Ilustração de Hélio Rola (clique para ampliar)

Meu artigo publicado na edição de 10/3/2011 do O POVO.

O presidente da Google é um dinossauro?
Plínio Bortolotti

Na edição de 17/2 escrevi o artigo Twitter não faz revolução, afirmando que “as mídias sociais são isso mesmo que dizem o seu nome: meios”, minimizando o poder que alguns analistas lhes atribuem nas revoltas árabes.

No próprio Twitter, um dos usuários classificou-me como “dino” (dinossauro) pela análise que fiz. Para os que pensam rasamente, basta que milhares de pessoas estejam conectadas para que revoluções surjam por geração espontânea. No blog, onde reproduzo os artigos, um leitor me acusou de ter copiado um texto do jornalista Paulo Henrique Amorim, a quem não leio.

Pois bem. Em entrevista à revista Veja (edição de 2/3), Eric Schmidt, presidente da Google – e um dos responsáveis pela empresa ser o que ela é hoje -, disse o seguinte: “Quem diz que Google e Facebook ou Twitter foram responsáveis pela revolução no Egito incide num erro e comete uma injustiça. Celulares redes sociais, sites se internet são apenas isto: ferramentas”.

Tudo bem que uma declaração de Schmit não é chancela da verdade (muito menos quando eu digo). Mas ele poderia ser chamado impunemente de algo como – “dino”?

Ou alguém o classificaria de plagiador por usar um argumento comum aos que se filiam a essa ideia? (Se bem que, por uma obra do acaso, ele tivesse lido o meu texto, aproveitando-o, eu não me queixaria). O que muita gente não percebe é que em torno de determinados fatos surgem correntes de opinião nas quais alguns argumentos podem se repetir.

Mais um coisa: na edição deste jornal de 4/3 Thomas Friedman relaciona várias questões que podem estar influenciando na revolta árabe, entre elas o Google Earth, por permitir aos árabes observar o fausto dos palácios em que vivem seus governantes, enquanto eles se apertam para sobreviver.

Mas será que alguém ainda duvida que o levante árabe aconteceria mesmo sem as redes sociais, ainda que pudesse demorar um ou dois anos mais?

Abaixo seguem a entrevista de Eric Schmidt à revista Veja e o artigo de Thomas Friedman, publicado no O POVO.

Entrevista Eric Schmidt
A revolução não é digital

Revista Veja – edição de 2/3/2011

Prestes a deixar a presidência do Google, o executivo afirma que a empresa chegou à maturidade e minimiza a importância da internet nas revoltas populares dos países árabes

No dia 20 de janeiro deste ano, o executivo americano Eric Schmidt publicou em sua conta no Twitter uma mensagem antológica: “Supervisão diária de adulto já não é mais necessária!”. Quem seguiu o link associado a essa frase descobriu que, no dia 4 de abril, Schmidt, 55 anos, deixará o cargo de presidente que ocupa há quase dez anos no Google, devolvendo-o a um de seus fundadores — Larry Page, hoje com 37 anos. Quando Schmidt chegou à companhia, em agosto de 2001, o Google despontava como uma das mais extraordinárias iniciativas do Vale do Silício — por oferecer, com eficiência inédita, o essencial serviço de busca na internet. O Google é hoje muito mais do que uma empresa de buscas. Desenvolveu o Android e o Chrome, sistemas operacionais para celulares e computadores, e possui dezenas de serviços da internet — entre eles o YouTube, o principal portal de vídeos da rede. É temido por gigantes como a Apple e a Microsoft — embora também seja desafiado por recém-chegados, como o Facebook. Ao deixar a presidência executiva, Schmidt não se desliga do Google (que lhe deu um “presente” de 100 milhões de dólares em agradecimento pelos serviços prestados): mantém-se no cargo de presidente do conselho. Nesta entrevista, ele fala sobre a companhia que ajudou a consolidar e sobre as novas fronteiras do mundo da tecnologia da informação.

