Meu artigo publicado na edição de hoje (16/2/2012) no O POVO.
“Irmãos de farda”
Plínio Bortolotti
Depois de ter ficado mais do que evidente a falência do sistema de segurança pública, herdado da ditadura, os congressistas parecem ter acordado para a necessidade de resolver o assunto. Agora o negócio é capaz de ir a toque de caixa, pois a água está batendo nas orelhas. De qualquer modo, para acrescentar mais um chavão, antes tarde do que nunca.
Se alguém ainda duvidava do perigo, para a democracia, de uma greve armada de militares basta observar alguns sinais do que poderia acontecer se não houvesse um basta aos motins que ameaçavam se espalhar por todo o país.
O mais grave, obviamente, é a suspeita de que, além de atos de vandalismo, alguns policiais cometeram crimes graves, como assassinatos, aproveitando-se da confusão que eles mesmos criaram na Bahia.
O outro foi durante o cerco à Assembleia Legislativa baiana, quando general Gonçalves Dias, comandante das tropas do Exército afirmou: “Militar não vai combater militar”. Pode ter sido um gesto conciliatório, o que é louvável; mas outra possível interpretação remete à pergunta: e se o confronto fosse necessário, qual seria a reação do general?
Posteriormente à greve, a Associação de Praças da Polícia Militar da Bahia (APPM-BA) registrou menção honrosa ao general Gonçalves Dias, destacando que PMs e Exército são “irmãos de farda”. O deputado estadual Sargento Isidório (PSB) diz que vai propor o título de cidadão baiano ao general. Parece tentativa de se forjar um “ídolo” militar.
A propósito dos “irmãos de farda”, um dos pontos que a reformulação do sistema de segurança terá de enfrentar será a desmilitarização da polícia. Sempre que o assunto vem à baila, lobbies de PMs acorrem ao Congresso para barrar a proposta.
Mas, pelo menos dois líderes da greve da PM no Ceará, o Capitão Wagner e Pedro Queiroz (presidente da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará), afirmam ser a favor da desmilitarização, seria interessante que eles viessem a público com tal afirmativa.
Outros artigos sobre o tema:
E se o Exército resolver fazer greve?
Silêncios pouco inocentes.
Caro Plínio,
Você cita alguns “desvios de propósito” e “comportamentos inadequados” na condução da greve dos policiais baianos que, a meu ver, poderia ocorrer em greve de qualquer categoria profissional.
Não quero aqui escamotear a gravidade – e os perigos embutidos – na greve de pessoas armadas. São reais.
O que eu não consigo aceitar é que a classe dominante – e aí incluo Governo, políticos, o staff do judiciário, empresários, intelectuais e pensadores de modo geral – se aferrem tão somente à dita “ilegalidade da Greve” e se omitam da necessidade estudar, com esmero, a situação vergonhosa não só policiais civis e militares mais da maioria dos servidores públicos desse País, nas esferas Municipal, Estadual e Federal.
Aliás, já estar mais que na hora de o time acima se debruçar em cima de um problema que está por trás da maioria – se não de todos – das mazelas sociais desse País, qual seja a VERGONHOSA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.
É isso aí …
Caro Paulo,
Algumas das questões que v. levanta são pertinentes. Mas, me desculpe, não é em greve de “qualquer categoria profissional” que termina com alguns de seus participantes suspeitos de terem praticado 25 assassinatos (O POVO, 14/2/2012: http://migre.me/7WH1b). Também não é em toda a greve que a população é aterrorizada com atos de vandalismo provocada pelos grevista, ou pelo menos, parte deles.
Agradeço sua leitura e comentário,
Plínio