Meu artigo publicado na edição de hoje (5/9/2013) do O POVO.

O fim dos black blocs no Congresso
Plínio Bortolotti

Sustentar o mandato de um presidiário condenado a 13 anos de reclusão por peculato (roubo de dinheiro público) e formação de quadrilha foi um pouco demais até para um Congresso habituado a uma certa flexibilidade ética nas suas reações corporativas. Natan Donadon, deputado federal por Rondônia (eleito pelo PMDB, atualmente sem partido), foi condenado pelo desvio de R$ 8 milhões quando era deputado estadual.

Na semana passada, ele chegou algemado à Câmara dos Deputados, em Brasília, para a sessão que votaria a cassação de seu mandato por “quebra de decoro parlamentar”. No entanto, para surpresa do próprio Donadon, a maioria de seus colegas (de parlamento) entendeu que o fato de ele ter sido condenado pela mais alta corte do País não configurava falta de decoro. Assim, Donadon foi mantido como (i)legítimo representante do povo e, depois de agradecer teatralmente aos céus, voltou para trás das grades.

O Congresso Nacional, que já vinha arrefecendo a sua “agenda positiva”, imposta pelas manifestações de junho, teve uma severa recaída. O próprio presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), que já se viu enrolado em acusação de favorecer a empresa de um assessor com sua próprias emendas parlamentares, achou que o negócio havia passado da conta.

Mas o que esse caso nos diz? Mostra que o Congresso Nacional só funciona na base da pressão. A sequência dos trabalhos, desde junho, é um exemplo muito eloquente disso. Logo após o clamor das ruas, deputados e senadores puseram-se a trabalhar freneticamente, inclusive em dia de jogo da seleção de futebol, aprovando projetos que pudessem grangear-lhes simpatia.

Mas a febre passou rapidamente e a coisa voltou ao ramerrame costumeiro. Até a fervura aumentar com o caso Donadon. Aí suas excelências voltaram a campo rapidamente, aprovando o fim de qualquer votação secreta. Se o Senado confirmar, será o fim dos black blocks no Congresso – e aí, quem quiser favorecer futuros donadons, terá de fazê-lo com a cara descoberta.

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