Por que a mudança na direção do Google?
Somos uma empresa que vive da inovação. Somos também uma empresa que cresceu vertiginosamente. Nosso desafio neste momento é impedir que haja uma perda de agilidade, uma ossificação. Sempre tivemos uma estrutura peculiar. Por dez anos, eu, Larry Page e Sergey Brin dirigimos a companhia juntos, tomamos em conjunto todas as grandes decisões. E funcionou. Nos últimos tempos, contudo, observamos que as discussões e as decisões estavam consumindo um tempo enorme. Chegamos à conclusão de que seria melhor se uma única pessoa tomasse todas as decisões sobre os produtos que desenvolvemos. Essa pessoa será Larry. Com a mudança, quem trabalhar no Google saberá exatamente quem procurar na hora de tomar decisões importantes. Esse era um processo que não estava ocorrendo com a velocidade adequada. Mudamos para ter uma estrutura mais clara. Dito isso, é importante frisar que as grandes linhas estratégicas continuam valendo. Além disso, eu e Sergey continuaremos sendo os principais conselheiros do novo presidente executivo. Sergey vai dedicar uma porção maior do seu tempo a pensar em novos negócios. E eu vou cuidar das relações, digamos assim, com o mundo externo. Como dar esta entrevista.

No tweet em que anunciou a nova estrutura de comando do Google, o senhor afirmou que Page e Brin já não necessitam de “supervisão adulta”. Eles chegaram mesmo à maturidade?
Larry e Sergey já sabem tudo o que eu sei. Minha experiência não é mais crucial. Foi no começo, quando, embora brilhantes, eles eram verdes. Mas nos últimos cinco anos eles estiveram tão imersos quanto poderiam estar na direção de uma grande empresa global. Nós construímos a empresa, levamos processos de todos os lados, enfrentamos adversários pesos-pesados, desenvolvemos produtos. As lições foram absorvidas. Larry, que assume a presidência, já não padece de hesitações. Ele tem a experiência e a sabedoria.

Na semana passada, o vice-primeiro-ministro russo de certa forma culpou o Google pela revolução que depôs Hosni Mubarak no Egito. O senhor assume alguma parcela de responsabilidade pelo que acontece nos países árabes?
Eu rejeito esse tipo de afirmação. Quem diz que o Google, o Facebook ou o Twitter foram responsáveis pela revolução no Egito ou em qualquer país vizinho incide num erro e comete uma injustiça. A revolução foi feita pelos egípcios. Muitos pagaram com a vida por participar dela. Foi uma questão interna, relacionada à demografia de um país cheio de jovens com pouco emprego, muita repressão, muita desigualdade. Isso é que deve ser lembrado.

Qual é o real poder político e mobilizador das ferramentas digitais da internet?
Celulares, redes sociais, sites da internet, são apenas isto: ferramentas. Permitem que as pessoas organizem e comuniquem seus pensamentos de maneira mais eficiente, mas não podem nada sem as pessoas a lhes dar vida. E, como toda ferramenta, podem ser usados pelos dois lados do conflito — como de fato aconteceu no Egito, por exemplo. Sempre é bom lembrar que nenhuma pessoa caiu, ou jamais cairá, morta alvejada por um tweet.

Algum dia a internet terá na China, onde o Google encontrou tantas dificuldades para atuar, o mesmo papel que vem tendo nos países árabes?
A China está na vanguarda do controle. Tem sido incrivelmente eficiente em suprimir a expressão de ideias que desafiem o regime. Nós decidimos não mais nos submeter a essa censura. Mas isso só significa que não queremos compactuar com aquele sistema. Estou entre os que acreditam que a cada dia será mais difícil para a China exercer esse tipo de repressão.

A veiculação de anúncios responde por 97% da receita do Google. Nisso a empresa é bem tradicional, não?
Nós amamos anúncios! Em certo sentido, podemos dizer que o Google é uma empresa de publicidade. Acreditamos que a publicidade oferece às pessoas algo valioso: possibilita a elas encontrar aquilo que procuram. Mas, para que isso aconteça, a publicidade deve ser direcionada. Um anúncio que não vai em busca de quem realmente quer vê-lo é irrelevante, um desperdício de tempo e dinheiro. Nossa tecnologia permite mostrar o anúncio certo para a pessoa certa. Por isso, arrebanhamos mais consumidores do que qualquer outra solução de publicidade anterior. No jargão de negócios, oferecemos o melhor retorno sobre o investimento em propaganda que se pode encontrar.

