Não vou negar: é reconfortante quando se vê a confirmação de uma ideia, que lhe surgiu empiricamente, analisada em profundidade por um estudioso, no caso Domique Wolton em Informar não é comunicar (editora Sulina). Wolton é pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científicia (CNRS – França).
Seitas tecnológicas
Venho, por este blog, modestamente, combatendo algumas correntes – que eu chamo de “seitas tecnológicas” -, que veem na Internet a solução para os problemas, não apenas da comunicação, mas também para as questões sociais. Sobre isso escrevi, por exemplo, Twitter não faz revolução. Obviamente não quero me comparar a Wolton, que se dedica ao estudo da comunicação há mais de 30 anos. Acontece que o meu sinal de alerta começa a piscar quando vejo a manada disparando para um lado só.
Ideologia tecnicista
Wolton diz que a “ideologia tecnicista” da comunicação consiste em “transferir para as ferramentas o trabalho resolver problemas sociais para os quais elas não estão habilitadas”. Ele diz que essa ideologia não suporta críticas “exige-se adesão total” e “qualquer crítica é considerada tecnofobia”. Enfrentei situação assim quando participei, como debatedor, do Encontro dos Tuiteiros (abril 2012). Ao ler minha intervenção, com o título Steve Jobs é o Che Guevara das seitas tecnológicas, fui acusado por um integrante da mesa de ter um Iphone (poderia ter, faria a mesma crítica, mas saquei meu celular de uma geração antiga).
Culto às celebridades
Para Wolton, “velocidade e volume [de informações] não são sinônimos nem de qualidade e nem de pluralismo”, mostra que a concorrência faz com que todos reproduzam as mesmas informações, exacerbando-se o culto às celebridades (lembra alguma coisa os portais brasileiros?) “O que está sendo celebrado, a velocidade da informação, o volume ou a verdade?”
O receptor e Jornalista
Wolton diz que o receptor, “que nunca foi passivo”, está cada vez mais ativo “para resistir ao fluxo de informações” – e tem de ser levado cada vez mais em conta. Mas rejeita a ideia, hoje em voga, de se dar poder total ao receptor, pois ele “imporia a sua ditadura”.
Os jornalistas se saem bem na análise de Wolton. “Os jornalistas são os guardiões e os heróis dessa vitória frágil da liberdade de informação”. Defende a profissionalização e diz que os jornalistas, devido ao volume de informações, são cada vez mais importantes como mediadores, para oferecer ao público aquilo que é relevante – e contextualizar as notícias.
Paradoxos e regulamentação
Dominique Wolton diz que a Internet é “interessante” pelos paradoxos que levante. Um deles, a revalorização da prática da escrita, acompanhada de sua desvalorização: “Pois tudo é escrito e difundido sem seleção ou hierarquia”.
Pergunta como proteger a liberdade intelectual e de criação em um universo onde “tudo está acessível” e afirma que “a regulamentação é indispensável”. Diz que por enquanto “o faroeste seduz”, mas que a ideia de regulamentação acabará por se impor como foi o caso da imprensa, do rádio e da televisão. “Quando os escândalos se tornarem fortes demais, a Internet não poderá continuar fora da lei e deverá sair da ideologia da desregulamentação, esse clone da ideologia tecnicista”. (As seitas tecnológicas vão ficar iradas.)
Comunicar é negociar
A linha de raciocínio do livro segue a afirmativa do título, com a análise da diferença entre informar e comunicar: “A informação é a mensagem. A comunicação é a relação, que é muito mais complexa”. “É falso pensar que basta informar sempre mais para comunicar, pois a onipresença da informação torna a comunicação ainda mais difícil.” Para Wolton, o aumento da circulação de informações “sempre mais rápida” não aumenta a comunicação nem a compreensão – pelo contrário, leva à “incomunicação”. Ele diz que comunicar é “negociar e conviver”, que seria o desafio do século XXI
No mais
É um livro denso, nas suas 96 páginas. E o preço é justo: R$ 23,00.
Boa noite!
Em meu primeiro dia de aula no curso de Analises e Desenvolvimento de Sistemas o professor passou a definição de comunicação e informação e disse que as duas são a mesma coisa, fui o unico a discordar, mas abri um leque de duvidas no resto da turma e até no professor, lendo seu texto percebi que pensamos da mesma forma, não estou sozinho nessa hehehe
Ronan,
O bom é que parece que o seu professor tem abertura para o diálogo, o que é sempre ótimo, pois permite o debate.
Agradeço pela leitura e pelo comentário.
Abraço,
Plínio