Meu artigo publicado na edição de hoje (29/11/2012) do O POVO.
O modelo Trairi
Plínio Bortolotti
A democracia é uma senhora que não consegue chegar a todos os lugares ao mesmo tempo e igualmente. Desde que os militares voltaram para os quartéis (1985), de onde nunca deveriam ter saído, os direitos democráticos dos cidadãos brasileiros vêm se ampliando, mas isso não corre igualmente, em todas as regiões.
Nos grandes centros, com a sociedade civil mais bem organizada, a margem de manobra dos políticos diminuí: eles têm de prestar contas do que fazem, a imprensa é vigilante e os órgãos de controle são mais presentes. Dessa forma, o decoro tende a ser maior.
Nos interiores os controles são mais frouxos, a população é menos organizada – quando não dependente do poder público, grande empregador e prestador de “favores”: arranjam ambulâncias, fecham os olhos para as infrações de trânsito, não cobram impostos e evitam fazer qualquer coisa “antipática”, mesmo quando necessária. Os prefeitos, muitos deles, nem moram na cidade que “administram”, deixando os munícipes por conta de algum capataz.
Se não for isso, como explicar a situação de Trairi, município no qual a situação e a oposição foram parar atrás das grades acusadas de delitos que vão da compra de votos, passando por desvio de dinheiro público, até formação de quadrilha?
O caso é que o negócio não se restringe somente a Trairi. Levantamento do O POVO mostra que pelo menos 16 prefeitos do Ceará foram afastados do cargo, desde o ano passado. E, podem ter certeza, se se passasse um pente fino nas administrações o número de delinquentes travestidos de administradores se apresentaria bem maior.
Um dos problemas é que, no Brasil, um país continental e diverso, a mesma estrutura política-administrativa de uma cidade como São Paulo – com seus 11 milhões de habitantes – se reproduz em municípios minúsculos, incluindo Câmaras de Vereadores, cujo principal trabalho dos integrantes é verificar se o pagamento foi depositado no banco ao final de cada mês.
Lamentavelmente há uma proibição no site do jornal O Povo que não aceita comentários para seu brilhante artigo. Fica um ícone girando, girando e não abre espaço para nossa manifestação.
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Fechar os olhos para as infrações de trânsito é um grave problema gerador de outros como mutilações e mortes. A grande maioria respeita as regras e não aceita o desrespeito, mas, estranhamente, os infratores continuam causando problemas a todos nós.
Discordo do comentário sobre os militares. Eles saíram dos quartéis assim como diversos médicos saíram dos hospitais e prestaram enormes serviços como políticos. Alguns advogados e outros profissionais ajudaram a melhorar os debates nas casas legislativas. Várias conquistas são devidas a pluralidade das formações dos nossos vereadores e deputados. Analisando algumas idéias de terror, medo e justiçamento que alguns “meninos” queriam implantar aqui agradeço a saída dos militares dos quartéis.
Caro Paulo,
Quanto ao comentário no site do jornal, não há proibição. Vou verificar com os responsáveis técnicos para ver o que está acontecendo.
Sobre os militares eles ofenderem a Constituição ao dar o golpe. Em todo o mundo democrático, o poder militar é subordinado ao poder civil. É por isso que o mais alto general tem de bater continência ao presidente(a) da República, aqui ou nos Estados Unidos.
Agradeço a leitura e o comentário.
Plínio