De um leitor, recebi as fotos e o texto abaixo, em e-mail com o título “Um triste símbolo da Fortaleza que se luxa e que se lixa”:
«Que tal seria morar num prédio de alto luxo, novinho e bem localizado no Meireles, na esquina das ruas Tenente Benévolo e Carlos Vasconcelos?
Que tal, se você não precisasse se preocupar em comprar gás de cozinha, morando num edifício “inteligente” onde o gás é comprado a granel e chega ao seu fogão através de uma segura e confortável tubulação. Basta conectar a mangueira na parede, acender o forno e fazer um belo almoço!
Acha pouco?
Ok, então que tal se no seu apartamento até a água mineral fosse encanada?! Você só precisaria abrir a torneira, encher o copo e matar a sede com uma água puríssima, saudável, cheia de sais minerais. Hein? Te convenci agora?
Espero que não, pois esse prédio, infelizmente, é um monumento ao egoísmo e à incivilidade. É um símbolo perfeito do que Fortaleza está se tornando. Cada um que cuide de si. Cada um que se cerque de todo luxo que for capaz de pagar e que se lixe para o comum, o público, o de todos.
O tal prédio “inteligente” foi projetado com centrais de gás e água mineral que proporcionam enorme conforto aos moradores, mas ninguém se deu ao trabalho de projetar espaços adequados para descarga desses materiais. Não há uma doca ou um estacionamento interno para os caminhões graneleiros. Talvez não seja “inteligente” se preocupar com isso, já que eles podem parar na rua…
O processo de abastecimento leva praticamente uma hora. Como você pode ver nas fotos que te envio, durante todo esse tempo, os caminhões estacionam no meio da Tenente Benévolo, exatamente abaixo de uma placa de Proibido Estacionar, bloqueando toda uma pista. E eles não atrapalham só os carros. As mangueiras (inclusive a de gás) são atravessadas sobre a calçada, bloqueando-a completamente. E, como a calçada do outro lado também está sempre tomada por carros irregularmente estacionados (também é possível perceber isso nas fotos), resta aos pedestres dividirem com o trânsito os poucos metros de rua que ninguém (ainda) resolveu privatizar.
Em resumo, cada um que cuide de si e lave as mãos para o próximo. De preferência, com água mineral da torneira. E quem achar ruim, que se exploda. Com gás de botijão.»
Comentário
Faço uma observação ao desabafo do leitor. Não se pode, sem maior análise, criticar os moradores do prédio, pois a irregularidade foi praticada pela construtora e pelo poder público.
É óbvio que, ao se aprovar uma planta desse tipo, os órgãos públicos responsáveis por autorizar obras na cidade, deveriam ter exigências para que uma construção não venha a causar transtornos nas áreas públicas, tirando o sossego de outros viventes.
Mas, como costumo repetir, na Fortaleza, terra de ninguém, cada um faz o que quer. Assim, o interesse individual prevalece sobre o direito comum. Cada um dá o seu jeito, do modo que lhe fica melhor, sem se importar com as consequências de seus atos, pois tem a certeza da impunidade.
Da Secretaria Executiva Regional II recebia a seguinte resposta (em 21/9/2010)
Segue a resposta para o post Caminhão de descarga para sob placa de “Proibido Estacionar” e ocupa rua e calçada, publicado no último dia 09.
A Secretaria Executiva Regional II (SER II) esteve no trecho denunciado pelo blog (cruzamento das ruas Tenente Benévolo e Carlos Vasconcelos) e constatou que nove lojas possuem estacionamento irregular, prejudicando a passagem de pedestres. Desse total, um estabelecimento foi notificado e o restante receberá a autuação nos próximos dias.
De acordo com Alan Arrais, coordenador de Fiscalização e Controle da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), a Lei de Uso e Ocupação do Solo, de 1996, prescreve que um prédio residencial tenha Central de Gás, mas não determina que deva ter área específica para o abastecimento dessas edificações. Dessa forma, o órgão também não pode exigir esse tipo de espaço para concessão do Alvará de Construção. “A legislação trata de maneira diferenciada estabelecimentos comerciais e residenciais. Assim, uma construção que se destina a ser um supermercado deve, sim, ter área de embarque e desembarque para os caminhões que o abastecerão. Entretanto, não existe a mesma necessidade para um edifício comercial, mesmo que tenha centrais de gás e água”, esclarece.
Assessoria de Comunicação da SER II
Prefeitura Municipal de Fortaleza
Rua Professor Juraci Oliveira, nº 1, Edson Queiroz
Nossa, é um festival de desrespeito. Da construtora que nao faz área de descarga, da prefeitura que aprova o projeto, do condomínio que fica comprando água e ggás sabendo que não tem como receber a entrega. Das empresas que não podem parar um caminhão num lugar desses. E da amc que não fiscaliza.
O ser humano está cada dia mais desprezível. As pessoas só pensam em si!!
Existe uma restrição ao trânsito de caminhões em algumas áreas da cidade por um determinado período de tempo exatamente para coibir esse tipo de conduta. Porém, o que se percebe é um desrespeito a tudo e a todos. A consequência lógica da falta de fiscalização pelo Poder Público é a transformação da norma em letra morta, contribuindo para a ideia de que: mais vale garantir o seu em detrimento do próximo. Nessa hora, ocorre-me um devaneio: e se pudéssemos dar notas à administração pública, incluindo nesse conceito os órgãos fiscalizadores e as secretarias executivas? E, estando essa nota aquém do limite por um determinado período de tempo, pudéssemos legitimamente retirar de seus postos os considerados incompetentes? Dificilmente conseguiremos chegar a tanto. Por isso, parabenizo a iniciativa do presente blog de denunciar tais desmandos. Toda forma de controle é bem vinda quando não há controle algum. Afinal, 4 anos é muito tempo para tentar mudar algo em uma sociedade que se move e se transforma tão rapidamente.
Havendo ou não obrigatoriedade de área de descarga, é certamente proibido estacionar embaixo de uma placa de “proibido estacionar” e bloquear a calçada com uma mangueira e cones como se vê nas fotos. Ainda mais se isso se repete cada vez que é necessário abastecer o prédio de água ou gás, o que provavelmente é feito com frequência razoável. De qualquer forma, parabéns pela atuação da SERII.
Plínio, é uma pena te informar que, um mês depois da resposta da SERII, os estacionamentos irregulares continuam exatamente da mesma forma. Qualquer pedestre que quiser caminhar na Rua Tenente Benévolo, entre Mons. Bruno e Carlos Vasconcelos, precisa andar pelo meio da rua por praticamente um quarteirão inteiro.
Caro Renato,
Em sua resposta, a SER II disse que a responsabilidade pelo trânsito era da AMC. E, a se levar em conta as matérias que O POVO publicou esta semana, o negócio – infelizmente – vai continuar complicado.
Plínio
Eu faço quase que diariamente este trajeto a pé e a situação seria cômica se não fosse trágica. A falta de educação no trânsito é tanta que alguns motoristas estacionam na calçada, o pedestre tem que andar pelo meio da rua e os motoristas que estão passando quase atropelam os pedestres. Um abuso!