Meu artigo publico na edição de hoje (5/7/2012) no O POVO.

“La voiture”, de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Insegurança ou sensação de insegurança?
Plínio Bortolotti

Obviamente não advogo que se vive em um mar de tranquilidade no quesito segurança pública em Fortaleza. Mas existe boa diferença entre a insegurança realmente existente e a sensação de insegurança.

A probabilidade de alguém ser vítima de algum crime pode ser medida por meio de pesquisas e estatísticas. A sensação de insegurança é algo difuso, que sugestiona a pessoa a ponto dela sentir medo, sem que isso tenha, necessariamente, relação direta com a possibilidade de lhe acontecer alguma violência.

Posto isso, é interessante verificar a pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), divulgada ontem por este jornal, mostrando Fortaleza em 4º lugar entre os locais “inseguros para circular pela cidade durante o dia” (entre 10 capitais pesquisadas) e em 2º lugar dos “inseguros para circular pela cidade à noite” (11 capitais pesquisadas).

No primeiro caso, Fortaleza é considerada mais insegura do que São Paulo, por exemplo, em 8º lugar. No segundo caso, mais insegura do que o Rio de janeiro, em 9º lugar. (Quanto mais baixo na lista, menor a sensação de insegurança.)

A sensação de insegurança tem muito a ver com hábitos culturais e com a forma como a cidade se configura. (Creio ainda que os programas policiais de TV contribuem para isso. Experimente assisti-los durante uma semana: você terá medo até de abrir a janela de sua casa.)

Os bairros de classe média são quase que exclusivamente residenciais – em vez de terem uso misto -, os prédios com grandes recuos, ficam longe das ruas. As pessoas não têm o hábito de caminhar, usando o carro para tudo. Quando seus moradores saem para trabalhar, esses bairros ficam praticamente desertos. (Creio que a pesquisa mostraria sensação de insegurança menor se o levantamento se restringisse ao Centro, local de trânsito intenso de pessoas.)

A meu ver, isso aumenta a sensação de insegurança. Se bem que alguém poderia dizer que a coisas as coisas se tornaram assim, justamente devido à insegurança. Cairíamos no dilema Tostines.

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