Meu artigo publicado na edição de hoje (12/7/2012) do O POVO.
Cassado
Plínio Bortolotti
Em discurso na sessão do Senado que lhe cassou o mandato, Demóstenes Torres afirmou-se um homem honesto, apesar das provas que o ligam profundamente a Carlos Cachoeira, a ponto de se tratarem por apelidos íntimos como “doutor” e “professor”. Demóstenes tinha tanta certeza de que era difícil negar essa ligação indevida, que pediu, na Comissão de Ética para que o julgassem pelos seus atos, e não pelas conversas comprometedoras que mantinha com o contraventor.
Na fala de ontem, apelou para o tom emocional – “Não acabem com a minha vida” –, e voltou a tocar na dicotomia entre aparência e realidade. Era seu costume, disse, nas dezenas de palestras que fazia a estudantes, alertar que ao homem público não basta ser honesto, mas era preciso também parecer honesto. Conselho que ele mesmo não seguia. Esse seria seu erro.
Demóstenes falou ainda da imprensa, que o bajulava nos seus tempos de “mosqueteiro da ética”, e depois o teria massacrado sem piedade. Nesse equívoco, muitos caem – como José Genoino, por exemplo, que passou pelo mesmo calvário. De fato, existe uma certa imprensa que afaga e depois apedreja, com a mesma facilidade.
Não resta dúvida de que existiram motivos concretos para fundamentar o afastamento de Demóstenes do Senado. Se não por outras causas, pela amizade estreita que mantinha com o notório bicheiro (para ficar na acusação mais leve) –, de quem aceitou (pelo menos) um rádio Nextel, cuja conta era paga por Cachoeira.
Em casos do tipo, costuma-se ouvir que no Legislativo os julgamentos são “políticos” e bastaria essa avaliação ou o “clamor popular” como justificativas de punição. Discordo dessa tese, e creio que ela é perigosa à democracia. “Julgamento político” cabe apenas nas eleições.
Portanto, quando o Parlamento cassa algum de seus integrantes, é preciso provas ou fortes indícios de que houve quebra de decoro ou outro malfeito que justifique o ato punitivo, condições, repito, no caso Demóstenes, existentes.
Ora, se o cara é “mosqueteiro da ética” deve ser elogiado, bajulado ou outra coisa positiva qualquer. Mas se depois o sujeito se mostra um corrupto tem mesmo é que ser apedrejado.Era para ser diferente?
Caro Mírcio,
Talvez algumas perguntas fossem cabíveis, por exemplo: por que, de vez quando, alguns são eleitos “queridinhos” da mídia e paus para toda obra quando se trata de “repercutir” uma notícia? Lembra-se do procurador João Francisco de Souza, cantado em verso e prosa, que, de repente, caiu em desgraça? Por que, alguns parlamentares – e gente de outras profissões – está sempre à disposição para encarar um microfone, para falar de penico à bomba atômica. O papel da imprensa não é bajular ninguém ou elevar quem quer que seja à categoria de paladino disso ou daquilo, mas reportar fatos.
Agradeço a leitura e o comentário,
Plínio