Meu artigo publicado na edição de hoje (7/11//2013) do O POVO.
Médicos e pacientes
Plínio Bortolotti
Conversando com um médico, com experiência no serviço público, ele me disse que um colega seu, atendendo em posto de saúde, havia pregado a cadeira do paciente ao chão, de modo que ele não pudesse aproximar-se muito de sua mesa.
Lembrei-me dessa conversa, ocorrida há alguns anos, ao ler a reportagem da jornalista Isabel Costa, que visitou algumas cidade do interior do Ceará, nas quais foram alocados profissionais do programa Mais Médicos, do governo federal.
Alguns médicos cubanos estão deslocando a cadeira da frente do birô para o lado da sua, para tocar o paciente a cada etapa da consulta. “Como fazer medicina sem ficar perto das pessoas?”, pergunta a médica Ivia Avia Aguilera, em Amontada.
Além da aproximação no consultório, alguns deles estão visitando os pacientes em suas casas, para melhor acompanhá-los.
Há muito tempo, menino, eu estava sendo consultado. Minha mãe quis dizer alguma coisa sobre o que entendia ser a origem de minhas mazelas, quando foi interrompida pelo doutor:
– O médico aqui sou eu ou é a senhora?
Essa lembrança veio-me ao ler outro trecho da declaração de Ivia à repórter, dizendo ela achar “esquisito” o fato de as pessoas que ela atende não fazerem nenhum tipo de questionamento quanto ao diagnóstico.
É que, no Brasil (com as devidas exceções) o médico comporta-se como Deus, portanto não admite ser questionado. (Se serve de consolo, muitos jornalistas também.)
Quanto aos pacientes, esses se espantam com a atenção recebida, com a quantidade de perguntas que os médicos fazem, e com o tempo dedicado à consulta: em torno de 40 minutos. (De causar inveja até para quem paga consulta particular.)
Essa modesta, porém significativa, evolução no atendimento aos mais pobres, por óbvio, não resolve tudo – e nem dispensa o governo de melhorar a precária estrutura da saúde. Porém, é bom começo.
Enquanto isso, o Conselho Federal de Medicina contra-ataca com propaganda nas televisões, tentando superar o desgaste sofrido pelas críticas ao Mais Médicos.
Caro Jornalista, li sua matéria e concordo em parte com algumas citações, porém acredito serem inadequadas generalizações. Você dizer que “…no Brasil médico se comporta como Deus…” é uma generalização muito ruim. Há médicos que acham que são “deus”, mas há jornalistas, enfermeiros, dentistas,advogados, juízes, políticos, policiais, pedreiros, porteiros e muitos que independente do que fazem também pensam assim. Se achar “Deus” no que se faz, infelizmente não é problema do médico brasileiro, mas de alguns brasileiros, independente da profissão que abraçam. Sentar ao lado do paciente não é novidade. Já foi no Hospital Haroldo Juaçaba? Lá os médicos sentam ao lado dos pacientes. Quando trabalhei no PSF em 1999, sempre que a estrutura permitia, sentava ao lado dos pacientes e visitava seus domicílios assim como fazem muitos dos colegas que hoje ainda trabalham na atenção básica. Portanto esse “avanço” e humanização que você cita já existem na medicina brasileira. Lhe garanto que médicos ruins e bons existem até no Japão, imagine em Cuba.
Caro Cláudio,
Meus respeitos a você e aos médicos, de qualquer nacionalidade, que agem da mesma maneira. Agradeço pela leitura e pelo comentário.
Com atenção,
Plínio
Já que és tão conhecedor quando o assunto é saúde pública, quero que me ajude com a Matemática. Medico brasileiro está em plantão de 12 horas em cidade do interior. Número de consultas: 80!!! Por favor, acredite! É um número real e corriqueiro.
Quantos minutos ele tem por paciente, levando-se em conta que ele não irá ter nem 1 minuto sequer de intervalo pra comer ou ir ao banheiro? Eu te ajudo: 9 minutos por paciente.
Se, por ventura, ele tirar 2 horas para almoçar, ir ao banheiro e respirar no intervalo das consultas, terá apenas 7 minutos e 30 segundos pra cada paciente.
Olha, se quiser eu posso citar cada história cabulosa de jornalistas que você não faz idéia. Aliás, você sabe sim. Jornalista vendido e imparcial? Aos montes. Não da pra contar. E aí? Vamos trazer jornalistas de fora? É coerente criticar os jornalistas brasileiros pra enaltecer o jornalismo de fora? Quer dizer então que os médicos brasileiros (em geral) ajudam a justificar o Mais Médicos? É isso mesmo?
Médico brasileiro se recusa a trabalhar em condições degradantes que sabe que o paciente não terá o mínimo de dignidade APESAR da fortuna que possam oferecer. Médico cubano largou a família, a pátria e os costumes pra participar de uma missão humanitária!!!! Conta outra!!! Eles confirmam que o motivo é fazer dinheiro. Agora faça o papel de jornalista e me mostre uma matéria de um cubano reclamando do descaso com a saúde pública como fazem os brasileiros. Quem é o mercenário, afinal?
Contar uma história pessoal negativa pra justificar um tema polêmico como esse? Eu não acredito que seja sério. É um estreitamento de análise tão grande, que por mais que me esforce em imaginar que se trate apenas de um exemplo de pensamento derreísta, tá difícil de engolir que seja só isso.
