Meu artigo publico na edição de hoje (28/3/2013) do O POVO.

O governador falou
Plínio Bortolotti

O governador do Estado, Cid Gomes (PSB), admitiu o grave aumento dos homicídios no Ceará na solenidade de formatura de inspetores da Polícia Civil, esta semana. Disse o governador: “O primeiro passo [para enfrentar a situação] é assumir publicamente o problema”. Ele reconheceu o óbvio; mas, em alguns casos, o óbvio precisa ser repetido ao menos três vezes ao dia.

“Esse [a segurança pública] é um tema complexo, mas não pode ser colocado como desculpa para que a gente não faça a nossa parte”, afirmou o governador, ao tempo em que (suspeito) mandava um recado direto aos seus subordinados, que se especializaram em dar desculpas e declarações estapafúrdias na tentativa de justificar o fracasso na área da segurança pública.

Até agora, o que se tem ouvido dos responsáveis diretos pelo setor são desculpas. Do coronel Francisco Bezerra (secretário da Segurança Pública), aliás, pouco se ouve.Muito raramente ele atende jornalistas – e quando fala é para transferir uma responsabilidade indelegável, atribuindo o problema à suposta falta de ação da prefeitura (gestão anterior) na área social.

O coronel Werisleik Matias (comandante da Polícia Militar) queixa-se da legislação, reclama do Estatuto da Criança e do Adolescente – e afirma, sem mostrar nenhum dado objetivo, que a disputa por drogas é causa de 90% dos crimes de morte. Como se isso, mesmo se tivesse procedimento, pudesse justificar os resultados pífios na área da segurança.

Destaque-se, portanto, como positiva a atitude do governador em admitir publicamente – e sem subterfúfios – a gravidade da situação. Espera-se que suas declarações transformem-se em projetos para o enfrentar o drama que se desenrola. Mais uma coisa: Cid, sem afastar a responsabilidade do Estado, disse que o problema é de toda a sociedade. Certo. Mas se o governo quer a ajuda de todos, precisa abrir-se ao diálogo.

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