Meu artigo publicadona edição de hoje (6/12/2012) do O POVO.

Arte: Hélio Rôla (clique para ampliar)

Homicídios: para coronel, aumento significa queda
Plínio Bortolotti

Este jornal vem publicando várias matérias sobre o agravamento da situação da segurança pública. Reportagens mostram, por exemplo: a) aumento no número de roubos; b) que quatro pessoas são assassinadas por dia em Fortaleza,  número superior ao da cidade de São Paulo; c) despreparo da polícia, a se levar em conta o número de processos na controladoria – de cada quatro agentes, um está sob investigação.

O lamentável é que repórteres só conseguem dados a respeito do tema depois de muita insistência, esperando até duas semanas por estatísticas que deveriam ser públicas e de fácil consulta.

Espantam também as declarações disparatadas das autoridades, que parecem sofrer uma espécie de alienação da realidade. O coronel Werisleik Pontes Matias, comandante da Polícia Militar, parece ter-se especializado no quesito: disse que a Barra do Ceará “é o céu hoje em dia” e que se deve ao trabalho de “inteligência” da polícia, o fato de alguns bairros serem mais calmos. (Bem que o coronel poderia exportar essa “inteligência” para outros locais.)

O sestro vem de longe: em matéria da edição de 1º/2/2011, o comandante do Batalhão de Polícia Comunitária, tenente-coronel Gomes Filho, disse que pretendia reduzir em 50% o número de homicídios em cidades cobertas pelo Ronda do Quarteirão.

Passados quase dois anos, vejam o resultado: o coronel Werisleik divulgou ontem que os homicídios em Fortaleza caíram 13%, comparando-se setembro e novembro deste ano. O coronel falou da árvore com o objetivo de esconder a floresta, pois levantamento do O POVO mostra que, até novembro, o número de homicídios (3.189) superou os 2.667 assassinatos de 2011, aumento de 19,5%, portanto. Enquanto informações forem sonegadas e as autoridades não reconhecerem a gravidade do problema, não se sairá do atoleiro.

A propósito, o secretário da Segurança Pública, coronel Francisco Bezerra, parece estar acima dessas questões comezinhas, sentindo-se desobrigado de oferecer explicações ao distinto público, deixa o assunto por conta de subordinados.