Caro colega , George, espero que o jornal tenha publicado também essa sua nota!!!porque isso tem que ser lido pelo povo, que tem direito de ver os 2 lados da moeda…para ter opinião critica , construtiva da situação e não serem manipulados pelo governo e pela mídia , como está acontecendo !!! E não adianta só nós , do dignidade médica, lermos…Quero acrescentar minhas experiências, trabalhei por mais de 3 anos em UBS, antes, PSF…não teve um só ano que os coordenadores , ou que secretários de saúde , cargos de confiança dos prefeitos, ou vereadores, não me fizesse pressão pra atender livre demanda, ou grandes quantidades de pacientes, na atenção primaria de saúde , onde o objetivo é prevenção e promoção da saúde , sob pena e ameaça de ser despedida, sem se preocupar nunca com a qualidade de atenção a população e sim com a imagem política deles, ou com os votos que poderiam perder, se os pacientes se chateassem por não conseguir atendimento na hora…também aconteceu em outras localidades que eu atendia, em especial quando chegaram outros colegas que aceitaram essas condições e que atendiam 20 pacientes em no máximo 2 horas…!!! Também trabalhei em pronto socorro, onde me dava raiva, que toda vez que eu chegava não tinha a cadeira do paciente, e nunca fui eu , ou que eu saiba, os outros colegas médicos , que sumiam com essas cadeiras!!! Então jornalistas, colegas de outras profissões , população e outros formadores de opiniões , analisem bem a situação e esperem as eleições passar…vai ser um pouco tarde, mas…nós brasileiros já estamos acostumados a passar por isso né!!!padeceremos mais de 3 anos, e nas vésperas da eleição tudo se ageita e todos se esquecem do que passou e ficam felizes com as medidas emergenciais , os tapa buracos…!!!!triste…
Cara Márcia,
Todas as respostas que recebi, via e-mail (inclusive a do George), eu as repassei à editoria de Opinião, sugerindo que desse continuidade ao debate.
Agradeço a sua leitura e o seu comentário.
Plínio
Espero q sua critica faça jus a sua opinião em reconhecimento generalizado aos mais medicos em detrimento generalizado da profissão medica brasileira e quando precisar de um busque os serviços nesses q você considera dignos. E nós tornaremos mais publico esses conentario agressivos a toda nossa classe, em cuja ignorancia desconhece os valores da formação e dedicação de anos a uma profissão que ainda tenho total orgulho. Faremos do direito do não atendimento daqueles cuja relação medico-paciente não exista em situações não emergenciais… passando para os grupos de Endocrinologia e todos os demais medicos
Caro Paulo,
Sinceramente, não entendi: você está dizendo que “nós” (não sei em nome de quem v. fala) me recusaria como paciente em situação não-emergencial? Se estiver dentro do regulamento ético que regre a categoria de médicos (estou supondo que v. é médico e não outro profissional de saúde), você estará no seu direito.
Agradeço pela leitura e pelo comentário.
Plínio
Aguardo a resposta da editoria. Algum prazo?
Caro George,
Na edição deste sábado saíram três artigos sobre o assunto, em referência ao texto que escrevi:
“Medicina: sobre cadeiras amarradas”, da médica Márcia Alcântara: http://goo.gl/t6MdfK
“Ampliando a visão de saúde”, do médico Ferreira Filho (pres. da Ass. dos Médicos IJF): http://goo.gl/K7jHDV
“O que incomoda a corporação”, do agrônomo Marcus Vinícius Oliveira: http://goo.gl/2eYV3Q
Quanto ao e-mail que v. enviou, eu o encaminhei à editoria de Opinião (opiniao@opovo.com.br), tel. 3255 6104. Você pode comunicar-se diretamente com a editora Daniela Nogueira.
Agradeço,
Plínio
Prezadas/os,
fiz muito bem em voltar a ler o blog depois de tanto tempo. Opinião sensata a do autor sobre uma questão séria.
Só pra contribuir: minha esposa é médica e também critica a dispensa da revalidação, mas defende que se traga mais médicos do exterior bem como que se melhore e aumente a oferta de vagas de medicina nas universidades brasileiras. Aliás, esse é outro ponto onde a categoria de médicos é unânime em ser contra a abertura de novas vagas. Pelo menos é o que constato em meu ciclo de amizades.
Outra constatação é que a classe médica se acha, sim, especial, se comparada com demais profisisonais. Já começa por se chamarem doutores sem o serem. Acho que um pouco de auto-crítica faria bem a essa categoria tão importante.
Poderiam reclamar das residências de com jornada ILEGAL de 60h semanais, dos plantões exaustivos, de se usarem estudantes pra cobrir a falta de profissionais, enfim, de um milhão de coisas. Mas só se juntam mesmo qdo veem os altos salários (nem mais tão altos assim) ameaçados pelo aumento de profissionais no mercado. Lamentável.
Att.,
Caro Plínio,
Desculpe a minha leitura tardia, mas o seu relato me fez lembrar uma consulta recente que fiz a médico da vinculado à Prefeitura. O médico além de olhar pra mim uma única vez, quando adentrei na sala, ainda me interrompeu quando tentei argumentar alguma coisa relacionada ao meu caso…
Lamentavelmente isso ainda acontece…
A bem da verdade, devo ressaltar que já fui, algumas vezes, muito bem atendido no sistema de saúde pública…
É isso aí…
aro Plínio,
Desculpe a minha leitura tardia, mas o seu relato me fez lembrar uma consulta recente que fiz a médico da vinculado à Prefeitura. O médico além de olhar pra mim uma única vez, quando adentrei na sala, ainda me interrompeu quando tentei argumentar alguma coisa relacionada ao meu caso…
Lamentavelmente isso ainda acontece…
A bem da verdade, devo ressaltar que já fui, algumas vezes, muito bem atendido no sistema de saúde pública…
É isso aí…