Meu artigo publicado na edição de hoje (1º/9/2011) do O POVO.
Os anéis e os dedos
Plínio Bortolotti
Foi Warren Buffett quem iniciou a campanha: o bilionário investidor defendeu que os endinheirados deveriam pagar mais impostos. Em artigo para o The New York Times, ele disse que o Congresso americano deveria parar de “mimar” os “super-ricos” taxando com mais vigor as suas fortunas.
Ele se pôs na linha de tiro: disse pagar 17,4% de impostos sobre seus rendimentos tributáveis, enquanto o salário dos empregados de seu escritório é taxado a 36% ao ano.
Nas pegadas de Buffett, vieram Liliane Bettencourt (herdeira da L’Oreal), mais um punhado de franceses mega-ricos. Na Itália Luca di Montezemolo (presidente da Ferraria) aderiu ao movimento.
Agora, segundo o inglês The Guardian, um grupo de 50 alemães multimilionários está implorando para pagar mais impostos.
O fundador do grupo Dieter Lehmkuhl, afirmou: “Eu diria a Merkel [Angela, primeira-ministra] que a resposta para resolver os problemas financeiros da Alemanha […] não é fazer cortes, que atingem desproporcionalmente as pessoas mais pobres, mas tributar os mais ricos”.
Na tabela do Imposto de Renda no Brasil veríamos situação parecida com a que acontece nesses países. (Mas aqui os super-ricos estão pedindo mais benefícios).
Pior ainda, a taxação indireta no Brasil atinge os mais pobres. Vejam trecho do artigo do economista Cláudio Ferreira Lima, no O POVO: “Os tributos indiretos, que taxam fortemente o consumo, somam cerca de 60% da arrecadação total. O ICMS é o principal deles. Com alíquotas iguais para os desiguais e o grosso dos rendimentos dos pobres e de segmentos da classe média indo para o consumo, é sobre os ombros destes que a carga pesa mais”.
Mas não é apenas “bondade” que move os super-ricos americanos e europeus. Eles sabem que a situação é insustentável – e devem olhar com temor para o que acontece em seu próprio terreiro, onde jovens indignados revoltam-se contra a (des)ordem estabelecida.