Meu artigo publicado na edição de hoje (26/7/2012) do O POVO.
O fim das greves
Plínio Bortolotti
O distinto público já está acostumado a ouvir promessas – que raramente são cumpridas – dos candidatos do establishment, ou seja, dos partidos da ordem. A novidade é que um partido da esquerda, que se reivindica revolucionário, resolva fazer o mesmo.
Em entrevista à rádio O POVO/CBN (programa Debates do Povo), Francisco Gonzaga – candidato a prefeito pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) – resolveu embarcar na mesma onda, afirmando que sua eleição poria fim às greves em Fortaleza. Greves, entre as quais, uma das mais obstinadas, é dirigida por ele: da construção civil, categoria à qual pertence o candidato.
“Não haverá mais greve em um governo socialista como o nosso, porque os trabalhadores vão ter direitos iguais”, declarou Gonzaga. O problema é que, mesmo que o PSTU tomasse de assalto o poder federal para aplicar seu programa, as contradições do sistema capitalista não ruiriam imediatamente.
Gonzaga sabe disso, pois é uma pessoa que conhece a história das revoluções no mundo. Basta ver o que aconteceu na revolução russa, que serve de inspiração ao PSTU. O Partido Bolchevique, depois transformado em Partido Comunista da União Soviética, enfrentou – e reprimiu com mão de ferro – várias manifestações de trabalhadores, a maior delas a revolta dos marinheiros Kronstadt, revolucionários de primeira hora, que se voltaram contra os novos donos do poder – e por isso foram esmagados.
A mais, se Gonzaga for eleito, ele não terá como estabelecer um soviete em Fortaleza, com o poder de expropriar as empresas capitalistas, de modo a implantar alguma coisa do tipo “socialismo em uma só cidade”. Como isso é impossível, Gonzaga terá de se conformar em governar Fortaleza dentro dos marcos capitalistas, mesmo que estique a corda, ao máximo, para a esquerda.
Como então interpretar a fala de Gonzaga, a não ser como uma promessa vazia de sentido e deseducativa do ponto de vista da formação da consciência dos trabalhadores?
Plínio, Plínio,
Você bem sabe que Gonzaga não “prometeu” o fim das greves. O termo “compromisso” ou “promessa” foi incluído na matéria pelo próprio jornal O Povo. Se lermos com cuidado veremos que Gonzaga se propôs a garantir direitos iguais para os trabalhadores e isso na visão do candidato seria a pedra fundamental para esvaziar a necessidade de fazer greves.
Pode-se acusar Gonzaga de estar equivocado. De ter cometido um ato falho ao dizer que do ponto de vista da prefeitura de Fortaleza se conseguira tal proeza e mesmo conseguindo se dariam por encerradas as greves. Mas não se pode acusar Gonzaga de ser leviano e fazer “promessas vazias” como você o faz.
Sobre os bolcheviques terem esmagado as manifestações dos trabalhadores seria no mínimo coerente de sua parte explicar que os marinheiros de Konstad de 1922 já não eram os mesmos de 1917. Toda a geração que havia se empenhado a fazer a revolução de outubro havia sucumbido na Guerra civil levada adiante pelas potencias imperialistas. O levante de Kronstad em plena Guerra Civil assumiu um ar contra-revolucionário inclusive tomando a vida de vários bolcheviques inclusive. Você como um bom conhecedor das revoluções deveria saber disso. É compreensível que queira de todas as formas e maneiras apagar o seu passado de esquerda ainda mais trabalhando em um grande meio de comunicação. Mas apesar de ser compreensível não deixa de ser vergonhoso pra dizer o mínimo, dedicar sua coluna a uma promessa de um candidato operário que não foi feita e ainda aproveitar o momento para difundir as velharias reacionárias contra a revolução bolchevique.
Abraços
Caro Giambatista,
Eu não quero “apagar” nada. Minha vida é um livro aberto, mesmo que seja na página errada. Agradeço pela sua leitura e pelo seu comentário.
Abraço,
Plínio
Mas é o PSTU, que ama o passado. E que não vê.
É O PSTU, que ama o passado. E que não vê.
Que o novo sempre vem…