Meu artigo publicado na edição de hoje (6/9/2012) DO O POVO

Prainha do Canto Verde (mas podia ser no Pecém): foto de Drawlio Joca (clique para ampliar)

Pecém: inferno e paraíso
Plínio Bortolotti

Com um bom jogo de palavras, a editoria de Economia deste jornal publicou a matéria “Insustentável contradição” (edição de 2/9) levantando os problemas que começam a se avolumar nas cidades sob o impacto direto das grandes obras do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP): São Gonçalo do Amarante e Caucaia – e outras 13 cidades, com impactos indiretos.

Os investimento bilionários das empresas vão superar dezenas ou centenas de vezes o Produto Interno Bruto (PIB) desses municípios. Segundo o presidente da Companhia Siderúrgida do Ceará, umas das empresas do CIPP, o complexo poderá dobrar o PIB do Ceará em dez anos. Esse dado, oferece uma ideia da magnitude econômica do projeto – e de seu impacto social.

Grandes recursos – a par dos benefícios – também trazem grandes problemas, se não houver planejamento e ação do poder público. As ocupações irregulares, por exemplo, começam a se ampliar. A rede de esgoto – que já era insuficiente – entra em colapso com o grande afluxo de novos moradores, ameaçando os mananciais de água potável. A rede elétrica sobrecarrega-se.

Segundo dados do hospital de São Gonçalo, está aumentando na cidade os casos de gravidez indesejada: de cada dez mulheres que têm filhos, seis são adolescentes – quatro têm menos de 13 anos. Atribui-se o fato ao grande número de funcionários dessas novas empresas, a maioria homens, oriundos de outros estados.

Os moradores, acostumados a uma vida pacata, têm de enfrentar ondas de violência.

Não cabe mais na cabeça de ninguém a ideia de empresas fazendo marketing sobre os empregos que geram, em cidades deterioradas e cercadas de favelas. E, se não se agir agora, é o que se verá daqui a 10 anos.

Antes que alguém grite de lá, não se trata de demonizar os investimentos. Mas alertar o poder público – e também o empresarial – de que é preciso uma ação rápida e conjunta para que o complexo do Pecém não venha a ser tornar um paraíso para os investidores e um inferno para as população dessas cidades.

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