esportivo. É nesse espaço que os jornais têm de transitar – e já deveriam estar acostumados.

Se Dunga é mal-humorado (e é) com jornalistas, a recíproca é verdadeira. Pelo menos a se levar em conta que eu tenho visto nas entrevistas coletivas, principalmente naquela, pré-Copa, em que ele anunciou os jogadores da seleção. O técnico não foi submetido ao confronto de ideias, saudável e próprio do jornalismo, mas a uma espécie de inquisição, na qual ele era o réu. Os jornalistas, a maioria, faziam o papel de acusadores ou de torcedores indignados, porque o técnico havia deixado de fora um ou outro jogador da preferência deles. Mas, afinal, os caras estavam lá como jornalistas ou como torcedores?

Estamos na era em que alguns jornalistas se acham mais importantes do que a notícia – e alguns não admitem ser contrariados nem mesmo pelos fatos. Jornalista bom aparece pouco. Jornalista não é celebridade. Se quiser ser uma, que aprenda a jogar bola ou a representar (se bem que isso alguns já sabem).

Talvez seja esse o motivo da cobertura sofrível que a Rede Globo vem fazendo – depois de Dunga ter-lhe cortado os privilégios -, mesmo com uma equipe de 300 profissionais na África do Sul.

Outra coisa interessante nesta questão: vilipendiado por muitos, Dunga de repente virou herói nacional ao dar o chega prá lá na Globo.Valeu para os adversários da poderosa rede a máxima: inimigo de meu inimigo é meu amigo, algo a que não me alio, pois o rancor costuma toldar o raciocínio.