Para fazer esse tipo de direcionamento de publicidade, o Google precisa garimpar, a um custo considerável, um grande volume de informações sobre seus usuários. Ao passo que em redes sociais como o Facebook boa parte dessa informação é oferecida de graça e voluntariamente. Nesta semana, o Facebook tornou-se um dos dez maiores veiculadores de publicidade on-line dos Estados Unidos. Ele é uma ameaça para vocês?
Não há evidência, neste momento, de que o sistema do Facebook nos impeça de crescer. Pelo contrário. Seus usuários se valem mais do Google do que os usuários comuns de internet. Ou seja, não estamos competindo nesse plano. No momento, quem está perdendo é a publicidade off-line, tradicional. Na internet, o bolo aumenta para todos.

Qual é a estratégia do Google para redes sociais?
Queremos fazer as coisas de modo um pouco diferente. Se você concordar em nos dar informação sobre seus hábitos, nós lhe daremos uma experiência melhor na busca, em nossos mapas, no Youtube. Queremos usar as informações sociais para melhorar nossas ferramentas, não para competir diretamente com o Facebook.

Durante um bom tempo, o senhor fez parte do conselho da Apple. Teve de sair quando o Google passou a investir no Android, um sistema operacional para celulares. Sua relação com Steve Jobs ficou estremecida?
A possibilidade de que em um momento ou outro o Google entrasse no mercado de celulares sempre esteve no horizonte. Jobs sabia disso quando fui admitido no conselho. Quando passamos a investir no Android, surgiu um conflito ético palpável e o desfecho foi o esperado. Não houve briga nem conflito.

Como o senhor descreveria Jobs?
Ele é o mais bem-sucedido, o mais brilhante executivo americano dos últimos cinquenta anos, talvez mais. Ninguém tem o seu histórico. Ele merece de fato a designação de gênio, quando falamos no design de produtos. Seu pensamento é melhor, mais agudo, do que o de qualquer outra pessoa com quem eu tenha trabalhado. Ele merece toda a atenção que recebe.

Qual é a diferença entre a estratégia do Google e a da Apple para celulares?
Os produtos da Apple são engenhosos, úteis e funcionam muito bem uns com os outros. O problema com a Apple é que ela leva seus clientes para um sistema fechado. Você tem de usar seus aparelhos, seus programas, seus aplicativos. Se você quer criar um aplicativo para o iPhone ou para o iPad, vai ter de se submeter a um procedimento de aprovação. Você tem de comprar tudo nas lojas da Apple. E assim por diante. O Android é o oposto disso. Oferecemos uma plataforma que funciona em vários tipos de aparelho, não estabelecemos restrições para a criação de aplicativos nem cobramos uma taxa de 30% para distribuí-los, como a Apple faz. É um modelo aberto. E o resultado é que o Android já tem mais volume de vendas que o iPhone, e continua crescendo. Nosso ecossistema será consideravelmente maior que o da Apple. Isso não significa que o modelo da Apple vai morrer. Haverá quem busque essa experiência fechada. Mas os consumidores, em geral, gostam de ter alternativas. É isso que o Android lhes oferece.

Quando o senhor chegou ao Google, a Microsoft era o competidor a ser batido. Isso mudou nestes dez anos?
Compito com a Microsoft há 25 anos. Ela continua sendo a principal adversária do Google, e creio que será assim ainda por um bom tempo. Eles têm o Bing, uma alternativa ao sistema de busca que é nossa fonte primária de renda. Eles têm mais gente, mais dinheiro, mais operações globais. Neste momento, porém, sinto que eles não têm a mesma agilidade que nós temos para atuar neste mundo novo em que Facebook e Twitter são os desafiantes. Mas quem sabe o que eles têm escondido na manga?

