Meu artigo publicado na edição de 8/12/2011 do O POVO.

Consultorias
Plínio Bortolotti

Perto de completar 12 meses à frente da Presidência da República, Dilma Rousseff quase não passou um único dia sem assistir à agonia de um de seus ministros. Dias que lhe devem ter sido penosos, pois de seu Ministério salta uma crise após outra.

Sete ministros já tombaram, e mais um se aproxima da marca do pênalti: Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Do septeto, o único que não caiu sob a acusação de malfeitos foi Nelson Jobim (Defesa), defenestrado devido a um problema de incontinência verbal.

Em menor escala, do ponto de vista da quantidade de reais envolvida, Pimentel repete o caso do ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci. Este retirou-se sem conseguir explicar como multiplicou seu patrimônio vinte vezes, em quatro anos, prestando “consultoria” para empresas.

É o mesmo tipo de serviço que oferecia Pimentel, após deixar a Prefeitura de Belo Horizonte. Em dois anos, ele ganhou R$ 2 milhões para “dar parecer sobre matéria da sua especialidade”, segundo verbete do Houaiss para definir “consultor”, profissão de Pimentel, nos interregnos dos cargos públicos que exerce.

O argumento usado quando acontece alguma coisa desse tipo é que o “conhecimento” adquirido por um administrador público se torna valioso no “mercado”. Verdade. Mas o “mercado” quer mais do que a experiência intelectual de ex-administradores. Querem saber, os “aconselhados”, onde dormem as andorinhas, além de acesso e facilidades com aqueles que mexem os pauzinhos e fazem as coisas acontecerem nos governos.

Seria precipitado acusar Pimentel de ter cometido alguma ilegalidade formal. Mas, no mínimo, quem procede assim comete infração ética. Há óbvio conflito de interesse entre o público e o privado, quando alguém recém-saído de um cargo eletivo, passa a orientar empresas como operar com um governo que acabou de deixar – e onde ficaram amigos e correligionários.

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