Meu artigo publicado na edição de hoje (12/1/2012) do O POVO.

Silêncios pouco inocentes
Plínio Bortolotti

Há consenso – exclusive a avaliação dos aliados – que o Governo do Estado cometeu falhas graves na crise que gerou a greve-motim dos policiais militares, de proporções desastrosas. Porém, o Executivo recusa-se à autocrítica, considerando-se as palavras de Ivo Gomes, chefe de gabinete, e irmão do governador Cid Gomes, ambos do PSB (edição de 6/1/2012).

Ivo foi o primeiro representante do Executivo estadual a se dignar a dar alguma explicação à sociedade a respeito dos acontecimentos.

O chefe de gabinete diz que o Palácio da Abolição foi “surpreendido” com a intensidade do movimento. E, ao mesmo tempo, afirma que o “secretário da Segurança e o comandante da Polícia Militar gozam da confiança (do governo)”. Ora, como confiar em funcionários incapazes de ouvir o tropel que se aproximava? Ou houve temor em dar más notícias ao chefe? Ou suas informações foram desprezadas pelos superiores?

Ivo tenta rebater a crítica a respeito do silêncio do governador durante a crise. Cândida explicação, o secretário diz que mal conseguiram dormir no período. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

Sumiram o governador e todas as autoridades que poderiam dar uma palavra tranquilizadora à população. Surgiu, inclusive, boato persistente de que Cid estaria em Paris, quando, na realidade, ele se manteve o tempo todo em Fortaleza (sem aparecer em público).

A omissão atingiu também o Legislativo: a exemplo do governador, calou-se Roberto Cláudio (presidente da Assembleia), correligionário de Cid; silenciou o petista Antônio Carlos (líder do governador na Casa).

A presidência dispensou a Assembleia da responsabilidade (e de sua independência), talvez por orientação do Palácio. Quanto ao líder do governo, apesar de ampla experiência do seu partido em lidar com movimentos sociais, parece não ter sido ao menos convidado para debater com seu líder o problema de maior envergadura que o governo enfrentou até hoje.

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