O Google é um dos patrocinadores da Universidade da Singularidade, que explora, mais que a inteligência artificial, maneiras de “fundir” homens e máquinas. O senhor é um adepto dessa linha de ação?
Nas versões mais extremas da singularidade, o tipo de inteligência que se observa nas redes de computadores de certa forma afeta, ou mesmo substitui, o cérebro humano. Prefiro ficar mais perto da experiência cotidiana, olhar para as maneiras como nossos produtos tecnológicos podem tornar melhor a vida humana. Esse é um dos objetivos do Google, se você assim quiser. Aprendemos como conectar as pessoas e fazer coisas incríveis com as informações que elas tornam disponíveis — voluntária e conscientemente, deixe-me frisar, pois ao menos no Google não queremos invadir a esfera íntima de ninguém. Desenvolvemos maneiras de lidar com volumes inauditos de informação e tirar deles algo que tem estrutura e sentido. Podemos predizer e monitorar eventos que antes estavam fora do nosso alcance. Não creio que esses avanços notáveis da inteligência artificial põem em risco, de maneira alguma, nossa experiência como seres de carne e osso. Reconhecer que os computadores realizam certas tarefas melhor do que nosso cérebro — e, em certo sentido, podem substituí-lo — não é o mesmo que desejar que eles nos substituam.

Na Europa e nos Estados Unidos, o Google sofre processos por concorrência desleal. Sugere-se nas ações que a empresa, em seus resultados de busca, promove de maneira indevida seus próprios serviços em detrimento dos de competidores. O Google faz isso?
Nosso compromisso sempre foi escolher o melhor resultado para quem faz a busca — para o consumidor final, por assim dizer. Todas as modificações que fizemos no nosso sistema de busca até hoje tiveram em vista tal finalidade — e essa é, em linhas gerais, a nossa defesa nessas ações. Os tribunais têm recebido bem essa abordagem.

Ao difundir, de graça, aquilo que as empresas tradicionais de comunicação produzem, o Google não contribui para matar uma atividade fundamental para nossas sociedades — o jornalismo?
O mundo mudou para as empresas tradicionais de comunicação. Podemos ajudar essas empresas a encontrar soluções para tirar rendimento de seus produtos neste novo mundo tecnológico. Essa é uma das tarefas a que devo me dedicar nos próximos tempos.

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Este é apenas o começo
Thomas Friedman

O POVO – edição de 4/3/2011

Os futuros historiadores ainda quebrarão a cabeça, por muito tempo, sobre a forma como a autoimolação de um vendedor de rua da Tunísia, Mohamed Bouazizi, em protesto contra o confisco de sua banca de frutas, conseguiu provocar revoltas populares em todo o mundo árabe e muçulmano. Sabemos quais são as grandes causas – a tirania, o aumento do preço das comidas, o desemprego dos jovens e a mídia social. Mas, desde que estou no Egito, fui montando a minha lista de adivinhações sobre o que chamo de “forças não-tão-óbvias”, que alimentaram essa revolta em massa. Aqui está:

O FATOR OBAMA: Os norte-americanos nunca apreciaram completamente a ação radical que fizemos – aos olhos do resto do mundo – na eleição de um afro-americano com um sobrenome Hussein para presidente. Estou convencido de que ouvir o discurso de Obama no Cairo em 2009 – não as palavras, mas o homem – foi mais do que alguns árabes jovens estavam dizendo para si mesmo: “Hummm, vamos ver. Ele é jovem. Eu sou jovem. Ele tem a pele negra. Eu tenho a pele negra. Um sobrenome dele é Hussein. O meu nome é Hussein. O avô dele é muçulmano. Meu avô é muçulmano. Ele é presidente dos Estados Unidos. E eu sou um jovem desempregado árabe, sem voto e sem voz no meu futuro”. Eu colocaria isso no meu mix de forças que estão alimentando estas revoltas.

GOOGLE EARTH: Enquanto o Facebook foca o tempo todo no Egito, na Tunísia e no Bahrein, não se esqueça do Google Earth, que começou a provocar turbulências políticas no Bahrein em 2006. Um grande problema no Bahrein, particularmente entre os homens xiitas que querem se casar e construir lares, é a distribuição desigual da terra. Em 27 de novembro de 2006, às vésperas das eleições parlamentares no Bahrein, o Washington Post publicou a notícia a partir de lá: “Mahmood, que vive em uma casa com os pais, os quatro irmãos e os filhos, disse que ficou ainda mais frustrado quando procurou Bahrein no Google Earth e viu vastas extensões de terras vazias, enquanto dezenas de milhares de xiitas, principalmente pobres, foram esmagadas juntas em pequenas e densas áreas. ‘Somos 17 pessoas aglomeradas em uma casa pequena, assim como muitas pessoas no sul’, disse ele. ‘E você vê no Google como muitos palácios existem e como a al-Khalifas (a família sunita governante) tem o resto do país para si mesmos’. Os ativistas de Bahrein têm incentivado as pessoas a dar uma olhada no país por meio do Google Earth e criaram um grupo de usuários especiais, cujos membros têm acesso a mais de 40 imagens dos palácios reais.”

ISRAEL: A rede de TV árabe Al-Jazeera tem uma grande equipe fazendo a cobertura em Israel hoje. Aqui estão algumas das histórias que foram aparecendo para o mundo árabe: o ex-primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, teve de renunciar, porque foi acusado de estar, ilicitamente, com envelopes recheados de dinheiro de um patrocinador judaico-americano. Um tribunal israelense condenou recentemente o ex-presidente de Israel Moshe Katsav de duas acusações de estupro, baseado em acusações feitas por ex-funcionários. E só há poucas semanas, Israel, no último segundo, revogou a nomeação do major-general Yoav Galant como novo chefe do exército depois que ambientalistas israelenses estimularam uma investigação do governo, que concluiu que Galant havia conseguido terra pública perto de sua casa. (Você pode ver a casa dele no Google Maps!) Isso certamente causou alguns risos no Egito, onde a venda de terras resultou em enormes lucros e, da noite para o dia, virou o assunto do Cairo no ano passado. Quando se vive perto de um país que está levando à Justiça os seus líderes por causa de corrupção e se vive em um país onde muitos dos principais líderes são corruptos, bem, você percebe.

AS OLIMPÍADAS DE PEQUIM: A China e o Egito foram duas grandes civilizações submetidas ao imperialismo e foram muito pobres na década de 1950, com a China ainda mais pobre do que o Egito – Edward Goldberg, professor de estratégia empresarial, escreveu no The Globalist. Mas, hoje, a China construiu a segunda maior economia do mundo, e o Egito ainda vive de ajuda estrangeira. O que você acha que os jovens egípcios pensaram quando assistiram à cerimônia de abertura deslumbrante dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008? Os Jogos Olímpicos da China foi outro despertar – “de uma forma que os Estados Unidos ou o Ocidente jamais poderiam ser” – dizendo aos jovens egípcios que havia algo muito errado com o país deles, afirmou Goldberg.

O FATOR FAYYAD: O primeiro-ministro palestino Salam Fayyad apresentou uma nova forma de governo no mundo árabe nos últimos três anos, algo que eu tenho chamado de “Fayyadismo”. Ou seja: julgue-me sobre o meu desempenho, em como eu entrego os serviços públicos e recolho o lixo e crio empregos – não apenas em como eu “resisto” ao Ocidente ou a Israel. Todos os árabes podem estar relacionados a isso. Os chineses tiveram de desistir da liberdade, mas obtiveram o crescimento econômico e um governo decente em troca. Os árabes tiveram de desistir de liberdade e obtiveram o conflito árabe-israelense e o desemprego em troca.

Some tudo isso e o que isso significa? Isso significa que você tem uma convergência muito forte das forças motrizes de um amplo movimento de mudança. Significa que estamos apenas no começo de algo grande. E significa que, se não tivermos uma política mais grave de energia, a diferença entre um dia bom e um dia ruim para a América, a partir de agora, vai depender de como o rei de 86 anos da Arábia Saudita administra toda essa mudança.

Tradução: Daniela Nogueira

Thomas Friedman
Colunista de assuntos internacionais do New York Times, Friedman já ganhou três vezes o prêmio Pulitzer de jornalismo. É autor do best-seller O Mundo é Plano

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